Capítulo 41

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Vincent Beaumont

Certamente, este mundo é um fascínio aos meus olhos. Todos esses seres humanos andando lado a lado com seres distintos, sem nem mesmo ter ideia deste fato. Eu, como um bom observador e adepto ao mistério, amo a forma como posso apenas ignorar meu eu verdadeiro.

Eu poderia dizer que não é por causa do meu Guardião que não preciso mover um músculo de poder aqui, mas estaria mentindo. Este mundo é formado por ignorantes, é perfeito. Humanos são como os robôs que eles produzem, andando e agindo no automático que nem se dão conta da magia os rondando.

Meu clube é a prova disso. Todos se entorpecendo pela luxúria sem dar importância de onde está vindo tal sensação. Ignorantes, marionetes e, de certa forma, interessantes. São como bichinhos de estimação.

Encaro o belo rapaz ao meu lado que continuava a bater o pé no chão incessantemente. Elliot é um dos seres mais lindos e doces que já conheci em meus anos de vida, que não são poucos mesmo eu sendo o caçula de sete irmãos. O lobo alfa é um exímio caçador, seu narizinho fofo está sempre fungando, quase imperceptível para outros olhos.

Nunca me canso de admirar esses olhos verdes, mesmo que neste momento estejam passeando pelo salão procurando por olhos castanhos.

Eu nunca, em sã consciência, ficaria no meio de um laço de companhia. Não com toda bagagem de conhecimentos sobre esse assunto. O laço é, na realidade, quase inquebrável. É a magia circular mais forte e poderosa já existente nesse mundo, tão forte que manipulá-la tem seu preço. Que minha tia descanse em paz.

Contudo, me entrego ao poder que esse laço contém. Podem dizer que sou masoquista ao desejar algo que eu nunca poderei ter, porque eu sou mesmo. Aqui, me encontro em uma via de mão dupla onde um dos carros não pretende andar para encontrar o outro. Elliot está mais do que magoado, está instável emocionalmente e isso é o começo de algo muito ruim.

A rejeição de si mesmo.

Muitos podem afirmar que o laço de companhia é de fato um laço inquebrável mas, por experiência própria, eu sei que pode ser quebrado. Não como uma rejeição de alma gêmea, onde há sofrimento e anulação do desejo da vida, mas como um corte certeiro no laço invisível daqueles que não contém a visão. Impossível de ser refeito, nunca mais estarão ligados um ao outro em qualquer vida que possam ter. Sem volta, sem dor, sem sofrimento, apenas aquele que cortou o laço sofrerá com as consequências, é claro.

Elliot nunca chegaria a esse ponto, felizmente, ele é um homem rodeado de amor familiar e, obviamente, seu outro lado da alma só precisa aceitar sua condição. O que será difícil para alguém como seu companheiro, considerando a bagagem dele.

Elliot respira fundo e finalmente me encara nos olhos, abro meu melhor sorriso ainda dando minha total atenção a ele. Seus olhos brilham por um momento antes de suas bochechas avermelharem e ele voltar a atenção ao salão. Dessa vez, se aproximando mais de mim.

Suspiro ao dar atenção ao que deixou seus ombros tensos e me deparo com a sua alma agarrada a uma princesa fada, os dois deram um selinho rápido que deixou a mulher muito sorridente. Antes que eu pudesse dizer algo Elliot já havia deixado o local em direção da saída.

Respirei fundo não demorando para o seguir, assim que atravessei o salão olhei para a fada de relance dando uma piscadela para ela que logo engoliu em seco dando uma risadinha, o leão bufou franzindo o cenho para mim ao perceber que a fada não parecia mais interessada nele.

Charme ou magia? Eles nunca saberão.

Me aproximei do rapaz assim que cheguei do lado de fora na piscina. Ele permaneceu sentado na espreguiçadeira, mas me deu um olhar úmido e culpado. Apenas sorri, não era culpa dele.

Entre Ruínas (Vol. 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora