44 "Chance"

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— Trouxe o lanchinho de vocês. — Lúcio entra, trazendo consigo dois copos grandes em mãos.

Já haviam se passado semanas, meses, e ainda estávamos da mesma forma. Sendo mantidos presos por Lúcio e seus homens, na própria casa de Oliver. Ele não quis nos levar para outro lugar, achou arriscado tirar as correntes de Oliver, querendo ou não, ele o conhece muito bem, e sabe o tamanho da sua força.

— Esse é o seu, beba tudo. Quero o meu filho forte e saudável. — Pego o copo da sua mão, olhando aquele líquido vermelho, e o tomando aos poucos, sentindo o alívio instantâneo das minhas dores internas.

Eu me sinto fraca a cada dia que passa, minhas forças estão sendo roubadas de mim de dentro para fora, e a minha necessidade por sangue tem crescido muito mais.

— E esse é o seu. Sangue humano, do jeito que você gosta. — Colocando o de Oliver no chão, ele se afasta, saindo do quarto.

Oliver apanhava quase todos os dias de Lúcio no começo. Sinto que a cada dia que passa ele tem se transformado em outra coisa. A minha barriga estava enorme, não parava de crescer, e o ser que havia dentro de mim era bastante agitado.

— Oliver... Tem que ser forte... Não tome esse sangue, por favor. — Peço, tentando chamar a sua atenção. Ele já não falava mais, e sempre que se expressava era pra tentar atacar a mim ou a alguém que chegava.

E me ignorando completamente, ele avança sobre o copo, tomando todo aquele líquido espesso, jogando o copo longe assim que acaba, e tentando avançar em minha direção, como ele sempre fazia. Parece que Lúcio fazia de propósito, sempre o alimentando de sangue humano, mas em pequenas quantidades, só para ativar o seu instinto, e isso só piorava, já que nem alimentos sólidos ele consumia mais. E eu, sendo a fonte de sangue mais próxima dele, é claro que Oliver tentaria me atacar.

Sempre que ele tinha esses ataques, eu automaticamente colocava as mãos sobre a minha barriga, talvez por instinto, ou talvez seja porquê eu já esteja criando laços com essa criança. Eu sinto coisas que eu nunca senti antes, meus sentidos estão bem mais aguçados. Mas eu não poderia me enganar, criando falsas realidades, onde eu poderia criar esse filho com Oliver, como as famílias dos filmes que assistia. A realidade era bem pior, tinha que trabalhar com a hipótese de Oliver nunca mais se recuperar desse vício, e Lúcio levar essa criança com ele, assim como o próprio diz, e enfim, soltar Oliver para que ele me mate.

[•••]

— O que você acha, Mirelle? Ela está pronta? — Lúcio pergunta impaciente para a sua mulher que me avaliava.

— Já se passaram quatro meses, tenho quase certeza que ela está em trabalho de parto.

Eu já não aguentava tamanha dor que sentia, gritava em uma tentativa de extravasar toda aquela dor, ao mesmo tempo em que tinha a mulher de Lúcio posicionada no meio das minhas pernas, abrindo-as para que ela pudesse ver. Oliver, por outro lado, urrava enquanto tentava se soltar das correntes a todo custo.

— Eu estou vendo a cabeça... Faça força, Stella. — Mirelle me incentivava.

Não sei quais gritos eram mais altos, se os meus, ou os de Oliver. Quando achei que não pudesse aguentar mais, sinto uma última pressão, colocando força, e um alívio repentino. Ele havia nascido.

— É uma menina... Como é linda. — Ela falava, segurando a criança em seus braços.

Respiro fundo, tentando me manter acordada, por mais que sentisse o meu corpo  cada vez mais pesado, e minhas vistas ficarem turvas.

— Lúcio, ela está perdendo muito sangue...

— Não se preocupe com ela, querida. Já temos a nossa criança, então ela não será mais útil para nós, a não ser que você queira mais filhos.

— Por favor... — Sussurro, ao vê-la se levantar com a minha filha em seus braços. Eu nem ao menos pude ver o rosto dela.

— Droga! Saia agora daí, Mirelle! — Lúcio berra para a mulher que corre para o canto.

Oliver havia se soltado, ele havia quebrado as correntes, e agora, se encontrava na minha frente, com seus olhos negros e presas para fora. Eu já sabia o que aconteceria, eu repetia essa cena todos os dias em minha cabeça, e hoje, tudo isso se tornaria realidade. Estava perdendo muito sangue, podendo ver a poça se espalhar pelo chão. Esse seria o meu fim, e o homem que eu amei, acabaria com o meu sofrimento, me drenando até a morte

Abro os olhos novamente após sentir o meu rosto ser pressionado, e ao sentir aquele gosto, eu sabia que era o sangue de Oliver. Ele havia cortado o seu próprio braço, e agora, me forçava a tomar. Aos poucos pude sentir a minha fraqueza ir embora, e a minhas forças voltarem.

— Que cena mais patética! Morrerá como um covarde, Oliver. — Solto o braço de Oliver para olhar o homem atrás dele, sacar uma arma e apontar para ele.

Oliver ainda estava transformado, e agora, se preparava para atacar o casal à sua frente. Mas alguém tomou a vez, acertando a cabeça de Lúcio em cheio com um objeto pesado.

— Fuja para longe. Vocês tem pouco tempo antes que ele acorde, e acho bom se esconderem direito dessa vez, porque ele não descansará até achá-los. — Era Mirelle quem falava, caminhando em minha direção para me dar a minha filha.

Oliver ainda tentou avançar sobre Lúcio, mas Mirelle já estava com a posse de sua arma, e mirava para nós.

— Obrigada...

— Não faço isso por ele. — Ela aponta para Oliver. — Mas por ter me ajudado quando teve a chance. Agora vão!

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