CHIARA BIANCHIA manhã estava nublada, eu não sabia exatamente como enfrentar aquele dia. Já fazia doze dias desde que eu tinha pisado na faculdade, e tudo o que eu queria era poder voltar no tempo, para antes de tudo isso. O motor do carro da minha avó ressoava baixinho enquanto ela virava para mim.
— Chiara, se você precisar de qualquer coisa... qualquer coisa mesmo, me liga. Eu venho te buscar rapidinho, tá bem? - sorriu gentil.
— Pode deixar, nonna. Eu vou ficar bem. Obrigada por me trazer. - suspirei.
Ela tocou de leve minha mão, com aquele gesto de carinho que só avós sabem fazer. Um toque que dizia mais do que qualquer palavra.
— Lorenzo... Ele tá com a gente, Chiara. Não se esqueça disso. - sussurrou.
Eu desviei o olhar, piscando rápido para segurar as lágrimas. Não podia desabar agora, não ali, no estacionamento da faculdade. Eu precisava manter a compostura, por mim e por ele.
— Vou me lembrar... - sussurrei apertando sua mão de volta. Então soltei o cinto de segurança e saí do carro, sentindo o ar frio da manhã envolver meu corpo.
Assim que pisei fora, senti os olhares. Um arrepio percorreu minha espinha, como se cada olhar carregasse o peso das histórias e rumores que circulavam. O nome de Lorenzo estava em todos os lugares, espalhado por toda a Europa, e agora, as pessoas o associavam a mim. A notícia de sua morte, o surto de Manuel, minhas fotos, tudo estava nas manchetes. E eu era o elo vivo com aquela tragédia.
Andei apressada, mantendo a cabeça baixa enquanto atravessava o pátio da faculdade. Eu podia ouvir os sussurros, as vozes abafadas que se misturavam ao vento.
"É a irmã dele, não é?"
"Coitada, deve estar destruída..."
"Você viu o que saiu no jornal sobre o noivo dela? Falaram que ele queria matar aquele jogador de futebol famoso do Barcelona"
"Ela deve saber de tudo... Como será que ela tá lidando?"
Cada palavra era uma facada. Era como se estivessem dissecando a minha vida, como se a dor que eu sentia fosse algo público, acessível a todos. Senti o rosto esquentar, e o coração começou a bater mais rápido, quase dolorosamente. Eu queria gritar para que parassem, que me deixassem em paz, mas sabia que isso só atrairia ainda mais atenção.
Passei pelas portas da faculdade com o coração pesado, desejando desaparecer. A sala de aula estava mais adiante, e tudo o que eu queria era me enfiar em um canto e sumir, como se aquilo fosse possível. Minhas pernas, no entanto, pareciam de chumbo, cada passo uma luta contra a vontade de sair correndo dali.
Quando finalmente entrei na sala, os olhares se voltaram para mim novamente. Senti as costas formigarem, e mesmo sem olhar para ninguém diretamente, eu sabia que estavam me observando. Sussurros discretos continuavam, e o som ecoava na minha cabeça. Olhei em volta, procurando um lugar longe dos olhares inquisidores, mas parecia que não importava onde eu me sentasse, eles estariam lá.
Encontrei uma cadeira no fundo da sala, perto da janela. Talvez, ali, eu conseguisse algum alívio. Sentei-me tentando me esconder atrás do meu próprio corpo, como se pudesse me tornar invisível. Mas os sussurros e olhares continuavam, perfurando a fina camada de controle que eu tinha sobre mim mesma.
Peguei meu caderno e o coloquei sobre a mesa, os dedos tremendo levemente enquanto abria a capa. Minha respiração estava curta, como se o ar da sala estivesse sufocante. O professor ainda não tinha chegado, mas isso só piorava as coisas. O silêncio tenso da sala me cercava, amplificando cada sussurro, cada movimento ao meu redor. Não importava o quanto eu tentasse me concentrar, minha mente não conseguia escapar do fato de que eles sabiam. Todos eles.
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in the rain - pedri gonzález
FanfictionChiara está noiva de Manuel, um garoto imaturo com comportamento agressivo. Durante o almoço de noivado, Chiara conhece Pedro, um jogador de futebol que também é primo de seu noivo. Pedro e Chiara sentem uma conexão instantânea, e, à medida que pas...