37.

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PEDRO GONZÁLEZ

Estava deitado no chão da sala, focado nas minhas flexões, sentindo a pressão aumentar nos braços a cada repetição. A minha respiração sai pesada, e o suor escorre pela minha testa, mas o peso extra sobre minhas costas torna o exercício ainda mais desafiador.

Chiara está sentada em cima de mim, lixando as unhas despreocupadamente, com as pernas dobradas de um jeito casual. De vez em quando, ela olha para mim com um sorriso de canto, claramente se divertindo com a situação. Nilo está deitado na caminha dele, mordendo uma bolinha com toda a animação. Ele sempre fica agitado quando estamos juntos, mas hoje está tranquilo.

— Quantas flexões já foram? - Chiara pergunta sem desviar o olhar das unhas.

— Sessenta. - respondo ofegante e ela ri.

—Acho que você consegue mais. Vai lá, bonitão. - me olhou.

Eu sorri de volta forçando o corpo a continuar.

— Quando você sair para o treino, eu vou vazar também. - ela comenta do nada, o tom de voz ainda leve, mas com um toque de seriedade. — Vou para casa estudar. Vou começar meu estágio no hospital veterinário semana que vem, então vou ter menos tempo livre.

Paro por um segundo, absorvendo a informação. Sabia que esse momento ia chegar, mas agora que está tão perto, bate diferente. Chiara sempre esteve ao meu lado, disponível, como se o tempo fosse algo infinito entre a gente.

— Tá tudo bem. - digo tentando manter a voz firme enquanto faço mais uma flexão. — A gente ainda vai ter o final de semana pra se ver.

— É. - ela responde, mas dá para perceber que está pensativa. — Só que não vai ser mais como antes. A faculdade agora ocupa meu tempo, e agora o estágio... vai ser diferente.

Faço mais três flexões e finalmente paro, exausto.

— A gente vai dar um jeito. - afirmo enquanto ela se levanta devagar das minhas costas, indo até o sofá com a mesma calma de antes. — Sempre damos. Literalmente nos encontrávamos as escondidas.

Chiara se acomoda no sofá, ainda concentrada em lixar as unhas, mas com uma expressão um pouco distante. Levanto do chão e pego uma toalha para secar o suor.

— Vou te levar pra casa. - falei.

Ela concorda com um aceno de cabeça, sem muito entusiasmo. Em silêncio, nos preparamos para sair. Deixamos um beijinho em Nilo que foi deitar para dormir e saímos de casa indo até o carro.

O caminho até a casa dela é tranquilo, com o rádio tocando baixinho, mas sem muita conversa entre nós. Não é um silêncio incômodo, mas também não é o silêncio confortável de sempre. Algo está no ar, como se ambos soubéssemos que a rotina que tínhamos não vai durar muito mais.

Quando chegamos à casa dela, Chiara se vira para mim e me dá um beijo rápido.

— Obrigada por me trazer. - ela diz saindo do carro. — Depois você me manda mensagem?

— Claro. - respondo. Ela acena, e eu fico ali, vendo-a entrar na casa. Quando ela fecha a porta, algo dentro de mim fica um pouco mais pesado.

Eu deveria ir para o treino agora. Já estou atrasado, na verdade. Mas eu precisava resolver uma coisa antes de ir para o treino. Chego ao restaurante, estaciono e entro. Sento-me em uma mesa no fundo, afastado dos outros, e fico olhando para fora da janela, esperando. Alguns minutos se passam até que a porta da lanchonete se abre, e eu a vejo entrar.

Isabela.

A garota observou o local e assim que me vê, ela caminha até mim com aquele sorriso de sempre, o mesmo que antes era capaz de me desmontar, mas que agora não me causa nada além de irritação. Continuei sério, meus olhos fixos nela, enquanto ela se aproxima.

in the rain - pedri gonzález Onde histórias criam vida. Descubra agora