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CHIARA BIANCHI

O céu estava cinza naquela manhã, como se refletisse o peso no meu peito. O trajeto até o hospital é uma rotina dolorosa. As ruas estavam relativamente calmas para o horário, o que me dava tempo demais para pensar. Minha mente se dividia entre o estado do meu pai, Manuel e Pedro.
Ainda me surpreendia o fato de que minha vida pessoal se tornou tão complicada. Mas, naquele momento, meu foco precisava ser meu pai. Ele sempre foi meu pilar, o homem que eu via como inquebrável, mas agora se encontrava frágil.

Passei pela recepção, cumprimentando a recepcionista que já me conhecia pelo nome. Ela me lançou um sorriso cansado, como se entendesse a rotina que me trouxe ali tantas vezes nos últimos dias.

Ao pegar o elevador, senti meu estômago revirar com a mistura de medo e esperança. A cada visita, eu me perguntava se haveria alguma mudança. Algo diferente, bom ou ruim. Na maioria das vezes, a resposta era a mesma: estabilidade. Era uma palavra que eu aprendi a detestar, pois significava que ele não estava melhorando, mas também não estava piorando. Era como se estivesse preso no limbo, e eu, junto com ele.

Ele só teve uma melhora e já estava no hospital há doze dias.

Quando as portas do elevador se abriram no andar de internação, o cheiro de desinfetante misturado com aquele odor quase imperceptível de doenças crônicas me atingiu de novo. Caminhei pelos corredores, já familiarizada com o caminho até o quarto onde meu pai estava internado.

Sabia que minha mãe estaria lá, como sempre, pois agora praticamente morava naquele hospital. Ela se recusava a deixar o lado dele, alegando que se ele acordasse sem ela por perto, poderia se sentir abandonado. Eu sabia que ela estava se torturando, mas não tinha como convencê-la do contrário.

Ao abrir a porta, encontrei minha mãe sentada na mesma cadeira desconfortável ao lado da cama do meu pai. Ela estava mais magra, os ombros curvados de exaustão, e o olhar perdido em algum ponto da parede à frente. Quando me viu, tentou melhorar a postura e a feição, mas o cansaço estampado no rosto dela tornou o gesto doloroso de assistir.

— Oi, mãe. -  sussurrei, tentando não acordar meu pai. Ele estava dormindo, como passava a maior parte do tempo. Eu não sabia se era o efeito dos remédios ou apenas o cansaço da luta constante.

— Chiara... - ela respondeu, a voz dela soando frágil, como se tivesse passado horas sem falar. Ela se levantou e me deu um abraço curto, o que era surpreendente vindo dela. O toque dela parecia mais desesperado que reconfortante, como se ela precisasse de algo para se segurar.

— Como ele está? - perguntei embora já soubesse a resposta.

Ela deu de ombros, o movimento pequeno e cansado.

— Estável. Os médicos não dizem muita coisa. Parece que estamos sempre esperando, sempre esperando... - a voz dela falhou, e vi seus olhos marejarem.

Eu entendi o que ela queria dizer.

Olhei para o meu pai. Ele parecia tão pequeno naquela cama, tão diferente do homem que eu cresci admirando. As linhas de expressão em seu rosto estavam mais profundas, o cabelo grisalho mais ralo, e o monitor ao lado dele fazia aquele som rítmico que agora era uma parte constante da minha vida. Cada bip era uma confirmação de que ele ainda estava ali, mas também um lembrete de sua fragilidade.

— Ele vai melhorar, mãe. - disse, mais para mim mesma do que para ela.

Ela assentiu, mas o olhar dela não demonstrava muita esperança. Sabíamos que o caminho para a recuperação era longo, e às vezes eu me pegava pensando se ele realmente conseguiria melhorar.

in the rain - pedri gonzález Onde histórias criam vida. Descubra agora