in the rain - pedri gonzález

47.

STARXDZ

Há vinte quatro anos, em uma cidade charmosa e antiga como Lyon, na França, uma jovem de vinte anos, chamada Celine, vivia uma vida simples, mas repleta de sonhos que, muitas vezes, eram sufocados pela dura realidade. Ela trabalhava como garçonete em um dos salões de festas mais chiques e famosos da cidade. O salão era o tipo de lugar que exalava luxo e elegância, mas para Celine, era apenas um emprego que a mantinha de pé, tentando sobreviver em meio à pobreza que marcava sua vida e sua família.

Naquela noite, depois de horas exaustivas, Celine voltou para casa tarde, como de costume. Seu corpo doía, os pés latejavam, e a única coisa que ela queria era um banho quente e sua cama. Mas, assim que abriu a porta da pequena casa que dividia com a mãe e o pai, o ar pesado da tensão familiar a envolveu.

— Você chegou tarde de novo! - a voz da mãe ecoou pela sala apertada, carregada de reprovação. A mulher estava sentada à mesa, os braços cruzados, as sobrancelhas franzidas.

Celine suspirou, fechando a porta atrás de si. Sabia que aquela discussão estava por vir.

— Mãe, é o meu trabalho. Eu não posso simplesmente largar tudo e ir embora na hora que quiser. Eles precisam de mim lá. - tentou se explicar, jogando a bolsa em cima de uma cadeira.

Mas a mãe de Celine, com o rosto marcado pela vida difícil, não parecia se importar com explicações.

— Trabalho, trabalho... Você deveria aproveitar essa oportunidade para conseguir algo melhor. - o tom de sua mãe era incisivo. — Um bom casamento com um homem rico seria a nossa saída. Veja bem, Celine, você é jovem e bonita. Presta atenção nisso!

A jovem suspirou mais uma vez, sentindo a raiva subir pelo corpo. Não era a primeira vez que ouvia essa história. Sempre a mesma conversa de encontrar um homem que pudesse tirá-las da pobreza. Mas Celine queria mais. Não queria ser apenas a esposa de alguém. Queria fazer algo por si mesma, ser casar por amor.

— Eu não quero isso, mãe. - retrucou subindo rapidamente as escadas em direção ao quarto.

Ao entrar no pequeno espaço que era só dela, sentou-se na cama, exausta, com os pensamentos girando em sua cabeça. Aquilo não era vida, pensava. Trabalhar o dia todo, voltar para casa e ouvir a mesma ladainha... Não, ela queria mais. Queria sonhar.

[...]

Celine chegou em casa mais cedo do trabalho, exausta e com o desejo de se trancar em seu quarto. Quando entrou, o cheiro forte de bebida a atingiu antes mesmo de ver seu pai no sofá, com uma garrafa de cerveja ao lado e os olhos fixos na televisão. Ele a notou de relance e, com a voz arrastada pelo álcool, fez a pergunta de sempre:

— Como foi o trabalho, Celine?

— Normal. - respondeu secamente, já indo em direção ao quarto, onde se sentia segura.

Antes que pudesse dar mais um passo, a voz do pai a segurou no lugar, mais firme desta vez.

— Fica aqui! Você só fica trancada nesse quarto. Senta aí, vamos conversar.

Celine suspirou, a exaustão pesando em seus ombros.

— Pai, eu tô cansada.

— Cansada de quê? - ele levantou a voz, batendo a mão no braço do sofá. — Cansada de quê, Celine? Você nem fala comigo! Só entra nesse quarto e some! Como se essa casa não fosse sua também!

Ela parou, virando-se de volta para encará-lo.

— Eu não quero brigar agora, pai. Eu só preciso descansar. Foi um dia difícil. - bufou.