CHIARA BIANCHIUm mês se passou desde o dia em que conheci a família de Pedro. Cada detalhe daquele dia parecia fresco na minha memória, mas a dor, por incrível que pareça, começava a se dissipar. No início, o luto pela perda de Lorenzo era esmagador, mas agora, essa dor parecia menos opressiva, como se meu corpo estivesse lentamente se acostumando ao vazio que ele deixou. Ainda sentia a ausência dele, especialmente nas pequenas coisas: ao passar pela porta do quarto dele, ao me sentar para o jantar e perceber o celular desligado. Mas eu tinha aprendido a respirar novamente, mesmo em meio à tristeza.
Meu pai também estava melhor. Ele havia finalmente saído da cadeira de rodas, e ver a sua recuperação trazia uma esperança nova para mim. Ele parecia mais disposto, mais forte. Até tinha começado a sair mais, a retomar a rotina que a doença havia interrompido.
Estava animado, planejando pequenas viagens e tentando recuperar o tempo perdido. Minha avó ainda estava morando conosco, trazendo aquela presença firme e silenciosa que, de alguma forma, equilibrava a tensão que eu ainda sentia em casa.
Minha mãe... Bom, essa era outra história. Não conseguia perdoá-la. Não depois de tudo. Depois do casamento fracassado com Manuel, depois de tudo o que ela me forçou a suportar, ainda era difícil olhá-la nos olhos e não sentir uma onda de raiva, de mágoa. Ela tinha insistido tanto naquele casamento, cegada por interesses e também, ela havia visto uma forma de se livrar de mim. Ela falava comigo, às vezes, mas nossas conversas eram curtas, quase frias. Ela sabia que eu estava evitando-a, e mesmo assim parecia não saber como consertar as coisas.
E então havia Manuel. As cartas dele... Elas não paravam. Toda semana, uma nova carta chegava. Não importava quantas vezes eu as rasgasse, ignorasse, queimasse. Ele continuava a escrever, como se aquelas palavras pudessem de alguma forma mudar o passado, como se eu estivesse disposta a ouvi-lo. A última carta que chegou foi o estopim. Eu não aguentava mais. Não conseguia mais conviver com aquele fantasma me assombrando, tentando se justificar. Hoje seria o dia em que eu daria um fim nisso.
Desci as escadas naquela manhã, sentindo o peso da decisão que tinha tomado. Ao entrar na cozinha, minha avó já estava lá, preparando o café da manhã. Meu pai estava sentado à mesa, desenhando algo em seu caderno de criações como de costume, e minha mãe, em pé perto da pia, mal levantou os olhos quando entrei.
— Bom dia. - murmurei sentando-me à mesa.
— Bom dia, querida. - respondeu minha avó, com sua voz suave e firme, como se nada pudesse abalar aquela mulher.
Eu me servi de uma fatia de pão e coloquei um pouco de manteiga, tentando me concentrar na rotina comum para acalmar meus nervos. Meu pai fechou o caderno e olhou para mim, uma expressão curiosa no rosto.
— Vai sair hoje? - ele perguntou percebendo minha inquietação.
— Vou. - respondi evitando olhá-lo diretamente.
— Com o Pedro?
— Não, preciso resolver uma coisa. - sussurrei.
— Posso te levar. - ele ofereceu prontamente.
— Não precisa, pai. Eu pego um táxi. - o olhei rapidamente. — Não vou demorar.
Ele hesitou, mas assentiu, voltando a abrir o caderno. Minha mãe, até então silenciosa, olhou para mim por um breve segundo, mas nada disse. Havia tanto não dito entre nós que o silêncio se tornava a única forma de comunicação aceitável.
Assim que terminei o café, levantei-me e dei um beijo no topo da cabeça da minha avó e de meu pai.— Não demoro. - murmurei antes de sair.
Suspirei pegando minha bolsa e saí de casa chamando um táxi que, rapidamente, chegou. O caminho até a prisão foi mais rápido do que eu esperava. O táxi parecia cortar as ruas para que eu chegasse logo e, antes que eu percebesse, já estava na frente do enorme portão de metal que guardava Manuel. Um arrepio percorreu minha espinha. Tive que respirar fundo algumas vezes antes de sair do carro e seguir em frente.
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in the rain - pedri gonzález
FanfictionChiara está noiva de Manuel, um garoto imaturo com comportamento agressivo. Durante o almoço de noivado, Chiara conhece Pedro, um jogador de futebol que também é primo de seu noivo. Pedro e Chiara sentem uma conexão instantânea, e, à medida que pas...