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PEDRO GONZÁLEZ

Estava escovando os dentes, encarando meu reflexo no espelho. Não sabia por quê, mas sempre que eu estava animado, minha mente parecia ir a mil. Era como se eu precisasse planejar todos os detalhes, até os menores gestos. E hoje, precisava mesmo: queria que tudo fosse perfeito para Chiara. O hoje dia não era fácil para a família dela, e eu sabia que ela precisava de algo que a distraísse, algo que a fizesse sorrir, nem que fosse um pouquinho.

Hoje fazia um ano da morte de Lorenzo.

Cuspi a espuma e enxaguei a boca, sentindo o frescor da menta. Passei a mão pelo cabelo, arrumando as mechas desalinhadas
e respirei fundo. Estava pronto.

Assim que saí do banheiro, minha mãe apareceu, me lançando um sorriso leve.

— Já está pronto?

— Sim. - respondi, não conseguindo conter a animação. — Estou doido para dar um cheirinho no meu filho. Estou com saudades.

— Você precisa vir mais aqui com ele também. - ela riu.

— Vou trazer ele hoje mesmo. - expliquei!me empolgando. — Mas antes vou passar naquela casa que estou de olho para morar com a Chiara. Ela vai dormir aqui, assim o Lorenzo fica mais tempo com vocês também.

Ela assentiu e por um momento ficamos em silêncio, até que soltou um suspiro pesado.

— Hoje faz um ano, né? - murmurou baixo.

Fiz que sim com a cabeça sentindo meu peito apertar.

— Passou rápido demais. - sussurrei.

— Muita coisa mudou nesse ano, Pedro... - disse ela, me olhando com um brilho melancólico nos olhos.

— Nem consigo imaginar como eu era há um ano... Não imaginava que ia estar assim agora, com um filho de Chiara.

— E eu não imaginava que você ia ficar com a Chiara.

Ri de novo, nervoso, passando a mão pela nuca.

— Também não. - menti.

Óbvio que imaginava.

Abracei minha mãe antes de sair. As coisas estavam mudando mais rápido do que eu podia absorver.

[...]

Quando cheguei, Emily foi a primeira a me receber. Ela sorriu e fez um aceno com a cabeça.

— Bom dia, Pedro.

— Bom dia, Emily! - respondi com um sorriso indo direto para a sala.

Chiara estava deitada no sofá, dormindo com a respiração pesada e tranquila. Lorenzo estava acordado, aninhado contra ela. Sorri para ele, me abaixando e pegando-o com cuidado para não acordar Chiara. Mas, assim que o levantei, ela despertou sobressaltada, abrindo os olhos em um susto.

— Calma, sou eu. - digo acariciando seu rosto. Ela relaxou ao reconhecer minha voz, respirando fundo e se ajeitando no sofá.

— Desculpa, pensei que o Lorenzo poderia ter caído... - bocejou ainda sonolenta.

Beijei a testa de Lorenzo sentindo o calor e o perfume suave dele. Ele já havia uma semana, tava passando rápido.

— Estava com saudade dele... - murmurei sem tirar os olhos do meu filho, enquanto Chiara nos observava. — Está pronta para irmos ver a casa? - perguntei a ela ansioso.

— Sim. - respondeu se levantando e pegando a bolsa com um sorriso pequeno, mas genuíno.

Olhando para ela, notei que ela estava bem tranquila, parecia não se lembrar de que data era hoje. Isso era bom, não queria que ela ficasse triste hoje.

in the rain - pedri gonzález Onde histórias criam vida. Descubra agora