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CHIARA BIANCHI

O calor da tarde parecia aumentar à medida que o sol avançava sobre o quintal, iluminando cada cantinho da grama já um pouco desgastada pelas aventuras constantes de Nilo.

Nilo estava inquieto. Suas patas se moviam como se ele estivesse ansioso para fugir a qualquer momento. Seus grandes olhos escuros me observavam com uma mistura de curiosidade e desconfiança enquanto eu esfregava o shampoo em sua pelagem grossa e úmida.

Eu joguei mais água sobre suas costas e ele deu uma sacudida súbita, me pegando completamente de surpresa. Antes que eu pudesse reagir, senti a água espirrando em mim, encharcando minha roupa por completo. Um frio instantâneo percorreu meu corpo e, por um breve momento, pensei em como deveria ter previsto isso.

— Nilo! - reclamei o olhando.

Ele não se contentou apenas em me molhar. Assim que terminou de se sacudir, deu um pulo repentino e disparou pelo quintal, balançando o rabo, mais feliz do que deveria estar. Eu o segui com o olhar, ainda segurando a mangueira na mão, completamente molhada. O sabão que havia ficado no meu cabelo escorria pelo meu rosto, e tudo o que eu podia fazer era respirar fundo e evitar qualquer frustração.

— Você tinha que correr, né? - murmurei para mim mesma, me perguntando o que eu havia feito para merecer aquele caos. Nilo desapareceu atrás de algumas plantas, como se soubesse que estava fora do meu alcance temporariamente.

Ouvi uma risada baixa e familiar vindo de trás de mim.

— Eu te falei que seria mais fácil levar ele pro pet shop. Lá eles sabem controlar esse doido. - Pedro disse encostado no batente da porta que dava para o quintal, os braços cruzados e um sorriso estampado no rosto. Ele me observava com aquela expressão de quem tinha previsto exatamente o que ia acontecer.

Eu limpei o sabão que estava escorrendo pela minha testa com o dorso da mão, me virando para encará-lo, tentando manter a compostura.

— Ele precisa aprender a tomar banho aqui em casa. - respondi com firmeza. — Não pode depender do pet shop toda vez.

Pedro balançou a cabeça ainda sorrindo.

— Sim, mas você não acha que isso está um pouquinho fora de controle? - ele disse apontando com o queixo na direção de Nilo, que agora cavava perto de uma das plantas da minha mãe, provavelmente destruindo todo o trabalho dela. — Você está toda molhada e ele está mais sujo do que quando começou.

Eu respirei fundo de novo. Ele não estava totalmente errado, mas eu não ia admitir isso tão facilmente. Ainda assim, eu não estava disposta a desistir da minha ideia. Nilo tinha que aprender a obedecer, e eu era teimosa o suficiente para insistir até que isso acontecesse.

— Eu dou um jeito nele. - falei ainda determinada, mesmo sabendo que provavelmente isso significaria mais uma rodada de água e sabão.

Pedro deu mais alguns passos na minha direção, tirando as mãos dos bolsos.

— Eu cuido do resto do banho e seco ele depois. Pode ir tomar um banho você também. - disse ele, com sua voz agora mais suave, como se estivesse me dando um descanso merecido.

Por um segundo, eu hesitei. A ideia de me livrar do sabão e da água era tentadora, especialmente porque eu estava começando a sentir o desconforto da roupa molhada colada ao meu corpo. Mas parte de mim queria terminar o que havia começado. Contudo, olhar para Nilo, que agora mordia a borda de uma das cadeiras do jardim, me fez reconsiderar.

— Tem certeza que consegue lidar com ele? - perguntei tentando esconder o alívio que se insinuava em minha voz.

— Confia em mim. Eu seco ele enquanto você toma um banho decente. - ele respondeu sorrindo de um jeito que me fez sentir confiança em suas palavras.

in the rain - pedri gonzález Onde histórias criam vida. Descubra agora