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CHIARA BIANCHI

Os últimos quinze dias se arrastaram como um interminável ciclo de confusão e silêncio. Desde a briga com Pedro, eu ainda não tinha conseguido encontrar forças para falar com ele. Tudo estava tão complicado. Ele veio até minha casa algumas vezes, mas eu simplesmente não conseguia encará-lo. Mandava ele embora antes mesmo de abrir a porta. Eu não estava pronta.

Pedro chegava até a levar o Nilo para minha casa, então eu abria a porta, pegava Nilo e ficava com ele. Depois Pedro vinha novamente tentar conversar, então eu devolvia o pequeno e continuava quieta.

Hoje, no entanto, não era dia para pensar nisso. Agora, o estágio no hospital veterinário havia se tornado uma fuga que eu abraçava com tudo o que tinha. O cheiro de medicamentos, o barulho suave dos equipamentos, o carinho inocente dos filhotes que estavam sob meus cuidados... Era aqui, nesse ambiente, que eu encontrava um pouco de paz.

Eu estava encarregada de cuidar dos filhotes.

Caminhava pelos corredores, anotando algumas coisas sobre o caso de Chito, um filhotinho de cachorro internado havia dois dias. Ele tinha chegado debilitado, com sinais de desnutrição e uma infecção severa, mas estava se recuperando. Eu segurava a prancheta com as anotações sobre sua evolução, concentrada nos detalhes enquanto fazia os ajustes necessários.

Enquanto rabiscava alguns números na prancheta e pensava na próxima medicação de Chito, não vi quando esbarrei em alguém. O choque fez a prancheta escorregar das minhas mãos, os papéis voaram, e o som da madeira batendo no chão ecoou pelo corredor.

— Desculpa! - murmurei me agachando rapidamente para pegar a prancheta.

Antes que eu pudesse alcançá-la, alguém a pegou. Quando levantei os olhos, meus pensamentos deram um nó. O rapaz à minha frente, segurando a prancheta, tinha um rosto familiar. Eu tinha certeza de que o conhecia, mas não conseguia me lembrar de onde.

— Aqui está. - disse ele entregando-me a prancheta com um sorriso suave.

— Obrigada... - respondi sentindo o peso do momento estranho. — Eu te conheço de algum lugar? - perguntei sem pensar, a curiosidade escapando antes que eu pudesse me controlar.

Ele me olhou por um segundo, e parecia tão surpreso quanto eu.

— Engraçado você dizer isso. Sinto que já nos vimos antes também. - ele deu um meio sorriso. — Qual é o seu nome?

— Chiara. - respondi sorrindo de volta. — E o seu?

— Alejandro. - ele disse estendendo a mão. — Um nome tão lindo quanto a dona.

— Muito prazer, Alejandro. Você está procurando alguma coisa por aqui? - o observei.

Ele balançou a cabeça ainda com aquele sorriso simpático.

— Na verdade, eu queria marcar uma consulta para o meu cachorro. Ele não anda muito bem ultimamente. - mostrou seu cachorro que estava na coleira.

Ele era um Rottweiler adulto, estava com um olhar meio tristonho.

— Ah, coitadinho. - meu tom ficou mais sério e eu me aproximei do cachorro estendendo a minha mão para ele cheira.

— Você poderia me ajudar?

— Adoraria, mas eu cuido mais da ala dos filhotes. A ala dos cães adultos fica do outro lado do hospital. Se quiser, posso te acompanhar até lá. - sugeri.

— Claro, eu agradeço. - ele respondeu.

Enquanto caminhávamos pelo corredor, o som dos nossos passos se misturava com o ritmo calmo do hospital. Não falamos muito, mas senti uma certa leveza na companhia dele. Quando chegamos à ala dos adultos, me despedi.

in the rain - pedri gonzález Onde histórias criam vida. Descubra agora