39.

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PEDRO GONZÁLEZ

Sentado no sofá da casa de Ferran, eu sentia como se estivesse afundando no couro gasto, sem vontade de sair dali tão cedo. Meus olhos estavam fixos na televisão, mas não fazia diferença o que estivesse passando. Na minha cabeça, só um eco, uma sensação de vazio sem fim.

À minha direita, Ferran e Olivia riam baixo, trocando chamegos no sofá ao lado. Pareciam em um mundo completamente diferente do meu, cheio de pequenos gestos carinhosos, enquanto eu me isolava ainda mais na minha solidão. Era difícil suportar aquilo, mas eu me agarrava à televisão como se fosse um escudo. Eu não os culpava, afinal, fui eu quem apareci aleatoriamente. Não queria pensar, não queria sentir. O barulho de fundo me distraía, mas nem isso me oferecia algum conforto.

De repente, Olivia se levantou esticando os braços preguiçosamente.

— Eu preciso ir para casa. - disse ela com um sorriso nos lábios.

— Graças a Deus. - soltei sem nem pensar.

O silêncio que seguiu foi imediato. Os dois me olharam com os olhos arregalados, surpresos, como se eu tivesse dito algo incompreensível. Eu podia sentir o peso do olhar de ambos, e, naquele instante, percebi o quão idiota aquilo tinha soado. Merda.

— Desculpa. - falei suspirando enquanto esfregava o rosto com as mãos. — É só o mau humor de alguém que acabou de terminar. Eu não queria te ofender, Liv.

Olivia me lançou um olhar compreensivo e assentiu, como se entendesse o que eu estava passando.

— Tá tudo bem... - ela disse suavemente, antes de desaparecer no corredor que levava ao quarto de Ferran, para pegar suas coisas.

Ferran permaneceu ali comigo, sentado, agora um pouco mais quieto. Ele olhou de canto de olho para mim, como quem avalia o estado de um amigo que está à beira de um colapso. Eu sabia que ele queria dizer algo, e esperei, com o coração apertado, porque, por mais que eu odiasse falar sobre isso, sabia que ele estava tentando ajudar.

— Vai ficar tudo bem, cara. - falou suspirando. — Essas coisas demoram para curar, mas eventualmente você vai se sentir melhor.

— Eu me sinto um lixo. - respondi ainda olhando fixamente para a televisão. — Eu queria voltar no tempo e mudar tudo.

— A gente sempre quer isso quando as coisas dão errado, mas você sabe que não dá para voltar atrás. O que dá para fazer agora é respeitar o tempo. E, quem sabe, um dia você consiga reconquistar a confiança dela. - ele sorriu de leve.

Olhei para ele por um segundo, e as palavras de Ferran, por mais simples que fossem, atingiram fundo. Ele estava certo. Não havia como desfazer o passado, mas talvez ainda houvesse algum caminho para reconciliação. Mesmo que isso estivesse distante, a ideia de recomeçar um dia me dava um fio de esperança.

— Você tem razão, apesar de ser você. - murmurei soltando um suspiro. — Só preciso me lembrar disso.

Foi nesse momento que Olivia apareceu de volta na sala, seus olhos encontrando os meus de imediato. Havia algo estranho no modo como ela se movia, uma espécie de hesitação, como se estivesse tramando alguma coisa. Eu a observei por um momento, confuso. Ferran também pareceu notar o comportamento dela, e olhou para mim, claramente desconfiado.

— Eu sinto muito pelo término com a Chiara. - disse ela de repente, com sua voz surpreendentemente suave. Aquilo me pegou de surpresa.

— Obrigado. - respondi ainda mais desconfiado agora. Havia algo em sua postura que me deixava inquieto. Ela estava com as mãos para trás, e isso me fez franzir a testa. — Está tudo bem?

in the rain - pedri gonzález Onde histórias criam vida. Descubra agora