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CHIARA BIANCHI

Eu ajeitei o vestido azul claro que caía suavemente sobre meu corpo, ajustando a alça em meu ombro enquanto descia as escadas. Cada passo era lento e cuidadoso. A casa estava estranhamente silenciosa, exceto pelo som dos meus sapatos tocando os degraus de madeira. O dia tinha sido longo, e meu corpo estava exausto, mas hoje à noite era uma chance de escapar, nem que fosse apenas por algumas horas.

No final da escada, vejo Manuel de pé, de braços cruzados, com o rosto fechado em uma expressão de desconfiança que, infelizmente, se tornou comum. Ele me observava com olhos penetrantes, e eu podia sentir a tensão se formando no ar antes mesmo de ele abrir a boca.

— Para onde você pensa que vai? - a voz dele ecoou pela sala, carregada de desconfiança e controle, como se eu precisasse de sua permissão para respirar.

Eu segurei o corrimão com força, sentindo a raiva se misturar à exaustão. Respirei fundo, tentando manter a calma. Mas antes que eu pudesse responder, uma voz familiar surgiu atrás de mim.

— Ela vai sair comigo. - disse Lorenzo, casualmente, enquanto caminhava até ficar ao meu lado. Ele estava despreocupado, como sempre, e me lançou um olhar que dizia para eu não me preocupar. — Algum problema com isso, Manuel?

Manuel apertou os olhos, claramente irritado com a presença de Lorenzo. Ele sempre odiou o fato de que meu irmão fosse tão difícil de controlar. Diferente de mim, Lorenzo nunca abaixava a cabeça, ele era tudo o que eu queria ser, mas ainda não conseguia.

— Não acho que seja indicado Chiara sair agora. - disse Manuel, com uma falsa preocupação na voz, mas todos na sala sabiam que ele só queria me manter sob seu controle. — Especialmente com a situação do pai de vocês no hospital.

Senti uma pontada no peito ao ouvir a menção do nosso pai. Eu sabia que Manuel usaria isso contra mim. Mas antes que eu pudesse ser consumida pela culpa, Lorenzo respondeu com um riso debochado.

— Você não tem o direito de decidir o que é indicado para a minha irmã, Manuel. - Lorenzo rebateu, cruzando os braços. — E, para ser honesto, ela precisa de um tempo longe de você. E quanto ao nosso pai... não é você quem vai decidir como lidamos com isso.

Manuel deu um passo à frente, aproximando-se de Lorenzo, como se estivesse tentando intimidá-lo.

—Eu sou o noivo dela, Lorenzo. Tenho o direito de me preocupar.

Lorenzo riu novamente, dessa vez mais alto, quase desdenhoso.

— Noivo? Não me faça rir, Manuel. Todo mundo sabe o que você é de verdade. Preocupação não é o que te move. É controle. - o olhou de cima a baixo.

Eu observei a cena, meu coração disparado. Lorenzo sempre teve esse jeito provocador, mas havia algo mais nessa noite. Ele estava cansado de ver Manuel me controlar. E, de repente, o clima ficou pesado demais para suportar.

Manuel avançou mais um passo, ficando perigosamente perto de Lorenzo.

— Você está passando dos limites. - ele sibilou.

Eu pensei que Lorenzo ia recuar, mas ao invés disso, ele simplesmente sorriu, um sorriso que me deixou inquieta. E, em um movimento rápido, ele fechou o punho e desferiu um soco direto no olho de Manuel.

O barulho do impacto ecoou pela sala. O corpo de Manuel cambaleou para trás, e ele levou a mão ao rosto, surpreso e furioso ao mesmo tempo. Eu engasguei, horrorizada com o que acabara de acontecer, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Lorenzo apenas deu de ombros, como se tivesse sido um simples gesto sem importância.

in the rain - pedri gonzález Onde histórias criam vida. Descubra agora