23.

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PEDRO GONZÁLEZ

Arqueei a sobrancelha analisando a variedade de petiscos para filhotes na minha frente. Ao meu lado, no carrinho de compras, Nilo estava deitado na sua caminha escolhida por mim e observava tudo com olhos arregalados e curiosos, espiando por cima das bordas de sua caminha. Ele parecia fascinado com o ambiente do pet shop, e eu, em silêncio, me perguntava como seria o mundo visto pelos olhos dele.

Empurrei o carrinho devagar, sem pressa indo direto para a seção de brinquedo. Nilo se levantou e tentou sair da caminha quando parei em frente ao display colorido de brinquedos de pelúcia e bolas de borracha.

— Calma, rapazinho. - murmurei, estendendo a mão para acariciar sua cabeça. Ele se acomodou novamente, mas não tirou os olhos dos brinquedos pendurados nas prateleiras. Peguei uma azul vibrante e sacudi levemente na frente dele. Ele inclinou a cabeça para o lado, como se tentasse entender o que era.

— Gostou, Nilo? Acho que essa vai ser a sua favorita. - sorri para ele.

Coloquei a bolinha no carrinho, junto com um osso de borracha que parecia durável o suficiente para resistir àquela boca cheia de dentes pequenos e afiados. Caminhei mais alguns passos e vi um brinquedo que soltava um chiado estridente quando apertado. Pensei em pegá-lo também, mas então imaginei o som irritante enchendo o apartamento dia e noite.

— Esse não. - resmunguei e escutei meu celular tocar em meu bolso. Peguei vendo que era Lorenzo ligando, arqueei a sobrancelha e atendi.

Você realmente ama minha irmã? - falou de primeira.

— Bom dia. - desejei primeiramente. — Por que esse questionamento agora?

Eu tô querendo saber, né.

Eu não andando falando com ela.

Por que?

— Ela falou que não quer mais saber de mim e quer focar no casamento dela. - murmurei respirando fundo.

Houve uma pausa do outro lado da linha, e eu pude ouvir o som de Lorenzo respirando profundamente, como se estivesse escolhendo suas próximas palavras. Quando ele falou de novo, sua voz estava mais firme.

Isso não foi uma resposta, Pedro. Eu perguntei se você gosta dela. - insistiu.

Fechei os olhos por um momento, apertando o celular contra a orelha. Eu queria evitar aquela pergunta, mas sabia que fugir não era uma opção. E também sabia a verdade. Gostar de Chiara não era apenas uma questão de sentir algo — era algo que me consumia, que me tirava o sono à noite, que me fazia questionar tudo.

— Eu gosto muito dela, Lorenzo. - admiti com minha voz mais suave agora, quase um sussurro. — Mais do que eu deveria. Mas isso não muda o fato de que ela não quer mais falar comigo. Ela escolheu o Manuel, e eu... eu preciso aceitar isso, mesmo ela odiando ele.

Dessa vez, a pausa foi mais curta. Lorenzo soltou uma risada seca, sem humor.

Aceitar isso? Pedro, você acha que as coisas vão se resolver sozinhas? Se você realmente gosta da minha irmã, então precisa tomar uma atitude. Não dá para ficar esperando que as coisas aconteçam. Você tem que ir atrás dela. - praticamente ordenou.

Senti um nó no estômago ao ouvir aquelas palavras. Ir atrás dela? Era tudo o que eu queria, mas a ideia de confrontar Manuel novamente, me deixava tenso.

— Lorenzo, não é tão simples. E se ela realmente ama ele? Eu não tenho o direito de interferir!

Você já interferiu, cacete. Ela odeia ele! Você já sabe das coisas que ela já foi forçada?! - se irritou. — Ela gosta de você!

in the rain - pedri gonzález Onde histórias criam vida. Descubra agora