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CHIARA BIANCHI

Estava na sala, concentrada no meu livro para a faculdade enquanto Lorenzo brincava com as mãozinhas, ainda apoiado nos meus joelhos. Ele sempre se entretinha com qualquer coisa que tivesse ao alcance — até as próprias mãos pareciam fascinantes para ele. O sofá era nosso lugar favorito.

O silêncio da casa me envolvia enquanto lia sobre anatomia, mas de repente um grito vindo da cozinha quebrou minha concentração. Virei rapidamente o rosto naquela direção, com Lorenzo ainda equilibrado nos meus joelhos, atento ao mínimo movimento, mas não parecia preocupado. Meus olhos foram para a entrada da cozinha, e não demorou muito para ver Pablo aparecer correndo, o rosto em choque.

Ele parou ao meu lado logo se escondendo e olhando para mim com os olhos arregalados, como se estivesse num filme de suspense. Fiz uma careta, tentando segurar o riso e quebrando o silêncio.

— O que foi agora, Pablo?

Ele olhou para mim ainda mais sério, e eu, com Lorenzo nos braços, continuei esperando pacientemente que ele explicasse aquele drama todo. Mas ele não disse nada, só ficou ali, parado, apontando na direção da cozinha com uma expressão cômica de horror no rosto.

Antes que eu tivesse tempo de perguntar mais uma vez, ouvi risinhos vindo da cozinha. Em seguida, Theo apareceu pela porta, segurando uma faca na mãozinha, gargalhando como se aquilo fosse a coisa mais divertida do mundo. Meus olhos se arregalaram, mas tive que prender o riso ao ver a cena: Theo, com seu sorriso inocente, balançando a faca para o ar. Era engraçado e assustador ao mesmo tempo.

Pablo, que já tinha corrido para o outro lado da sala, apontava desesperado para o pequeno que se aproximava dele.

— Ele quer me matar, Chiara! Esse bebê é um psicopata! - resmungou. — Eu vou chutar ele igual uma bola de futebol, não tô brincando!

Eu revirei os olhos e tentei acalmá-lo.

— Pablo, pelo amor de Deus! O Theo não quer te matar. Ele só está brincando. - murmurei.

Aproximei-me com Lorenzo no colo, andando lentamente até Theo, que agora ria ainda mais alto enquanto balançava a faca como se fosse um brinquedo novo e empolgante. Mantendo a calma, aproximei-me dele e, com um movimento rápido, peguei a faca de sua mãozinha, mantendo um sorriso tranquilo.

— Muito bem, Theo, vamos guardar essa faca agora, tá? - digo tentando não rir.

Theo apenas sorriu para mim, como se não tivesse feito nada demais. Ele estava completamente alheio ao pânico que tinha causado. Andei até a cozinha sendo seguida por Theo e guardei a faca, logo peguei a mãozinha dele e voltei para a sala.

— Como ele conseguiu pegar aquilo, Gavira?

Ele encolheu os ombros e respondeu num tom ofendido.

— Eu juro que não sei! Quando eu vi, ele já estava com essa faca na mão!

— Você só pode estar brincando...

— É sério, Chiara! Esse bebê é um perigo. Ele nasceu com algum instinto assassino ou algo assim. - ele continuou encolhido.

Eu soltei uma risada curta e balancei a cabeça.

— Pare de ser dramático, Pablo. Ele é só um bebê curioso.

Theo, ainda rindo, se jogou no chão para brincar com alguns brinquedos ali perto, totalmente despreocupado. Lorenzo, que assistia a tudo com olhos atentos, finalmente relaxou e começou a se mexer nos meus braços, como se estivesse satisfeito com o espetáculo.

Enquanto eu respirava fundo, me perguntando como Theo tinha sido tão rápido para pegar a faca, observei a inocência no rostinho dele e pensei em como era engraçado o contraste entre a expressão de medo de Pabllo e o jeito curioso do bebê.

in the rain - pedri gonzález Onde histórias criam vida. Descubra agora