ANA FLÁVIA

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— Girls, we run this motha!

Girls, we run this motha!

Girls! — incorporo a Beyoncé ao me olhar no espelho e continua a berrar enquanto seguro minha escova de cabelo fazendo-a de microfone. — Who run the world? Girls! Who run the world? — o aparelho de som do meu quarto faz um ótimo trabalho. — Girls! Who run the world? Girls! Who run the world? ,Girls! Who run this motha?

Girls! Who run this motha?

— GIRLS — solto uma risada ao ver meu pai entrando no meu quarto com um microfone imaginário e começando a cantar junto comigo.

Depois de terminarmos nossa performance, desligo o som e me volto para o espelho.

— Estou bonita papa? — Pergunto, mesmo sabendo que a sua resposta é a mesma de sempre.

— Linda como sempre minha princesa — ele sorri e se senta na minha cama.

— De verdade? — Ele assente.

— Você anda se arrumando demais para o meu gosto dona Ana Flávia — sorrio, encarando meu papa do espelho enquanto me decido se uso batom ou um brilho labial. — Minha trinta e oito está carregada, é só me dizer o nome do moleque.

— Ah papa, sem essa de ciúmes. — brinco e ele fecha a cara. — Estou pegando o garoto mais quente da escola. — Vejo seus olhos ficando arregalados e solto outra risada. — Ele é um gato e eu até gosto dele, acho que ele gosta de mim também... mas por enquanto é só pegação.

— P-pegação? — a voz do meu pai quase some e eu me seguro para não rir. — Como assim pegação Ana Flávia?

— Sexo papa, sabe?

— Ai Dio — ele leva a mão ao peito e seus olhos não piscam. — Minha garotinha... o que aconteceu com ela? — choraminga o meu pai.

— Ok papa, não seja dramático. — digo indo até ele.

— Eu acho que vou infartar Ana Flávia — ele leva a mão ao peito e solta respirações rápidas.

Eita, acho que exagerei.

— Calma papai, era só brincadeira não faça isso comigo — agora sou eu quem choramingo. Abraço-o pelo pescoço e ele continua seu processo de inspirar e expirar.

— Jura? — Ele me encara com apenas um olho e eu aquiesço.

— Sim papa — digo abanando seu rosto com minha mão.

— Sem sexo? — sua voz soa de maneira afetada e eu me desespero.

— Sem sexo papa! Ah meu Deus, a mama vai me matar se o senhor for para o hospital por causa disso.

— Promete?

— Sim papa, aí meu Deus. — Ele me faz jurar e eu entro em pânico com a maneira como ele me olha.

— Você é a minha garotinha Ana, não me dê esses sustos — aquiesço como uma boneca dessas que ficam presas em carros apenas mexendo a cabeça.

— ANA TEM VISITA PRA VOCÊ — ouço voz da minha mama e rapidamente meu pai se senta e como se nada tivesse acontecido, se levanta e sai.

— Papai... eu não acredito — digo indignada.

— Você prometeu filha, não se esqueça. — ele coloca a cabeça pra dentro do meu quarto e joga um beijinho para mim.

Lembro-me da visita e só então me toco é que Gustavo, fico confusa pois não me lembro de ter combinado nada com ele.

APRENDIZ/ MiotelaOnde histórias criam vida. Descubra agora