Falar aquilo para Ana Fávia despertou lembranças chatas, um arrepio e uma dorzinha de cabeça enjoada em mim. Relembrar da Thay, dos seus beijos, das suas mãos, dela... aquela voz doce e meiga que me fazia aceitar tudo e qualquer coisa que ela quisesse me dava arrepios e náuseas.
As lembranças eram vividas em mim.
O momento exato que bati meus olhos nela e o momento em que ela me disse as piores coisas que eu não precisava ouvir e precisava ouvir estavam gravados na minha mente, como uma tatuagem. Essas coisas me fizeram ser quem sou hoje.
Um dia eu também fui uma vítima na mão de pessoas como Lucas, Alex e Pedro. Um dia fui como Ana Flávia. Mas nunca tive em quem me apoiar, não tive quem me acordasse, não tive um alguém que tivesse "pena de mim" para vir e me contar as coisas que eu não sabia, que eu não conseguia enxergar.
Então, eu fui minha própria âncora, me ergui e todo amor que eu tinha por Thay se transformou em ódio, e esse ódio me fez crescer e amadurecer para tantas coisas que mal consigo acreditar que um dia fui tão idiota por um alguém que jamais mereceu um terço da minha atenção.
Graças a ela, me tornei quem sou hoje.
"E isso é bom ou ruim?"
Lembro-me da pergunta de Ana Flávia e não sei responder a mim mesmo se isso é bom ou não. Ainda me lembro do antigo Gustavo, ele era gentil, dócil, sonhava em ter uma amor, o antigo Gustavo sonhava... esse de agora sequer faz planos para o dia de amanhã.
"Garoto, você é tão inteligente pensei que fosse mais esperto... achou mesmo que alguém como eu iria querer alguém como... você?"
Era como ver o rosto dela refletindo atrás das minhas íris, ainda me lembro de ver a sobrancelha sendo arqueada, ainda consigo escutar o som das risadas das pessoas que viram ela me humilhando. Eu só tinha dezesseis anos quando troquei o amor pela raiva. Eu era apenas um adolescente apaixonado que sonhava com a sua garota todos os dias, ora dormindo ora acordado. Thay era meu sonho. O lance entre nós foi tão esquisito que eu me pergunto se realmente aconteceu.
— Gustavo — pisco voltando a minha realidade. Ana, doce, linda, inteligente e maravilhosa Ana.
— Estou há cinco minutos te chamando... está tudo bem?
Conserto minha postura e solto um pigarro.
— Sim, por que?
— Você está meio aéreo desde que se abriu para mim... não fique assim, seja lá o que tenha acontecido eu estou com você. E hoje está tudo bem.
Suspiro profundamente e percebo que no meio de tudo isso, ganhei na loteria ao ajudar a garota a minha frente, Ana Flávia é mais que um rosto e um corpo bonito. Sua alma é linda, seu sorriso é encantador e suas atitudes para comigo, são mais do que jamais imaginei receber um dia. Ela me faz ter esperança, me faz acreditar que se procurarmos ainda teremos algum tipo de bondade no mundo.
Ela me consola fazendo um cafuné em meus cabelos, sorrio minimamente para Ana e ela retribui.
— Você fica lindo quando sorri.
— Não sou lindo quando estou sério? — Ana gargalha e se aproxima ainda mais de mim.
— Você fica impossívelmente ainda mais bonito quando faz essa cara de mal — ela me encara de um maneira engraçada e seu aparece já frente do meu rosto, ela o esfrega na minha testa e diz baixinho. — Forma um vinco bem aqui quando você está sério, mas você sorri — suas mãos vão em minha bochecha e as esticam forçando um sorriso. — Ah... sinto como se eu estivesse sendo abençoada por essas covinhas.
Essa garota é incrível.
— Está falando sério? — dou-lhe um sorriso pequeno.
— Claro que sim Gustavo, somos amigos, eu jamais mentiria para você. E sorrir é algo que você não faz com frequência, então eu paro e admiro com vontade quando você faz isso.
— Você não existe Ana Flávia Castela — digo encantado.
— Existo sim e por isso estou aqui, tentando te fazer esquecer seja lá o que for que esteja te atormentando.
— Esquece isso Ana... agora... o que você queria me mostrar?
Ela se aconchega no peito e me mostra seu celular.
— Desde que postei essa foto eu não paro de receber curtidas... eu estou chocada.
Observo suas feições, a maquiagem leve, o cabelo sedoso e lindo, eu que sou abençoado só de tê-la por perto.
— Está chocada com o quê? Com o fato de que todos te acham linda?
Ela se vira para mim e sorri de lado timidamente, suas bochechas coram e eu tenho vontade de aperta-la, é... com certeza é sobre isso.
— Não sei Gustavo, você sabe, ainda me sinto insegurança com isso, claro que mantenho isso apenas dentro de mim... as vezes é difícil, mas olha aqui — curvo minha cabeça e inspiro um pouco mais forte sentindo o cheiro suave de Ana Flávia.
Ela abriu as notificações do seu Instagram e me mostrou que Collins a stalkeou, não bastou curtir todas as fotos o babaca ainda saiu comentando em todas.
— Ele é um doente. Mas tudo bem, criamos sua conta aqui justamente para isso. Na verdade precisamos apimentar ainda mais suas redes sociais.
— Como assim Gustavo? — Ela perguntou curiosa.
— Quem não é vista não é lembrada, ainda tem aquelas fotos que me mostrou outro dia?
— Sim, —Ana abriu sua galeria e uma infinidade de fotos suas apareceu, safado como sou, foquei em algumas que ela estava de biquíni.
— Cara... — Murmuro e puxo sua cabeça para mim. — Não aceito que você fique insegura assim. Caralho quer meus olhos para ver o quanto você é linda?
— Não fala assim que eu fico com vergonha — suas bochechas coram e eu as beijo.
— Tento ser seu amigo mas quando me lembro do seu gosto eu fico com o pé atrás, você é realmente encantadora Ana— Ela pisca e olha para minha boca. — Foco Aninha, vamos postar essas duas fotos suas com essa galera aí...
Uns minutos mais tarde e uma enxurrada de curtidas aparece.
— Ok... agora vamos matar o Collins — posicionei em cima do meu criado mudo o celular de Ana Flávia e coloquei o disparo automático, puxo Ana fazendo-a fixar de frente para mim, rocei nossos narizes e a beijei lentamente, ouço os ruídos vindos do celular e quando me dou por satisfeito, me afasto de Ana deixando uma mordida ali.
— Ah... o que foi isso?
— Espere e verás... — digo maliciosamente antes de pegar o celular e postar nossas fotos.
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APRENDIZ/ Miotela
FanfictionAhhh se eu soubesse que quem me ensinaria algo seria ela....