Meu mundo parecia ter congelado naquele instante em que Ana Flávia se desgrudou de mim e foi até o Collins.
Não tive forças para assistir nada daquilo e por isso fugi daquela cena. Sai correndo dali quando vi o rosto de Ana Flávia próximo ao dele, não aguentei entender que havia perdido minha garota sem ter a chance de tê-la para mim, meu estômago simplesmente revirou quando eu tive a noção de que eles iriam se beijar e que eu iria presenciar aquilo, achei que eu aguentaria ver a Ana Flávia perto dele, que havia me preparado psicologicamente para este momento mas a realidade me fez acordar.
Ninguém está pronto para deixar ir. A realidade também me fez entender pela primeira vez que Ana não pertencia a mim e este fato caiu de bandeja em meu colo, foi pior que um tapa na cara. Tive e terei que aceitar isto todos os dias. Eu me sentia perdido, com o coração doendo a cada batida lenta que dava, o ar parecia pesado e nada fazia sentido naquele momento... Era patético para mim estar me sentindo daquela maneira, estar sofrendo por tão pouco.
Não cara, a Ana Flávia nunca foi pouca coisa, muito pelo contrário, se ela fosse tão mínima eu não estaria me doendo tanto.
Enquanto eu tentava correr por entre as pessoas, acabei esbarrando nelas, escutei xingamentos e tomei alguns empurrões, nada daquilo me impediu de parar. Me dei conta de que eu estava longe da escola, longe de Ana e de Collins, longe da dor que abalava meu peito.
Eu não posso dizer o quão dramático isso soou.
Eu sou a porra de um covarde.
Covarde por fugir, por não aceitar de coração que a felicidade da minha melhor amiga é mais importante que qualquer coisa, por não assumir o que sinto.
Covarde.
― Puta que pariu, em que merda eu vim me meter? ― Rosnei duramente enquanto eu corria sem parar.
Me sentia decepcionado e com o coração partido, por que diabos eu estava dessa maneira? Parecia que eu era uma menininha dessas de filme água com açúcar, sofrendo pelo amor perdido, e parando para pensar foi exatamente isso que me aconteceu e talvez eu devesse aceitar que na realidade, o cara aqui, na realidade, também sofre e sente muito por não ser homem o suficiente para encarar os problemas da vida.
Eu poderia ter ficado e poderia lutar por ela, mostrar para ela que ele nunca vai tratá-la melhor que eu... na verdade eu tenho a plena concepção de que Ana Flávia só está brincando com ele, só que o meu lado racional entende o que meu coração ― porra eu não aguento mais usar essa palavra ―, não quer entender e nem aceitar.
Passei a mão pelo cabelo quando finalmente parei de correr, minhas pernas e pulmões doíam pelo esforço da corrida, arranquei o paletó e joguei ele em uma moita qualquer, apesar do frio eu suava e não queria que lembrar de que tinha vestido essa roupa patética apenas para impressionar ela.
Aquilo era o mínimo, Ana quase me fez cair quando desceu aquelas escadas completamente linda. Linda de uma maneira que eu jamais imaginei ver um dia... perfeita, completamente. Ela me lembrava um princesa naquele vestido e eu sabia que filho da puta nenhum merecia ela. Nem mesmo eu. Mas o meu lado egoísta não aceitava e se forçava acreditar que aquilo era para mim.
Senti meu celular vibrando no bolso mas o ignorei, continuei andando sem rumo. Desejei estar com meu cigarro, desejei alguma droga, álcool... minha garganta secou apenas de pensar em sorver o líquido âmbar de um whisky doze anos, talvez atendendo minhas preces acabei encontrando um bar de esquina horroroso ― aposto que o whisky de lá não chega ser um doze ―, mas eu não estava lá me importando com as aparências do local, eu só quero beber.
Quando entrei, recebi olhares julgadores, um cheiro horrível de mijo misturado com cerveja, mulheres semi-nuas, homens barbados com cara de malvados... Ignorei tudo e todos, absorvendo que só estava ali por uma necessidade inconsciente, tocava still love you dos Scorpions nada poderia ser mais brega que isso, e ao virar para frente, recebi o olhar de uma garçonete que estava atrás do balcão.
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APRENDIZ/ Miotela
FanfictionAhhh se eu soubesse que quem me ensinaria algo seria ela....