26• PRIMEIRA FESTA

284 27 78
                                    

Clary Miller

Na terça-feira, Red acabou me deixando em casa - ou quase isso - mesmo parecendo bem zangado ao me ver andando sozinha àquela hora da noite. Eu realmente havia perdido a noção do tempo. Teresa me disse que sairia e depois voltaria para fechar o salão, só precisava trancar a porta. No entanto, quando dei por mim, ela já havia voltado, e passava da meia-noite. Perguntou se eu queria que ela me levasse para casa. Eu, por Deus, não queria dar trabalho a ela, mas foi quando avistei Red. O olhar dele estava sombrio, e senti sua irritação no ar ao me ver andando por aí naquele horário.

Soltei um suspiro longo. Ele estava certo, afinal, eu não deveria andar por ali sozinha àquela hora, especialmente depois do que aconteceu comigo... Um arrepio gelado percorreu minha espinha só de lembrar. Evito até pensar sobre aquele dia, porque cada vez que revivo aquilo, sinto uma angústia esmagadora.

Felizmente, ele pareceu se acalmar quando expliquei que estava ensaiando para a apresentação. Vi um brilho de orgulho nos olhos dele, misturado com uma felicidade contida, e isso me deu uma sensação de alívio.

Por outro lado, desde que cheguei tarde naquela noite, Paloma começou a desconfiar de que eu estava me encontrando com alguém. Agora, parecia me vigiar mais do que nunca, mas por sorte, ela não fez caso sobre o horário em que cheguei.

No dia seguinte, passei a tarde inteira limpando e organizando a casa. Paloma, como sempre, me deixou com todas as tarefas. Quando finalmente fui me deitar, meu corpo estava exausto, cada músculo doendo, e acordei com uma dor de cabeça latejante. Ainda sentia o incômodo, mas ali estava eu, no balcão, organizando as coisas, com os olhos pesados de cansaço.

Abri a boca em um bocejo justo no momento em que Dani entrou, o que me fez erguer as sobrancelhas. Ela me olhou com um pequeno sorriso travesso nos lábios.

- Caiu da cama? - perguntou.

- Não dormi direito. - respondi, e a verdade era que quase nunca dormia bem. Mas ela não precisava saber dos meus problemas.

- Nem eu. - Ela suspirou, apoiando o rosto entre as mãos no balcão. - Parece que minha ressaca nunca vai embora.

Eu nunca soube o que é ter ressaca, já que nunca bebi, mas a forma como ela disse isso me fez rir baixinho.

- Da festa de terça? - perguntei, lembrando o que Red havia mencionado.

- Sim... O Red te falou?

Hesitei por um segundo antes de responder. - Ele disse que vocês estavam em uma festa. - A relação que eu e Red tínhamos era difícil de explicar, então deixei por isso mesmo.

- Bebi todas quando vi o Lion, mas o Renan não me deixou chegar perto dele.

- Lion? - perguntei, intrigada. Ela nunca havia mencionado esse nome. - Ele é seu namorado?

Ela sorriu de lado, refletindo por um momento antes de responder. - Digamos que é complicado.

- Mas por quê? - insisti, minha curiosidade tomando conta. - Se vocês gostam um do outro, por que não ficam juntos?

Era raro alguém falar sobre sentimentos e a vida particular comigo, então aquilo me deixou mais interessada.

- Ah, quem dera fosse simples assim... - Ela suspirou, relaxando os ombros e levando a mão ao queixo. - O problema é que ele é amigo próximo do Ivo Delbra. E o Ivo e o Red... bem, eles se odeiam. São como cão e gato.

Red? Com um inimigo oficial? Essa informação me pegou de surpresa, e fiquei em silêncio tentando juntar as peças da história.

- O Red não gosta dele? - perguntei, querendo mais detalhes.

ATORMENTADOS Onde histórias criam vida. Descubra agora