33• FÚRIA

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Red Blossom

Terminei de fumar meu cigarro e tentei relaxar antes da chegada de Clary. A ideia de que ela tinha passado a noite comigo ainda me fazia sorrir, embora eu me achasse um idiota por isso. Mas, se era por ela, eu não me importava de ser um idiota.

Clary sempre foi uma fonte de desejo e sonhos para mim, e, a cada dia que passava, ela provava que era tudo o que eu achava que ela era. Após apagar o cigarro, entrei para preparar um lanche para ela. Notei que Clary parecia ter ganhado um pouco de peso nos últimos meses, e queria agradá-la de alguma forma. Na verdade, eu queria mais do que agradá-la; eu queria ela toda. Mas agora, já era tarde demais para admitir que ela não era minha.

Eu tinha paciência, podia deixá-la se recuperar. Se eu me envolvesse com ela agora, poderia acabar fazendo com que me odiasse pelo resto da vida. Eu precisava manter distância; não queria machucá-la. Ela não merecia isso. Já conheci muitas pessoas que mereciam ser odiadas, mas ela não era uma delas.

Clary havia melhorado bastante, mas ainda se colocava em perigo de vez em quando, agindo de forma inconsequente. Me senti culpado por ela ter perdido uma tarde de estudos por causa disso, então desmarquei meu compromisso com Renan. Íamos comprar algumas coisas para a corrida, cuja festa de abertura estava chegando, mas isso ficaria para amanhã.

Santiago ainda me esperava à noite para pegarmos as drogas. Com os eventos das corridas, teríamos uma venda ainda maior. Continuei focado na corrida de moto; não podia me ocupar com muitas outras coisas, e a presença constante de Clary nos meus pensamentos não ajudava na concentração. Renan estava encarregado da corrida de carro, e eu esperava que ele ganhasse daquele idiota do Lion. Enquanto isso, deixaria o imbecil do Lion enlouquecer por causa da namorada, junto com o amigo Ivo.

Esperava que Santiago conseguisse vender a maior parte das drogas em breve.

Preparei um sanduíche simples com chocolate, assim como da última vez. Thor estava deitado um pouco afastado, parecendo relaxado. Assim que terminei os sanduíches, ouvi uma batida na porta. Abri-a e vi Clary com um sorriso no rosto.

- Cheguei na hora - disse ela.

- Como sempre - respondi, abrindo espaço para ela entrar. Clary sempre foi muito dedicada quando se compromete a fazer algo.

Sentei-me no banco do balcão enquanto Clary brincava com Thor, como de costume. Em seguida, ela se aproximou com uma sobrancelha levantada e um sorriso tímido.

- Fez lanche? - Ela parecia um pouco confusa e tensa, mas se aproximou e ficou de frente para o balcão.

- Fiz. Vamos comer e depois estudar.

- Assim posso ficar mal acostumada - disse ela, fazendo um biquinho que me fez rir um pouco. Passei a mão pelo queixo, aproveitando aquele momento.

- Então não fique! Vamos comer para começar a estudar logo.

Clary colocou a mochila no chão e se sentou, pegando a xícara e tomando um gole de chocolate quente. Eu a observei enquanto comia. Que droga! Se controla, Red! Comecei a comer, tentando me acalmar, quando uma mensagem chegou ao meu celular. Era do Santiago, mas eu a ignorei e travei o celular novamente.

- Se quiser, não precisa me dar aula hoje.

Olhei para ela, erguendo uma sobrancelha. Às vezes, ela tinha essa mania irritante de achar que era inconveniente.

- Por que eu faria isso?

Ela deu de ombros e, antes de responder, tomou outro gole de chocolate quente. Seus olhos fixaram-se nos meus, e tive que reprimir um sorriso. Sempre me intrigava quando ela me desafiava com aquele olhar.

- Você é ocupado.

Fiz um gesto pensativo, apoiando a mão no queixo. Ela estava certa; eu estava ocupado. Mas eu queria estar com ela.

- É, você está certa, docinho. Sou ocupado, mas... - fixei meus olhos nos dela, que ficaram um pouco vermelhos - eu que te convidei.

Ela não respondeu de imediato, mas deu um sorriso breve e acenou com a cabeça antes de morder o sanduíche.

- Ah... - disse ela, depois de mastigar. Tirou um envelope do bolso com um sorriso nervoso, suas mãos tremiam ligeiramente ao estendê-lo para mim. - Na apresentação de balé, eu tenho direito a um convite e... gostaria que você fosse.

Fiquei surpreso. Ela estava me oferecendo o único convite que tinha, um gesto inesperado e cheio de significado.

- Pra mim? Tem certeza? - perguntei, erguendo uma sobrancelha, tentando processar a situação. Ela assentiu vigorosamente, seus olhos fixos nos meus, cheios de sinceridade.

Porra, docinho, você quer me deixar maluco, né? Era só você ficar longe de mim, e eu de você, mas agora me convida pra essa merda de apresentação.

- Sim, e não imagino mais ninguém que eu gostaria que fosse.

Ela não sabia o que estava fazendo comigo. Se soubesse, não teria me convidado. Sempre imaginei ela dançando pelos cantos; agora, poderia finalmente ver sua beleza no balé.

- Agradeço e vou, com certeza. - Sorri amplamente, e ela me respondeu com um sorriso tímido.

Depois de comer, nos encontramos na minha cama. Clary sempre escolhia a cama para estudar, e eu adorava vê-la ali. Enquanto estudávamos inglês, percebi que ela enfrentava mais dificuldades com essa língua do que com o italiano. Cada palavra parecia um desafio, mas sua dedicação era admirável.

Estava sentado na frente dela, onde podia vê-la claramente e senti o cheiro dela entrando nas minhas narinas.

De repente, Clary olhou para mim com curiosidade. Ela mordeu o lábio, olhou para o caderno e, em seguida, para mim. Isso me deixou inquieto.

- O que foi? - perguntei, já impaciente.

- Posso te perguntar uma coisa? - Sua voz saiu como um sussurro. Eu queria logo saber o que era.

- Pode.

- O que se faz em encontros?

Pisquei e meu sorriso sumiu. Que porra ela tá falando? Encontro? Com quem? Não, nenhum desgraçado teria essa ousadia.

- Como assim? - perguntei, tentando controlar meu tom. Ela me olhou, assustada com a minha reação.

- Um cara me chamou pra sair.

- Um cara? - Minha voz saiu mais dura do que eu queria. Meu sangue começou a ferver. Que porra é essa? Ela é minha! Nenhum filho da puta vai tirá-la de mim.

- Sim - ela respondeu hesitante. - Conheci ele no canil. Ele adotou um cachorro e conversamos um pouco.

"Conversaram um pouco?" A fúria queimava dentro de mim. Um gosto amargo invadiu minha boca. Quem esse imbecil pensa que é? Ela me olhava com um olhar curioso como se esperasse uma resposta, respirei fundo e tentei me controlar.

- Conversamos e comemos as vezes vamos além - Que gosto amargo da porra de imaginar ela com outro.

- Além? - Perguntou curiosa.

- Beijamos, transamos - soltei, sem me segurar. Soltei um rosnado baixo, mas ela pareceu ignorar.

- Quando é o seu encontro? - perguntei com um sorriso forçado, tentando não explodir.

- Sábado.

Porra, esse encontro não vai acontecer. Nem que eu tenha que acabar com o desgraçado que ousar se aproximar dela.

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