42• SUFOCANDO

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Temáticas sensíveis e possíveis gatilhos

Clary Miller

Abri os olhos, um pouco perdida, tentando me situar. O quarto ao meu redor era estranho, mas, ao olhar para o teto familiar e sentir o cheiro suave de lençóis limpos, a lembrança da noite anterior voltou com força. Coloquei a mão no rosto, sentindo o peso da realidade cair sobre mim. Eu estava na cama de Red, no quarto dele. Meu Deus, o que eu fiz? Agora, sim, as gêmeas iriam acabar comigo. Eu estava completamente perdida. Se o que elas já faziam era ruim, não consigo imaginar o que seria agora, depois de eu ter dormido aqui.

No momento de pânico, eu não pensei. Só queria me sentir segura, e aqui era o único lugar onde essa sensação existia. Mas agora, com a luz do dia, tudo parecia mais complicado.

Red não estava na cama. O espaço ao meu lado estava vazio e frio. Suspirei ao me lembrar de que deixei meu celular em casa. Tinha que ir trabalhar, não podia me atrasar. Levantei-me da cama, os pés afundando no carpete macio do quarto. O ambiente era aconchegante, decorado em tons sóbrios, com poucos móveis, mas tudo no lugar certo. Caminhei até o banheiro e passei água no rosto, tentando espantar a confusão na minha mente. Respirei fundo, sentindo a fragrância fresca do sabonete de Red impregnada no ar.

Ontem, ele não me perguntou nada, apenas me deixou dormir. Mas hoje... talvez ele pergunte, e eu precisava estar preparada para responder.

Quando saí do quarto, o cheiro forte de café recém-passado e de fritura atingiu minhas narinas. Meu estômago roncou, mesmo que eu não tivesse certeza se estava com fome ou apenas nervosa. Red estava na cozinha, de costas para a sala, mexendo em algumas panelas no fogão. A luz suave do amanhecer entrava pelas janelas, criando sombras alongadas na sala silenciosa.

Thor, que estava deitado perto da porta, levantou-se assim que me viu. Abaixei-me para dar atenção ao pobre cachorro que, na noite anterior, eu mal havia notado. Tudo parecia ter acontecido rápido demais.

— Oi, amigão. Desculpa por ontem, tá? — murmurei, acariciando o pelo macio de Thor, que colocou a língua para fora e se sentou, balançando o rabo. Era quase como se ele estivesse dizendo que estava tudo bem. Acho que Thor gosta de mim, afinal.

Quando levantei o olhar, vi Red encostado no balcão, me observando com um sorriso curto nos lábios e uma sobrancelha levantada. Ele vestia uma camisa preta de manga curta,  que acentuava seus ombros largos que realçaram tatuagens,. e o deixava ainda mais imponente.

— Bom dia! — falei, tentando soar casual enquanto me endireitava. Estava usando apenas a camisa dele, que, apesar de confortável, deixava minhas pernas à mostra. O olhar dele me deixou nervosa.

— Bom dia, docinho. Está com fome? — Ele tinha um sorriso um tanto irônico no rosto, que me fez hesitar antes de me aproximar do balcão. Cada passo parecia ser avaliado por ele, como se estivesse medindo minhas intenções.

— Preciso ir trabalhar — respondi, tentando mudar o rumo da conversa.

Ele balançou a cabeça em um gesto de negação, fazendo pequenos estalos com a língua. Seus olhos não se desviavam dos meus e, diferente da noite anterior, ele parecia bem mais calmo.

— Liguei para a Gabriela e disse que você está doente.

— Mas eu não estou — repliquei, sentando-me no banco alto do balcão. — Assim, ela vai achar que não tenho responsabilidade.

— Ela não vai achar nada, e você vai acabar doente se não se cuidar — disse ele, pegando um prato com ovos e bacon e colocando-o na minha frente. — Agora coma para que isso não aconteça.

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