64• OBSESSÃO DOENTIA

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Temáticas sensíveis e possíveis gatilhos

Red Blossom

O olhar dela dizia tudo. O medo nos olhos de Clary era quase tangível. Ela me encarava como se eu fosse um monstro, alguém que ela mal conhecia. Aquele brilho nos olhos dela, antes cheio de curiosidade e carinho, agora estava tomado pelo pavor. E isso me atingiu como um soco no estômago. Talvez ela estivesse certa. Talvez eu fosse um maníaco. Talvez eu fosse louco, mas só por ela. Só por Clary.

Eu tentei falar, mas antes que qualquer palavra saísse da minha boca, ela recuou, quase tropeçando em seus próprios pés ao se afastar.

- Fica longe de mim, Red! - a voz dela saiu trêmula, mas decidida. - Não encosta em mim!

Dei um passo à frente, instintivamente tentando alcançá-la. Ela desviou de mim como se meu toque fosse veneno. O desespero estava estampado no rosto dela, e isso apertava meu peito de uma forma que eu não sabia como lidar.

- Clary, calma - minha voz era baixa, rouca, como se cada palavra estivesse sendo arrancada à força. - Não é o que você está pensando...

- Não é o que eu estou pensando? - Ela riu, um riso nervoso, quase histérico, enquanto apontava para a mesa com as fotos espalhadas. - Você tem fotos minhas, Red! Desenhos meus, coisas que você... você me seguiu! Você é um porra de um maníaco!

Cada palavra dela me atingia como uma faca. Eu queria me explicar, dizer que aquilo não era o que parecia, mas quanto mais eu tentava me aproximar, mais ela recuava, os olhos arregalados, cheios de medo.

- Eu fiz isso por você, Clary! - minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, mais desesperada. - Eu precisava te proteger, precisava saber que você estava bem!

- Me proteger? - ela gritou, a voz cheia de incredulidade. - Isso não é proteger! Isso é obsessão! Isso é doentio, Red! Eu confiei em você!

Ela estava tremendo agora, as mãos balançando enquanto apontava para mim. Eu dei mais um passo, querendo desesperadamente que ela entendesse, que visse que tudo aquilo era por amor, mas ela recuou de novo, quase tropeçando nos próprios pés.

- Não, não faz isso, Clary. Você não entende... É um erro me acusar assim!

- Errar? - ela cuspiu a palavra como se fosse venenosa. - Isso não é erro! Isso é controle, obsessão, loucura! Você me assusta, Red! Eu tenho medo de você!

Essas últimas palavras me paralisaram. Ela disse que tinha medo de mim. Medo. De mim.

O silêncio entre nós foi pesado, quase sufocante. Ela respirava fundo, tentando recuperar o fôlego, enquanto eu ficava ali, parado, com as palavras dela ecoando na minha cabeça.

Medo.

Ela me olhou uma última vez, os olhos ainda arregalados, e deu alguns passos em direção à porta.

- Eu vou embora - disse, a voz agora mais baixa, mas cheia de convicção. - E não me siga, Red. Não fala mais comigo. Você precisa de ajuda.

Ela abriu a porta com força e saiu, deixando o quarto vazio e o som de seus passos ecoando pelo corredor. Eu fiquei ali, parado, sem saber o que fazer, meu coração batendo tão rápido que mal conseguia respirar.

Ela se foi.

E, pela primeira vez em muito tempo, me senti verdadeiramente sozinho.

A noite passada pairava sobre mim como um pesadelo. Afundei na bebida, tentando entorpecer a dor e a confusão que me dominavam. Renan e eu bebemos até a última garrafa. Ele tentou me perguntar o que tinha acontecido, mas eu não tinha cabeça para explicar. Eu só queria não pensar, não pensar em como Clary me olhou com medo, porra, medo de mim! Quando a madrugada se tornou dia, acordei com a cabeça pesada e o estômago revirado.

Voltei para casa, e a primeira pessoa que vi foi minha mãe, na cozinha, preparando café. O cheiro invadiu a casa toda e quase me fez querer todos os copos da garrafa que eu tinha bebido. Ela lançou um olhar preocupado quando me viu.

- Red, você voltou cedo. A Clary esteve aqui agora pela manhã. Perguntou se você estava em casa.

- E você o que disse? - Perguntei, a voz rouca e cansada.

- Que você não tinha dormido aqui. - Ela parecia confusa. - Estava preocupada.

Não tive tempo para discutir com minha mãe. Passei na casa de Clary, mas não a encontrei. A casa estava vazia, e a sensação de desespero só aumentava. Fui então ao canil, onde sabia que ela poderia estar.

Quando cheguei, encontrei Clary no meio dos cães. Ela estava alimentando-os, com um semblante de preocupação. Ao me ver, seu olhar endureceu, e ela parecia pensativa enquanto passava a mão em um dos cachorros que estava dentro do cercado.

- O que você está fazendo aqui, Red? - A voz dela estava carregada de mágoa e desconfiança.

- Precisamos conversar. - Tentei me aproximar, mas ela recuou, a distância entre nós crescendo.

- Conversar sobre o quê? - Ela cruzou os braços, a postura defensiva. - Sobre a sua obsessão por mim? As coisas doentias que você tem feito?

- Não é assim! - Gritei, a frustração e a dor misturadas. - Eu estava tentando proteger você, Clary! Você não entende!

- Proteger? - Ela riu, a amargura evidente. Seus olhos estavam inchados, como se tivesse chorado a noite inteira. - Você acha que me vigiar e colecionar fotos minhas é proteção? Isso é invasão, loucura!

- Clary, você não entende - Minha voz saiu em um rugido de desespero. - Me deixa explicar, porra!

- Estava com a Elena? - Clary perguntou, os olhos arregalados e carregados de mágoa. - Você não pode simplesmente sumir depois do que eu vi e ir dormir com outra, funciona do mesmo jeito para você? Vai atrás dela, como ela de você?

- Como você sabe da Elena? - Perguntei, surpreso e confuso.

- Não importa como eu sei. - Clary respondeu, a voz cortante. - O que importa é que você estava com outra.

- Claro que importa! - Insisti. - Eu quero saber como você soube disso!

- Não vou dizer quem me contou. - Clary afirmou com firmeza. - Você estava ou não? - Ela respirou fundo. - Quer saber? Isso não me importa. Quero você longe de mim!

- Eu não estava! Eu não estava com a Elena, caralho! - Gritei, a frustração transbordando. - Estava tentando lidar com a merda que aconteceu entre a gente. Eu só queria esquecer por um momento!

- Não importa! Vá embora! - Clary me olhou com um olhar cheio de fúria e mágoa, a expressão parecendo em chamas. - Vá embora e fique longe de mim, longe de mim!

A tensão entre nós se tornou quase insuportável. Cada palavra era um golpe, cada acusação uma ferida aberta. Eu me sentia perdido e impotente, a frustração e o desespero me dominando. Clary, por sua vez, parecia decidida a não ceder.

Finalmente, o silêncio caiu sobre nós. Clary se afastou, voltando-se para os cães com uma expressão de resignação e tristeza. Eu, derrotado e confuso, dei as costas e saí do canil. O olhar dela era como facas fincadas em meu peito - medo, indiferença e mágoa, tudo misturado. Era como tortura para mim.

A sensação de estar completamente sozinho era esmagadora. A imagem de Clary me tratando como se eu fosse um estranho era quase mais do que eu podia suportar. Eu não sabia como consertar o que havia sido quebrado entre nós, e a dor parecia interminável.

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