15• TESTE PARA CISNE NEGRO

329 31 93
                                    

Clary Miller

No carro, resolvi ficar calada. Não queria incomodar o Red, ele tem me ajudado, e pensar que todos o julgam sem ao menos conhecê-lo me incomoda.

Ele não parece ser o que as pessoas falam, e olha que falam muito mal dele. Talvez ele seja a ovelha negra da cidade para todos. Sinto um incômodo ao pensar nisso.

Fico olhando para ele enquanto dirige o jipe. Ele sempre parece calmo e tranquilo com tudo. Nem parece que é o que as pessoas dizem.

Ele vira para mim com as sobrancelhas juntas e me sinto envergonhada por ele ter me pegado olhando para ele por um tempo.

- O que foi? - pergunta ele. Ele não parece irritado nem nada.

Ele volta a olhar para a pista e eu também. Me senti desconfortável por ele ter me pegado olhando para ele.

- Nada, a Dani parece ser uma boa pessoa.

- Ela é quando fica fora dos assuntos dos outros.

Olhei para ele sem entender do que ele estava falando, mas percebi que ele não ia completar a frase e voltei a olhar para a rua. Não gosto de me meter nos assuntos dos outros.

- Obrigada - falei sem olhar para ele. - Por me ajudar.

- Não por isso.

Foi a única coisa que ele disse, e continuou olhando a pista sem se virar para mim.

- Mesmo assim, você fez muito por mim e eu não queria incomodar você.

Ele se virou para mim quando me virei para olhar para ele. Vi um brilho nos olhos dele, ele abriu um sorriso curto.

- Come se potessi negarti qualcosa.

Não entendi uma só palavra e juntei minhas sobrancelhas, ainda mais confusa, mas ele voltou a olhar para a pista.

- Você não consegue falar português, não é?

- Não - ele riu.

Mesmo com a curiosidade sobre o que ele falou, não perguntei. Afinal, ele sempre fazia isso. Estou agradecida demais para me importar com o que ele falou.

Ficamos o caminho todo calados. Não era estranho, era reconfortante. Poder apenas desfrutar do silêncio, algo com o qual estou bem acostumada. Ele também parecia não se importar.

Sabia que tinha que descer quando ele parou no parquinho. Como falei, meu pai não podia me ver com ele. Tirei o cinto de segurança e virei para ele com um sorriso bem curto no rosto.

- Até mais, docinho.

Levantei uma sobrancelha e abri a porta do jipe, saltando dele. Me virei para o Red.

- Até mais, Red.

Vi o sorriso dele crescer ainda mais, mostrando as peças que dão um enorme charme nele. Bati a porta do jipe e comecei a caminhar em direção à minha casa sem olhar para trás. Não demorou muito e o jipe passou por mim.

O Red realmente tinha feito muita coisa por mim. Me salvou, recuperou meu colar e conseguiu um trabalho para mim. Não sei por que, mas isso me dá uma sensação boa, algo diferente, gratidão talvez. Ninguém nunca tinha feito tanto por mim tirando meu pai.

Respirei fundo e continuei caminhando, quase chegando na minha casa. Só tem poucos carros passando e poucas pessoas na frente de suas casas. Elas às vezes olham para mim, mas ninguém se importa com ninguém aqui.

Não adianta eu pensar sobre o porquê Red faz essas coisas e qual será o preço, mas de alguma forma ele tem me ajudado muito.

ATORMENTADOS Onde histórias criam vida. Descubra agora