76• TODA VERDADE

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Clary Miller

Acordei com uma mensagem de Red perguntando se eu estava bem. Respondi que sim, que não precisava se preocupar. Ele mandou outra perguntando se eu tinha certeza, e eu confirmei, dizendo que meu pai estava bravo, mas que ele não me agrediria, se era isso que ele pensava.

Mas acordei com um nó na garganta, uma sensação de angústia que parecia se estender por cada célula do meu corpo. A noite anterior, que deveria ter sido um momento de intimidade e conexão com Red, havia se transformado em um pesadelo. Meu pai, com um olhar de fúria que eu nunca tinha visto antes, havia interrompido tudo. Tinha saído de casa sem falar com ele, não comi nada e simplesmente fui. Precisava trabalhar, mas não sabia o porquê meu pai tinha voltado mais cedo. O medo e a confusão ainda me assombravam, e isso se intensificou quando percebi que havia esquecido a sandália de balé em casa.

No meio do caminho, percebi que tinha deixado a sandália para trás. Me xinguei mentalmente e voltei do ponto de ônibus. Eu precisava daquela sandália para ensaiar. No caminho de volta, uma sensação de inquietação crescia dentro de mim, como se estivesse caminhando em direção a um destino desconhecido e perigoso.

Ao chegar em casa, algo me surpreendeu: a porta estava aberta. Alguém havia deixado a porta assim, mas as gêmeas tinham saído cedo com a mãe. Meu pai deve ter esquecido, pensei. Fui imediatamente confrontada por uma onda de vozes intensas. O som de uma discussão fervorosa ecoava através da porta, e eu me senti como se estivesse invadindo uma cena que não era para eu ver. Encostei-me na porta, minha respiração entrecortada enquanto tentava distinguir as palavras.

- Nós tínhamos um acordo, Red! - A voz do meu pai era um rosnado de frustração, o tom carregado de uma fúria clara.

Red e meu pai? Acordo? Mas que acordo era esse? Eu não conseguia parar de ouvir, mesmo que quisesse.

- Eu tinha 15 anos e quero que esse acordo se foda! - A resposta de Red era um grito desafiador, cheio de uma raiva contida que se transformava em desafio.

- Você disse que ia ficar longe da minha família!

As palavras do meu pai eram como chicotadas, e eu podia sentir a tensão no ar como uma pressão física. Aproximando-me ainda mais da porta, meu corpo estava rígido, o coração batendo acelerado contra o peito.

- E não fiz, e daí? Já falei, não ligo. porra!

- Você é um homem sem palavras - meu pai retrucou, sua voz um misto de desprezo e desapontamento.

O silêncio que se seguiu era denso e carregado. O som da risada de Red quebrou o silêncio, uma risada profunda e amarga que reverberou com um desdém cruel.

- Eu, por acaso, fui eu quem traiu minha esposa com a minha mãe? - Red desafiou, a voz carregada de um veneno sombrio.

As palavras caíram como uma bomba, e a sensação de choque me paralisou. Eu estava prestes a desmoronar quando a revelação final atingiu como um golpe mortal. Eu comecei a tremer. Traiu? Meu pai tinha traído a minha mãe? Com a Melissa? Senti o nó na minha garganta se apertar.

- Mas foi você que fez com que ela descobrisse - a voz do meu pai se tornou um lamento sombrio. - E a envenenou contra mim!

- Por que eu achava demais um canalha pagando de família, enquanto a minha estava sendo negligenciada! Destruída!

- Foi isso que levou Kamila a se matar.

O choque era tão intenso que me fez cambalear. Eu me apoiei na parede, tentando manter a compostura enquanto o mundo girava ao meu redor. As palavras de meu pai eram uma revelação devastadora, e a dor da traição parecia rasgar meu coração em pedaços. Minha mãe tinha se matado? Meu pai tinha traído ela com a Melissa? E Red fez com que minha mãe descobrisse tudo? As lágrimas escorriam pelo meu rosto como um rio, e eu tentava silenciar qualquer soluço que ameaçasse sair. Por que eles mentiram para mim?

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