32• CONVITE PARA UM ENCONTRO

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Clary Miller

Acordei animada hoje. Acho que é por saber que verei o Red de qualquer forma. Marcamos uma aula para hoje, para repor a de segunda-feira, quando apenas dormimos. Não que eu esteja reclamando; pelo contrário, eu gostei. Dormir profundamente, como se não dormisse todos os dias, foi um alívio. Eu não durmo bem e evito tudo que me dá insônia. Costumo não dormir muito, mas dormir com ele fez com que nos conectássemos mais. Não posso me iludir com o Red; talvez nossos encontros acabem depois das aulas, e eu não passe de uma caridade para ele.

Pensar nisso me deixa um pouco magoada, mas o que posso fazer além de ficar agradecida por ele me ajudar? Vou entregar o convite a ele porque gostaria muito que ele fosse. Isso é muito importante para mim. Mas se ele não for, não tenho o direito de ficar magoada. Afinal, ele já fez muito por mim, mais do que qualquer um já fez na vida, mesmo com o jeito dele.

- O que essa cabecinha pensa tanto?

A voz da Dani me faz levantar o olhar para ela, que se encosta no balcão, ficando de frente para mim. Ela está com um sorriso um tanto brincalhão no rosto.

- Estou pensando na minha apresentação de balé.

O rosto dela pareceu se iluminar, e ela abriu um sorriso enorme para mim. Me senti um pouco envergonhada com isso.

- Apresentação de balé? E por que só estou sabendo agora?

Sorri sem jeito. Não estava mentindo ou omitindo nada para ela, era só que não sabia se ela ia querer ir. Nossa amizade ainda é nova, mesmo que a Dani tenha se tornado alguém especial para mim.

- Ah... - falei, sem jeito - não é nada demais, e eu não queria incomodar.

- Nada demais? - ela riu uma risada um pouquinho irônica - Com certeza é algo importante, é uma apresentação e pode apostar que eu vou.

Sorri sem jeito. Ainda sinto vergonha em pensar que terei que me apresentar para umas 200 pessoas. Ainda preciso pensar em como vou lidar com o nervosismo e a vergonha. Legal, eu não tinha isso e agora tenho.

- Vou comprar o ingresso, pode apostar.

Balancei a cabeça negativamente, com um sorriso curto no rosto. Dani tinha um sorriso largo e os ombros relaxados.

- Não precisa gastar dinheiro com isso, Dani. Vou me sentir mal.

- Oh... - ela fez uma careta - eu que vou me sentir mal por não ir.

Dani é uma pessoa teimosa e determinada. Ela é muito extrovertida e sempre faz o que dá na cabeça, mas acho que é isso que a torna tão especial e faz as pessoas, ou quase todas, quererem estar perto dela.

- Está bem... - eu sorri. - Me fala como está com o Lion?

A expressão dela mudou para apreensiva e pareceu muito triste ou chateada com a menção do nome dele. Rapidamente me arrependi por ter perguntado, já que ela parecia gostar tanto dele.

- Desculpa, não devia ter perguntado.

- Não... - ela respirou fundo - tudo bem, você pode perguntar, é que... a gente vem brigando e tem um tempo que não o vejo, sabe?

- Acho que sim. Ainda não aceitaram, né?

Ela olhou para o teto e rapidamente voltou a olhar para mim. Os olhos dela demonstravam o quanto tudo aquilo a chateava, e me senti um pouco mal por vê-la assim. Esse era um sentimento novo.

- Não, e com o Motorash bem próximo, a rivalidade só aumenta, e ele não tem tempo para mim.

- Moto o quê? - perguntei, confusa. Lembro de ter ouvido algo sobre isso em algum lugar, mas não sei onde.

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