31• CONVITE

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Clary Miller

Corri pela rua, sentindo o vento frio cortar meu rosto e o medo pulsar em cada fibra do meu corpo. Meus pés batiam apressados contra o asfalto, enquanto meu coração ecoava no peito, pesado e acelerado. O pavor estampado no meu rosto deixava claro o quão desesperada eu estava para chegar em casa. Eu rezava, implorava em silêncio para que Paloma ou as gêmeas não me vissem. Sabia que, se alguma delas me pegasse saindo da casa do Red, estaria em sérios problemas.

Minhas mãos suavam e tremiam enquanto tentava, com dificuldade, encaixar a chave na fechadura. Respirei fundo, tentando controlar o pânico que começava a subir pela minha garganta. Girei a chave e soltei um suspiro de alívio ao empurrar a porta e encontrar a casa vazia. Finalmente, pude respirar.

Assim que fechei a porta, meu celular vibrou no bolso. Olhei para a tela e o nome do meu pai apareceu. Eu já esperava essa ligação, especialmente depois do que a Paloma provavelmente havia dito a ele.

- Oi, pai - falei, colocando o celular no ouvido enquanto caminhava em direção ao meu quarto.

- Oi, princesa. Liguei pra saber como você está - a voz dele soou preocupada, mas suave.

Acendi a luz do quarto e me joguei na cama, olhando para o teto. Sabia que a Paloma havia falado com ele, e embora ela nunca estivesse realmente preocupada, a maneira como agia sempre me fazia sentir mal diante do meu pai. Ela sabia exatamente como criar a imagem de que estava cuidando de mim.

- Estou bem, pai... - comecei, escolhendo as palavras com cuidado para não alarmá-lo - Eu sei que a Paloma falou com o senhor.

Do outro lado da linha, houve um silêncio desconfortável. Meu pai raramente ficava sem palavras quando conversava comigo, mas dessa vez ele hesitou. Eu me sentia uma filha horrível por mentir, mas sabia que ele nunca aprovaria o Red, por mais que ele estivesse me tratando tão bem ultimamente.

- A Paloma está preocupada - ele disse, e eu podia imaginar o olhar sério no rosto dele - E eu também, querida. Por que você tem chegado tão tarde em casa? Está... está com algum namorado?

Senti uma pontada de frustração ao ouvir a pergunta. Paloma tinha conseguido envenenar meu pai contra mim, como sempre. Ele confiava cegamente nela, e isso me machucava mais do que eu gostaria de admitir. Respirei fundo antes de responder.

- Não, pai, não estou namorando.

- Ah... - ele exalou, claramente aliviado, embora tentasse não demonstrar - Você tem mudado muito. Não estou reclamando, claro. Deus sabe o quanto fico feliz, mas... tenho medo.

- Pai, eu só chego tarde por causa das aulas de balé. Às vezes, estudo até tarde na biblioteca e... - respirei fundo, decidindo ser um pouco mais honesta - Fiz uma amiga, e de vez em quando saímos juntas.

- Uma amiga? Isso é ótimo! Quem é ela?

Dani tinha se tornado uma amiga de verdade para mim. Eu realmente gostava da companhia dela, e nos dávamos bem, mesmo que muitas vezes estivéssemos junto com o Red. Isso tornava a minha resposta apenas uma meia verdade.

- Ela é filha dos meus patrões, pai. Às vezes saímos juntas. Algum problema com isso?

- Não, querida, só avisa a Paloma. Ela fica preocupada.

Eu duvidava seriamente que Paloma se importasse comigo. Para ela, tudo era questão de conveniência, de ganhar ou perder algo. Ela temia que algo acontecesse comigo e meu pai acabasse culpando-a. Mesmo com todos os defeitos dela, eu sabia que ela gostava do meu pai, e ele era a única razão pela qual ela fingia se importar.

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