58• KAROKÊR

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Clary Miller

A mensagem de Red chegou no meu celular na manhã de quinta-feira, o que fez meu coração bater mais forte. Ele me chamava para sair no sábado. Era oficial, finalmente teríamos um encontro de verdade, diferente daquela vez que ele, de propósito, arruinou minha tentativa. Eu sabia que tinha sido ele, seus olhos não negavam e o fato dele saber que seria desmarcado.

As coisas entre nós estavam fluindo de forma surpreendentemente boa, embora ainda não tivéssemos definido o que éramos um para o outro. Gosto de estar com ele, é simples. A presença de Red era intensa, quase como uma chama que não cessa de queimar, e estávamos nos aproximando cada vez mais.

Durante a semana, eu passava na casa dele quase todas as noites. Voltava do canil e ia direto para lá, e ficávamos juntos até perto das sete. Nos pegávamos no sofá, assistíamos a qualquer coisa que estivesse na TV — não que a programação realmente importasse. Comíamos, ríamos e, muitas vezes, eu o ajudava na garagem, mesmo que fosse só uma desculpa para nos beijarmos entre uma ferramenta e outra. Eu tentava ajudar a consertar os carros, mas mal começava e ele já me puxava para perto, nossas mãos sujas de graxa, os corpos colados, e os beijos tomavam conta do espaço que deveria ser dedicado ao trabalho.

Paloma e as gêmeas nos observavam. Elas viam minhas idas e vindas da casa como se fossem espectadoras de algo que não podiam controlar. Suas expressões vazias, de pura indiferença, eram quase reconfortantes. Pelo menos agora, elas não estavam me perseguindo como antes, e eu sabia que, de certa forma, estavam desistindo.

No sábado, ouvi o som inconfundível da moto de Red rugindo ao parar em frente à minha casa. O nervosismo correu por mim como uma corrente elétrica. A moto era intimidadora, assim como ele, mas havia algo no perigo que me atraía. Caminhei até ele, meus passos lentos, quase hesitantes, enquanto ele descia da moto com aquela confiança avassaladora. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me puxou pela cintura, colando nossos corpos em um beijo intenso, e eu senti a familiar urgência na maneira como seus lábios capturavam os meus.

— Então, onde vamos? — perguntei com um sorriso que eu sabia que o provocava.

— Já falei que é surpresa, docinho. — O tom rouco dele era uma mistura de diversão e mistério. — Para de ser tão curiosa.

Eu ri. Havia perguntado mil vezes e ele sempre respondia da mesma forma. De certa maneira, seu controle sobre tudo me fazia sentir segura, mesmo quando não sabia o que esperar.

Ele me mostrou o capacete que tinha trazido para mim. Com cuidado, Red o colocou em minha cabeça, ajeitando as tiras como se estivesse cuidando de algo precioso. Seus dedos roçaram levemente minha pele enquanto ele ajustava tudo, e então ele fez o mesmo com o próprio capacete. Subiu na moto com a mesma facilidade de sempre, e me esperou.

Subir na moto nunca era fácil para mim, meu corpo hesitava, mas com um pouco de dificuldade, consegui. Passei meus braços pela cintura dele, apertando-o com força, e senti seus músculos se contraírem sob minhas mãos. Eu sabia que ele gostava quando eu o segurava com firmeza, como se aquilo reafirmasse que, de alguma forma, que estávamos juntos.

Quando Red arrancou com a moto, o motor rugiu com ferocidade, e eu fui empurrada levemente para trás. O vento chicoteava contra meu rosto, a adrenalina pulsava em minhas veias, misturada com o medo que ainda sentia de estar sobre duas rodas com ele. Mas ao mesmo tempo, era excitante. Cada curva que ele fazia, cada aceleração, era como um lembrete da intensidade de quem ele era. Tudo em Red era sempre no limite.

Me perdi em pensamentos enquanto passávamos por ruas desconhecidas, o cenário ao nosso redor mudando lentamente. Começamos a sair da cidade, e as luzes urbanas foram substituídas pelo silêncio das estradas mais desertas, cercadas por árvores. Aos poucos, percebi que estávamos nos aproximando de um lugar mais tranquilo, um canto distante do caos da cidade.

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