48• SENTIMENTOS TURBULENTOS

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Red Blossom

A mão de Renan em meu ombro era a única coisa que me impedia de ir até aquele desgraçado. Rodrigo estava perto demais do meu docinho, e cada palavra que saía da boca dele fazia o corpo dela se encolher, como se estivesse desconfortável com cada sílaba. A raiva queimava dentro de mim, uma fúria primitiva e possessiva. Ele queria o que era meu, e isso fazia meu estômago embrulhar, como se minha fera interior estivesse pronta para rasgar o mundo ao meio.

A brisa, que antes era fresca e tranquilizadora, agora parecia quente como o fogo que me consumia, cada sopro de vento incendiando ainda mais meu desejo de esmaga-lo.

- Red, assim não! - Renan sussurrou, tentando me manter preso à realidade.

Esperei, cada músculo tenso, até ver Rodrigo entrar no carro. Ele notou meu olhar mortal e acelerou o passo, consciente de que estava flertando com o perigo. A cada dia, o ódio e o ciúme dentro de mim cresciam, e eu sabia que esses sentimentos me tornavam mais sombrio, mais perigoso. Como naquela última vez, quando o carro de Samuel misteriosamente pegou fogo, uma mensagem clara que ele entendeu perfeitamente. "Fica longe da garota que não te pertence" apareceu escrita na casa dele.

- Porra! - rugi, a fúria explodindo dentro de mim como lava, me virando para encarar Renan, que me observava com um olhar profundo e calculado.

- Você precisa ter calma.

- Que calma, Renan, hein? - retruquei, irritado, puxando um cigarro do bolso com as mãos trêmulas e acendendo-o com um gesto brusco. A primeira tragada foi furiosa, o calor da brasa combinando com o que eu sentia por dentro. Renan ergueu uma sobrancelha, cético.

- Quer assustar ela? É isso?

- O quê? Claro que não! - rebati

- Então o que? Ia socar ele na frente dela? - Ele cruzou os braços, me desafiando com seu olhar. - É isso?

Traguei profundamente, tentando apagar o fogo que queimava meu bom senso.

- Não é uma ideia tão péssima assim... - murmurei, deixando o fumo escapar de meus lábios.

Renan balançou a cabeça, ainda mais furioso. - Você só está falando isso porque está com raiva. - Ele deu de ombros, seu olhar endurecendo. - Quer fazer algo? Então vamos fazer do nosso jeito.

Eu deveria consertar a moto para a corrida de hoje à noite, mas a fúria em mim era como um prego cravado na carne, me distraindo, me envenenando. Mas uma coisa era certa: Rodrigo entenderia que precisava ficar longe dela. E eu faria questão de deixar isso bem claro.

Correr naquela noite não seria fácil, não com a minha moto fora de ação. Teria que contar com a do Renan. Era a minha segunda corrida consecutiva no vento cortante que prometia durar dias. Festas incessantes, bebida transbordando e mulheres por todo lado, mas ultimamente, nada disso me interessava. Minha mente e meu corpo estavam em outro lugar, fixados em uma única pessoa.

Clary Miller. Minha doce e enigmática bailarina. Nenhuma mulher se comparava a ela, nenhuma atraía o meu olhar como ela fazia. A ideia de sexo casual havia se tornado irrelevante, mesmo com todas essas corridas e festas que normalmente me consumiam.

A noite estava fria, o ar denso com a fumaça dos pneus queimados. As luzes dos postes e da pista projetavam sombras longas sobre o asfalto, misturando-se com os flashes das câmeras e o brilho dos celulares. A música alta vibrava no meu peito, enquanto a multidão nas arquibancadas se agitava. Entre todas aquelas vozes e rostos, avistei Dani na primeira fileira, me observando atentamente.

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