43• CARINHO

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Red Blossom

Era um risco enorme sair de moto, o céu já se fechava em nuvens escuras, prenunciando uma tempestade iminente. As primeiras gotas de chuva começaram a pingar no asfalto, e o vento frio cortava como lâminas enquanto subia na moto. Mas, antes que pudesse girar a chave, o toque do meu celular ressoou como um grito no silêncio da tarde. O nome dela apareceu na tela, e uma onda de pânico me tomou.

- Red... - a voz dela estava irreconhecível, sufocada pelo choro. - Me ajuda...

O desespero na voz dela perfurou meu peito. Não houve tempo para responder, a ligação caiu, deixando um silêncio aterrador no ar. Olhei para a casa dela do outro lado da rua, minha mente já girando com as piores possibilidades. Se algo aconteceu com ela..., pensei, enquanto a raiva crescia dentro de mim, vou fazer todos pagarem. Não restar ninguém, vou destruir-las. Minha mão tremia enquanto segurava o celular com tanta força que parecia que iria despedaçá-lo.

Não pensei duas vezes. Atravessar a rua foi um borrão. Cada passo era um eco surdo da minha fúria, minhas botas esmagando as poças d'água que se formavam. Não me importei com quem estava na casa dela. Se alguém tentasse me impedir, iria conhecer o verdadeiro significado de dor. Entrei com força, o som da porta batendo reverberando pela casa vazia. Cada cômodo parecia sufocante, as paredes estreitas e escuras pareciam se fechar ao meu redor enquanto procurava por ela.

Meus passos ressoando como trovões nos corredores estreitos. Fui direto ao quarto dela, mas o espaço estava vazio, a cama intocada. A ausência dela era como uma faca me cortando por dentro. Subi para os outros quartos, abrindo portas com tanta força que elas batiam contra as paredes, ecoando em toda a casa. Onde diabos ela está? A fúria borbulhava dentro de mim, e o sangue pulsava em minhas têmporas, ameaçando explodir.

- Mas que porra! - gritei, minha voz ressoando pelas paredes. Era um misto de raiva e desespero, uma combinação mortal.

Então, ouvi. Um som quase imperceptível, abafado, como um soluço distante. Parei, o silêncio da casa parecia ainda mais opressor. Estava vindo da cozinha. Caminhei até lá, meus passos agora silenciosos, carregados de tensão. O choro fraco, mal audível, se tornava cada vez mais claro, cada soluço como uma punhalada em mim. Olhei ao redor freneticamente, e então percebi que o som vinha de trás da porta da dispensa.

Sem hesitar, usei toda a força que tinha para arrombar a porta. Ela cedeu com um estrondo, escancarando o pequeno espaço escuro. A luz piscava fracamente, lançando sombras longas e distorcidas nas paredes. Ao princípio, meus olhos demoraram para se ajustar à escuridão, mas então, no canto mais distante, eu a vi. A visão dela me atingiu como um soco no estômago.

Ela estava encolhida no chão, os joelhos abraçados ao peito, a cabeça enterrada entre as pernas. O corpo inteiro tremia descontroladamente. Aquele lugar pequeno e apertado parecia engoli-la viva, e eu podia sentir o desespero pulsando no ar ao redor dela. Era como se cada respiração dela fosse uma luta contra a escuridão que a envolvia. A luz fraca piscava acima de nós, criando um ritmo cruel, sincronizado com o pânico que transmitia o corpo dela.

Me aproximei devagar, o coração pesado com o que eu estava prestes a enfrentar. Cada passo parecia pesar toneladas. Abaixei-me até ficar na altura dela, minha mente lutando para processar o que via. Estendi a mão, hesitante, querendo tocá-la, mas ao mesmo tempo com medo de quebrar o que restava dela.

Quando meus dedos finalmente roçaram seu ombro, ela se sobressaltou violentamente, como se meu toque fosse mais um golpe. Então, levantou o rosto devagar, os olhos vermelhos e inchados pelo choro, perdidos e desesperados. Nunca vou esquecer a expressão que vi. Aquele olhar... era a personificação do medo, da dor, da solidão.

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