63• TULIPA VERMELHA

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Clary Miller

Uma semana se passou, e eu mal vi o Red. O vazio que ele deixou desde nosso último encontro me consumia de uma forma perturbadora. Eu sabia que ele não tinha gostado de como as coisas estavam, mas não pude evitar. Eu precisava de um tempo para mim. O problema é que, mesmo longe dele, a confusão dentro de mim só aumentava. Red podia ser cruel e dominador em momentos, mas, em outros, ele era absurdamente gentil. Isso me desorientava. Como ele podia ser assim comigo? Eu o amava de uma forma que não conseguia explicar, mas havia sempre aquela dúvida corrosiva: será que ele sente o mesmo? Ou sou apenas mais uma diversão?

Ele me mandou várias mensagens nos últimos dias, insistindo para que eu fosse até sua casa. Só que eu não queria ver Melissa de novo. O constrangimento de ter transado com o filho dela ainda me corroía por dentro, e a ideia de ficar com ele perto dela me deixava envergonhada. Era algo que eu prometi a mim mesma que jamais faria, e, no entanto, ali estava eu. Já havia cruzado essa linha.

Trocamos alguns beijos rápidos nos dias seguintes. Red, sempre impaciente, queria mais. Ele tentava me levar para a cama a todo momento, mas eu consegui evitar usando a velha desculpa das cólicas. E não era mentira, eu realmente estava mal, provavelmente por causa da pílula do dia seguinte. Mas, por mais que meu corpo estivesse cansado, a verdade é que eu também queria ele de novo. O desejo fervia sob a superfície, esperando o momento certo para explodir.

Foi por isso que eu vim até aqui hoje. Melissa me deixou entrar na casa sem dizer muito, mas o olhar que me lançou me fez sentir pequena. Achei que tínhamos passado daquela fase de olhares de julgamento, mas aparentemente não. Mesmo assim, ela me deixou entrar até o quarto de Red e saiu para uma reunião da ONG. Foi aí que percebi que essa era a oportunidade perfeita: a casa estava vazia, e eu sabia que Red não demoraria.

O silêncio no quarto era quase reconfortante, exceto pelo som suave de Thor respirando ao pé da cama. O cachorro parecia tranquilo, totalmente alheio ao que se passava na minha mente. Eu, por outro lado, estava inquieta. Rolei na cama macia, afundando no colchão como se isso pudesse me ajudar a passar o tempo mais rápido. O cheiro de Red estava por toda parte, uma mistura de madeira e menta, o que só intensificava minha ansiedade.

Depois de alguns minutos, comecei a me sentir entediada. Talvez eu devesse ter avisado Red que estava vindo. Talvez ele nem soubesse. Mas era para ser uma surpresa, afinal. Minha mente vagueava quando meus olhos caíram na mesinha dele. A gaveta final, a única que sempre estava trancada, agora parecia levemente aberta. Algo dentro de mim deu um nó.

Eu sabia que não deveria. Cada parte de mim gritava para não fazer isso. Invadir a privacidade de Red era um erro. Ele quase nunca falava de si mesmo, e aquele silêncio sempre me incomodou. Antes que eu percebesse, já estava de pé, me abaixando para abrir a gaveta com cuidado. O arrependimento pulsava em minha mente, mas a curiosidade era mais forte. O que ele escondia ali?

Puxei a gaveta lentamente e vi uma caixa preta, amarrada com uma fita vermelha. O laço era meticulosamente feito, quase como se alguém tivesse tomado o maior cuidado para guardar algo de valor. Meu coração batia descontrolado no peito. Eu deveria parar, deveria fechar aquilo de volta e fingir que nunca vi. Mas meus dedos já estavam desamarrando a fita, sentindo a maciez do tecido entre eles. Quando finalmente abri a caixa, senti meu corpo paralisar.

— Mas que porra!

Minha voz saiu trêmula, um sussurro que mal reconheci como meu. Dentro da caixa, havia um desenho meu. Eu estava sentada em um parquinho à noite, exatamente como me lembrava de ter estado há alguns meses. Meus dedos tremeram quando retirei outro item: um desenho meu de calcinha e sutiã, do dia em que ele me pediu para ficar nua na frente dele. Meu corpo congelou. Havia mais fotos, e eu não conseguia parar de olhar. Eu na aula de balé. Eu andando na rua. Indo para consultas médicas. Fotos recentes, fotos antigas. Havia até fotos minhas indo para a escola. Meu coração disparava, minha cabeça latejava com o medo crescente. Como ele tinha conseguido essas fotos? Fotos minhas na minha casa, fotos com meu pai.

Mais adiante, encontrei um objeto familiar: a xuxa que eu havia perdido na jaqueta dele no dia em que cair na água. Estava ali, guardada como um troféu. Minhas mãos tremiam tanto que mal consegui segurar o último item. Era uma tulipa, envolta em resina. Eu a reconheci imediatamente. Era a última tulipa que minha mãe me deu, com as pétalas amassadas e cortadas dos dois lados, do jeito que ela costumava fazer. A náusea subiu rapidamente pelo meu corpo. Eu ia vomitar. O pânico começou a tomar conta de mim, o suor escorrendo pela minha testa. Isso é doentio e errado, minhas mãos estão tremendo.

Foi então que ouvi o clique da porta se abrindo. O som seco me fez girar na direção da entrada, e lá estava ele, parado na porta, me observando com aqueles olhos que pareciam poder atravessar minha alma.

Red entrou, sem dizer uma palavra. Tudo ao redor parecia mais escuro, pesado. As coisas que eu tinha acabado de descobrir... aquilo era doentio, e eu sabia que nada mais seria o mesmo.

Nota da autora:

Olá, é a Violet. Vim aqui dar um pequeno aviso sobre o nosso querido Red. O livro é um dark romance, e mesmo que ele seja fofo com ela, precisamos lembrar que ainda é um romance sombrio. Vamos explorar o lado mais obscuro do Red.

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