37• JOGO PERIGOSO

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Clary Miller

Mexi-me na cama, ainda meio desorientada, tentando entender onde estava. A sensação de confusão se dissipou quando minhas mãos encontraram as costas de Red, deitado de barriga para baixo, mergulhado em um sono profundo. Seu corpo quente e relaxado me trouxe de volta à realidade, e eu recuei lentamente, lembrando-me do que havia acontecido para chegar até ali.

Coloquei a mão sobre os olhos, tentando bloquear as memórias do encontro frustrado da manhã. A certeza de que Red estava escondendo algo de mim era perturbadora e constante. Mesmo sem ter uma resposta sobre o sonho que ele teve, eu sentia que havia algo crucial não revelado. Observava-o dormir pesadamente, as costas subindo e descendo de forma tranquila. Havia uma verdade no que ele dizia sobre dormir melhor ao lado de alguém; minha mãe sempre afirmava que a presença de outro ser tornava o sono mais reparador, e Red era a prova concreta disso.

Olhando para o celular na mesa de cabeceira, percebi que já eram quatro da tarde. O tempo havia voado. Sabia que não podia permanecer ali indefinidamente e não tinha certeza se queria esperar que ele acordasse. Estávamos jogando um jogo perigoso, e eu me sentia perdida sem uma saída clara.

Levantei-me com cuidado para não perturbar o sono de Red. O chão frio contra meus pés descalços era um contraste perturbador com o calor do leito. Thor, o cão, me observava do canto do quarto, seus olhos atentos, mas logo desviou o olhar, como se compreendesse minha necessidade de sair sem ser incomodada. Peguei meu tênis do chão e, apressada, calcei-o. O som do couro se encaixando nos meus pés parecia alto na quietude do ambiente. Abri a porta com a maior delicadeza possível e saí, atravessando a rua com passos apressados e cheios de urgência.

O desejo de estar com ele era forte, mas a crescente sensação de perigo tornava a situação cada vez mais complicada. A cada dia, a conexão com Red se intensificava, e a ideia de me afastar dele se tornava cada vez mais dolorosa.

Ao abrir a porta de casa, dei de cara com Beatriz, parada próximo a porta. Seu olhar, afiado e investigativo, me pegou de surpresa. O choque me fez dar um passo para trás, meu coração acelerando com o susto.

- Onde você estava? - Sua voz carregava uma desconfiança pesada, e eu senti um frio na espinha. Se ela soubesse que eu havia saído da casa de Red, a situação seria ainda mais complicada.

- Eu fui à... à biblioteca. - Minha voz tremia, tentando esconder a verdade.

Beatriz cruzou os braços sobre o peito, seu olhar penetrante percorrendo meu corpo com uma intensidade quase opressiva. Eu sabia que minhas roupas não condiziam com uma visita à biblioteca. Esperava que ela soltasse algum comentário sarcástico ou acusatório, mas, para minha surpresa, ela apenas disse:

- Mamãe está te esperando.

- Certo, daqui a pouco eu vou lá.

Enquanto me dirigia ao meu quarto, o olhar de Beatriz continuava fixo em mim, seu semblante carregado de suspeita. Fechei a porta do quarto e respirei fundo, sentindo o peso do confronto iminente. Beatriz informaria a irmã, e logo as duas estariam me pressionando como predadoras. Eu precisava ser ainda mais cautelosa.

Troquei de roupa rapidamente, tentando parecer natural, e fui ao escritório de Paloma. Eu sabia que ela não tolerava atrasos. Assim que bati na porta, ela me pediu para entrar. Levantou o olhar do notebook rapidamente, mas logo voltou à tela, como se sua atenção não estivesse realmente em mim.

- Onde você estava? - Sua pergunta foi direta e sem rodeios, mas antes que eu pudesse responder, ela interrompeu. - Quer saber? Não me interessa.

- Quer falar comigo? - Perguntei, tentando manter a calma e a indiferença.

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