40• DIA DE TEMPESTADES

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Clary Miller

Eu tinha voltado à estaca zero. Não que antes as coisas estivessem tão boas, mas saber que passaria a tarde com o Red fazia tudo parecer melhor. Hoje, no entanto, meu dia estava cinza.

Ao me aproximar do parquinho, vi algumas crianças brincando com seus pais. Aquele momento me trouxe uma saudade profunda da minha mãe, e quase automaticamente levei a mão ao meu colar.

Tirei o celular do bolso e disquei o número do meu pai. Talvez conversar com ele me ajudasse a lidar com essa sensação, já que não poderia ir à casa do Red e tinha certeza de que Paloma e as gêmeas estavam de olho em mim.

Ele atendeu no segundo toque, o que me fez rezar para que não estivesse dirigindo. Sempre odiei incomodá-lo quando estava na estrada.

- Filha, que milagre você me ligando! - Ele parecia calmo, e o alívio veio ao perceber que não estava ao volante. Soltei um suspiro baixo, mordendo o lábio enquanto caminhava lentamente pela rua, tentando conter as lágrimas.

- Oi, pai.

- Clary? Está tudo bem? - A preocupação em sua voz era clara, e era a última coisa que eu queria causar. O medo de distraí-lo e que isso resultasse em um acidente sempre me assombrava.

- Está sim... só estou com saudades. - Minha voz tentou soar natural, e silenciosamente, eu rezava para que ele não percebesse a verdade por trás dela.

- Ainda vai demorar para eu voltar pra casa. - Ele respirou fundo. - Mas, se precisar de algo, peça à Paloma.

- Está bem... - Eu preferia passar fome e sede a pedir algo a ela.

- E o carro? Você gostou?

Ah, o carro. Aquele maldito carro dos sonhos das gêmeas. Meu pai sempre trabalhou duro como caminhoneiro, e depois que comprou aquele carro que elas tanto desejavam, parecia que não passava dois meses em casa. Tudo o que eu queria era que ele ficasse mais tempo aqui. Quando me aproximei da porta de casa, senti um frio na barriga; minhas pernas tremeram um pouco.

- Filha? Filha? - A voz dele me trouxe de volta à realidade, e me lembrei da pergunta que ele tinha feito.

- Gostei sim, pai... estou com saudades.

Por mais que eu tentasse segurar, sentia as lágrimas queimando nos meus olhos. Parei diante da porta, respirei fundo antes de abrir e entrar.

- Eu também estou, filha. Preciso desligar, mas te amo, viu?

- Também te amo, pai.

Olhei ao redor da casa. Tudo estava quieto, silencioso demais. Não sabia se deveria chorar de alívio ou de infelicidade por estar aqui. Pelo menos, teria um pouco de paz.

Fui para o meu quarto, peguei uma toalha, pronta para tomar um banho e tentar relaxar. Antes, porém, peguei o celular e escrevi uma mensagem para o Red. Mesmo querendo muito ir, não podia me arriscar a irritar Paloma ou as gêmeas e passar por tudo aquilo de novo.

Clary
Não poderei ir hoje.

Esperei que ele não respondesse, mas a resposta veio rapidamente, e meu coração deu um pequeno salto.

Red Blossom
Está bem? Aconteceu alguma coisa?

Ele me fez duas perguntas simples, mas a verdade é que muita coisa tinha acontecido. Coisas que ninguém jamais imaginaria. Agora, eu estava condenada a ficar longe dele. Não queria nem pensar no que aconteceria se eu ousasse me aproximar de novo.

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