ATORMENTADOS

46• CISNEI NEGRO

Clary Miller

Uma semana se passou, e tudo está muito estranho. As gêmeas e Paloma estão agindo de forma esquisita, mais do que o normal. Elas me evitam a todo custo. Antes, faziam questão de me irritar, de invadir meu espaço. Agora, agem como se eu fosse algum tipo de bicho. Se estou na sala, elas saem apressadas. Se vou à cozinha, logo arrumam uma desculpa para sair, sem sequer me olhar. O ambiente que já era tenso, agora parece um campo minado de silêncios constrangedores e portas batendo.

Mas, no momento, estou ocupada demais para tentar entender o que está acontecendo. Hoje é o dia da minha apresentação, e a ansiedade corrói cada pedacinho do meu ser. Nunca subi em um palco antes, e só de pensar nas pessoas me observando, sinto um nó se formar na minha garganta. Estou atrás das cortinas, espiando a plateia como uma desesperada. As pessoas continuam chegando, ocupando cada assento, e meus nervos estão à flor da pele. Preciso de uma distração, de algo para me manter no controle, mas a única coisa que consigo fazer é esperar por Red e Dani. Saber que eles estarão lá me conforta, mas ao mesmo tempo, só aumenta a pressão.

- Clary? - A voz suave de Teresa me tirou de meus pensamentos. Virei-me, encontrando seus olhos gentis e um sorriso breve em seu rosto.

- Ah, oi... - respondi, tentando soar normal, mas minha voz saiu falha.

- Fica tranquila, você está linda e vai ser uma ótima apresentação. Você vai ver. - Seu tom era encorajador, mas por dentro, eu ainda me sentia uma bagunça.

- Está bem... - respondi, forçando um sorriso.

- Venha, as garotas vão começar a apresentação.

Acompanhei Teresa até um ponto onde podíamos ver o palco sem sermos vistas. Tentei, com todo o cuidado, não amassar o vestido negro que usava, adornado com penas que caíam delicadamente sobre o tecido. Meu penteado estava firme, e a maquiagem escura nos olhos acrescentava um toque dramático, mas também escondia o medo que se refletia em meu olhar.

As garotas iniciaram a apresentação com uma leveza e sincronia impressionantes. Embora eu raramente as tenha visto ensaiar, era evidente que cada uma delas havia se dedicado. Teresa observava com orgulho, um sorriso de satisfação brincando em seus lábios enquanto as meninas dançavam.

A cada movimento gracioso, o meu coração batia mais rápido, e o nervosismo crescia. Minha mente estava dividida entre a admiração pela dança das outras e o medo iminente da minha própria performance. Eu havia treinado incessantemente para este momento, me dedicando de corpo e alma, e agora o grande dia finalmente havia chegado. Estava prestes a enfrentar o medo que carregava comigo.

Quando as meninas finalizaram sua coreografia em uma pose elegante, soube que minha vez tinha chegado. Engoli em seco, respirando fundo na tentativa de acalmar os nervos. Teresa tocou meu braço com delicadeza, um gesto reconfortante que me deu uma pequena dose de coragem.

- Clary Miller, Cisne Negro. - A voz do anunciante ecoou pelo teatro, fazendo meu corpo inteiro tremer.

O frio na minha barriga intensificou-se, como se um turbilhão de emoções girasse dentro de mim. Dei os primeiros passos em direção ao centro do palco, cada movimento uma mistura de nervosismo e excitação. Meus olhos varreram rapidamente a plateia, e lá estavam eles, na primeira fila. Red, Dani e até Renan. Suas presenças deveriam me confortar, mas a pressão aumentou ainda mais.

A música clássica de "O Cisne Negro" começou a tocar, e, por um momento, tudo ao meu redor pareceu desaparecer. Era o meu momento. Eu podia sentir os olhares em mim, o peso da expectativa, mas também algo mais... Algo que me dizia que essa era a chance de mostrar quem eu realmente era. Respirei fundo e deixei que a música me guiasse, me entregando ao que eu havia treinado por tanto tempo.