72• JANTAR

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Clary Miller

O sol estava forte quando me aproximei da casa de Red. Cada passo que eu dava em direção à porta fazia meu coração acelerar, um misto de nervosismo e antecipação. Já tinha estado aqui várias vezes antes, mas agora a dinâmica era diferente. Agora, Melissa era minha sogra, e Red... Red era meu namorado. A palavra ainda soava estranha na minha cabeça, quase surreal. Eu estava feliz, mais feliz do que podia expressar, mas o peso de tudo ainda me deixava inquieta.

Respirei fundo antes de bater na porta. Assim que o fiz, não demorou muito para que Red a abrisse, o sorriso largo no rosto já me acalmando instantaneamente. Ele me puxou para perto, e nossos lábios se tocaram em um beijo curto, suave, mas que fez meu estômago dar voltas. No entanto, o som de alguém limpando a garganta nos fez separar rápido, e, ao olhar para o lado, vi Melissa parada ali.

- Melissa - cumprimentei, estendendo a mão para ela. Queria soar firme, mas havia uma tensão no ar que eu não conseguia ignorar. Não queria julga-la pelo dia em que ela tinha bebido, eu não sou assim.

- Clary - respondeu ela, apertando minha mão, o tom firme, mas com um sorriso curto que não alcançava os olhos. Red, no entanto, manteve a mão firme em minha cintura, como se quisesse me lembrar que eu pertencia ali, ao lado dele e na tentativa de me acalmar, por que eu estava muito nervosa e cossei a sombrancelha.

Melissa nos olhou por um momento antes de soltar, com um tom que eu não consegui interpretar completamente:

- Tenho que dizer, eu já sabia que vocês iam acabar juntos.

Olhei para Red, que apenas sorriu com aquele jeito dele, meio convencido. Ele deu de ombros, fingindo modéstia.

- Ela não resistiu aos meus charmes, mãe. - Sua voz tinha aquele tom brincalhão, mas eu sabia que ele estava sendo sincero, do jeito dele. Ele se inclinou para me dar um beijo na cabeça, um gesto tão carinhoso que fez meu peito apertar.

- Eu achei que tinha sido ao contrário - brinquei, mas senti o calor subir até minhas bochechas enquanto sorria. Red se aproximou mais e sussurrou no meu ouvido, a voz rouca, carregada de intenção:

- E foi muito bom com essa sua carinha de delicinha.

Senti meu corpo inteiro esquentar, e, mesmo com o nervosismo, não consegui evitar a risada. Melissa soltou uma risada breve, e até ele riu de leve, mas eu não deixaria aquilo passar fácil. Com um movimento rápido, dei uma cotovelada em seu abdômen, o que o fez gemer baixinho.

Melissa pareceu engasgar por um segundo, disfarçando com uma tosse, e eu me abaixei para acariciar Thor, o cachorro de Red, que já se aproximava abanando o rabo.

- Meu amigo! - falei, sentindo a cabeça dele roçar na minha perna. Acariciei seu pelo grosso e beijei o topo de sua cabeça, o cheiro familiar me trazendo uma sensação de conforto. Thor colocou a língua para fora, com um olhar que parecia cheio de felicidade canina, e eu me senti um pouco menos tensa. Thor tem esse poder sobre mim.

- Ele sente sua falta - disse Red, observando a cena com um sorriso no rosto. - Acho que nos dois sentimos.

Melissa pigarreou de novo, e, quando olhei para ela, ela parecia pronta para trazer a conversa de volta aos trilhos.

- Vamos comer? - sugeriu, com um tom que beirava o impessoal, mas havia algo nos olhos dela. Uma análise. Ela estava me estudando.

Ainda estava nervosa mas o jantar tinha saído melhor do que eu imaginei e tinha gostado, a Melissa me olhava de forma estranha mas acho quê preocupação de mãe, e me tratou bem.
Red me guiou até o quarto dele, estava em tom sombrio, como tudo ao redor dele. Ele olhou para mim de relance e disse, com aquele tom rouco:

- Vamos assistir a um filme da tarde.

Eu apenas concordei com a cabeça, tentando ignorar o nervosismo que subia pelo meu peito. O quarto estava quase totalmente às escuras, com as cortinas pesadas bloqueando a luz do dia, criando uma atmosfera densa e quase sufocante. Enquanto ele preparava o filme, senti o peso da tensão no ar. Red, ao contrário de mim, parecia completamente à vontade.

Ele se jogou na cama e, sem dizer mais nada, me puxou para junto dele, seu braço firme ao redor dos meus ombros. Meus músculos ficaram tensos por um instante, mas logo cederam ao calor do corpo dele.

- Relaxa - ele murmurou, a voz grave. - Não vai acontecer nada que você não queira.

Assenti, ainda sem saber ao certo o que estava fazendo ali. Aos poucos, a familiaridade da presença de Red foi me acalmando. O som baixo do notebook no colo dele preenchia o silêncio desconfortável, mas, na verdade, minha atenção não estava no filme, e sim nele. Podia sentir o ritmo constante da respiração dele, tão tranquilo, tão oposto à tempestade que ele carregava por dentro.

Eu tentava manter meus olhos abertos, mas o sono foi tomando conta. Meu corpo cedeu, e antes que percebesse, estava adormecendo ao lado dele, envolta em um calor que parecia mais seguro do que deveria.

Quando acordei, o quarto estava silencioso. Senti o corpo de Red ainda próximo ao meu, seu braço firme me segurando. O calor do seu corpo me envolvia, e, por um momento, me permiti desfrutar daquela sensação. Não queria que terminasse eu gostava de ficar assim com ele.

- Eu... preciso ir embora - murmurei, tentando afastar o torpor do sono.

Red resmungou algo inaudível, puxando-me para mais perto, sem a menor intenção de me deixar sair. Sua voz saiu baixa, carregada de cansaço:

- Fica...

- Eu não posso dormir aqui - falei, tentando me desvencilhar suavemente. - Preciso falar com a Paloma ainda, e não quero que sua mãe tenha impressão errada ou mais ainda.

Ele soltou um suspiro irritado e, sem me soltar completamente, murmurou com um tom sombrio:

- Sua madrasta não pode fazer nada para atrapalhar a gente, ninguém pode.

Franzi a testa, um nó se formando em meu estômago. Havia algo nas palavras dele que cutucava algo profundo dentro de mim. Ele tinha razão? Não queria pensar nisso agora. Me movi novamente, dessa vez me afastando por completo dos braços dele, sentindo o frio invadir o espaço onde seu calor antes estava.

- Eu realmente preciso ir - repeti, mais firme dessa vez.

Ele não respondeu. Apenas ficou deitado ali, me observando com os olhos semicerrados, uma mistura de frustração e algo mais que eu não conseguia identificar. O silêncio entre nós era pesado, carregado de tudo o que não estávamos dizendo.

Enquanto me levantava, pude sentir os olhos dele me acompanhando, o ambiente ao redor de nós escuro, a não ser pela pequena luz da janela sufocante. Peguei minhas coisas, tentando me mover rápido, mas não pude evitar lançar um último olhar para ele. Red ainda estava deitado, os olhos fixos em mim, intensos, como se tentasse me prender ali apenas com o olhar.

- Vai logo - ele disse, sua voz um sussurro cheio de algo que eu não conseguia identificar completamente. - Mas você sabe que vai voltar, docinho.

Eu congelei por um segundo, minhas mãos tremendo ligeiramente. Ele tinha razão? Eu ia voltar mais não hoje, talvez amanhã ou depois.

- Tchau Red.

Falei fechando a porta atrás de mim. Tenho que falar com meu pai assim que possível, ele não pode ficar sabendo por outra pessoa e quero melhorar a impressão que Melissa tem de mim, não sei como ainda.

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