35• SEGURANÇA

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Clary Miller

As aulas de balé têm ficado cada vez mais intensas. Tenho me esforçado ao máximo para alcançar a perfeição, mas isso resulta em um cansaço profundo que nunca senti antes. Mal consigo dormir, e as aulas com o Red têm se tornado um desafio, pois minha mente está constantemente distraída, incapaz de se concentrar.

No canil, também tenho dado tudo de mim. O medo de cometer um erro e ser demitida pela Gabriela me assombra. Contudo, estar cercada pelos cachorros é reconfortante de uma forma que eu não esperava. O silêncio deles, a companhia tranquila e a lealdade que transparece em seus olhos me ajudam a encontrar uma paz que o restante do meu mundo não oferece.

Devido a essa rotina intensa, passo pouco tempo com as gêmeas, o que, para ser honesta, me traz um certo alívio. Não faço questão de ficar com elas, e até me sinto feliz em passar mais tempo longe. Entretanto, Paloma ainda parece desconfiada de mim. Só de pensar que ela possa descobrir o que estou tentando esconder me dá um desconforto profundo no estômago, como se algo estivesse muito errado. Um frio percorre minha espinha, deixando-me inquieta.

Enquanto espero o Red voltar para que possamos estudar juntos, observo Thor deitado no chão do quarto. Estou lutando contra o cansaço para não adormecer na cama dele - a última coisa que quero é parecer invasiva. Tento me concentrar na leitura o máximo que posso, mas a narrativa de Zade e Adeline me deixa inquieta. As ações de Zade me parecem tão perturbadoras que um calafrio percorre meu corpo a cada página. Adeline está presa em uma situação sufocante, e a ideia de me imaginar em seu lugar me apavora.

Troco de posição na cama, buscando mais conforto enquanto continuo a leitura. Thor levanta a cabeça e me observa com seus olhos atentos, mas logo volta a deitá-la, como o bom cachorro que é.

Mel, como sempre, me deixou entrar sem questionar. E, como sempre, Red não estava em casa. Às vezes, me pergunto onde ele está e o que anda fazendo. No entanto, logo me lembro de que Red tem uma vida agitada, com corridas de carros e inúmeros outros compromissos. Tento evitar pensar nele, já que minha paixão por ele nunca será correspondida. Não está funcionando muito bem, considerando que ele é o único que me ajuda, mas talvez eu consiga superá-lo... um dia. Amanhã tenho um encontro com Samuel, e ainda não tenho certeza se fiz a escolha certa ao aceitar. Ele parece ser uma boa pessoa, mas não sei se sou capaz de gostar dele.

Tento voltar à leitura, mas a porta do quarto se abre com um rangido leve, e Red entra, exibindo um sorriso largo e contagiante. Ele tira a jaqueta de couro e a joga de forma casual na cadeira ao lado da mesinha. Seus olhos encontram os meus, e o olhar afiado que ele me dirige faz meu corpo estremecer. Sinto minha espinha congelar e meu coração acelerar. Instintivamente, me movo, encostando as costas na cabeceira da cama e ajustando a postura.

- Tá lendo o quê? - pergunta ele, com um tom curioso, enquanto acaricia a cabeça de Thor, que está deitado ao pé da cama. Seu sorriso é breve, mas há um brilho de satisfação nos seus olhos que não consigo identificar. Ele parece mais leve do que na última aula, quando estava tenso e fechado. O desejo de não invadir seu espaço pessoal me impede de perguntar diretamente sobre sua mudança de humor.

- Assombrada Adeline.

- Isso não é um livro para maiores de 18 anos? - questiona ele, se jogando ao meu lado na cama. Embora ele mantenha uma distância respeitosa, a proximidade faz com que eu sinta o perfume dele de forma mais intensa. Mesmo com o desgaste das aulas, a proximidade e a presença de Red ainda me deixam nervosa. Evito olhar nos seus olhos cinzentos, e agora, ao perceber que devo estar com uma expressão de quem foi pega em flagrante, desvio ainda mais o olhar.

- É... a Dani que indicou.

Ele solta uma risada baixa e se posiciona na cabeceira da cama, igual a mim. Fecho o livro rapidamente, sentindo uma onda de constrangimento. A ideia de que ele leia algo tão pessoal e potencialmente embaraçoso é demais para mim.

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