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Enquanto caminhávamos pelos corredores da nave, com o livro de “Larimar” cuidadosamente guardado sob a jaqueta de Dan Heng, eu não conseguia afastar a sensação de que estávamos indo diretamente para uma armadilha. Minha mente vagava entre os fragmentos de informações que encontramos na biblioteca, e a ideia de que uma entidade que transcende realidades pudesse estar envolvida nisso tudo me deixava inquieto.
Sete de Março andava à nossa frente, mais silenciosa do que o normal. Talvez ela também sentisse que havia algo errado. Dan Heng mantinha seu habitual semblante calmo, mas, de vez em quando, lançava olhares furtivos para os cantos do corredor, como se esperasse que alguém surgisse de repente. Então, de uma hora para a outra, as luzes nos corredores piscaram. Eu parei, trocando olhares rápidos com os outros. Em seguida, um som metálico reverberou, como se toda a estrutura da nave estivesse vibrando.

- O que está acontecendo? - Eu murmurei com meu coração disparando.

Dan Heng franziu a testa, olhando em volta com cautela. Antes que qualquer um de nós pudesse dizer algo, a voz suave e sintética do sistema de som da nave ressoou:

- Transmissão ao vivo do salão de conferências. Conexão iniciada.

- O quê? - Sete de Março perguntou dando um passo para trás, surpresa. - Mas por que eles fariam isso?

As paredes de vidro do corredor ao nosso redor se iluminaram, transformando-se em telas gigantes que mostravam a reunião que acontecia no grande salão de conferências, onde Himeko e Welt estavam. Vários dos Corações de Pedra estavam sentados em uma mesa redonda de aparência imponente, discutindo em vozes baixas. Jade, com seu sorriso misterioso, estava ao lado de Topaz e de outros representantes da CPI que eu não reconhecia. Mas, no centro do salão, onde a atenção de todos parecia convergir, havia uma figura que fez meu sangue gelar.
De pé, emanando uma aura de poder, uma entidade se erguia. Não era a mesma forma que eu tinha visto no templo: seu corpo agora era mais sólido, quase humanoide, envolto por luzes iridescentes que mudavam de cor como reflexos de cristais multifacetados. Seus cabelos eram longos e prateados, os olhos profundos e resplandecentes de um azul escuro quase sobrenatural. Ao redor do corpo flutuavam pedaços de pedras translúcidas, cintilando em tons de azul e branco. Não havia dúvidas  era ela. A mesma entidade que me chamou de Stelle. Mas agora, parecia diferente, mais majestosa, como se estivesse assumindo um papel que lhe era familiar. Eu engoli em seco, sentindo o chão tremer levemente sob meus pés.

- Larimar! - Uma voz ecoou no salão de conferências, cheia de surpresa e incredulidade.

Era Aventurine, o mesmo que havia barrado nossa entrada antes. Ele se levantou de um salto, encarando a figura no centro do salão.

- Como você...? - Opal perguntou surpreso.

Os murmúrios entre os Corações de Pedra aumentaram, e eu vi Jade e Topaz trocando olhares confusos. Até mesmo Himeko e Welt, que costumavam manter a compostura, pareciam preocupados.

- Larimar? - Sete de Março sussurrou ao nosso lado, a boca aberta em choque. - Mas esse é o mesmo nome do livro...

- Então é isso... - Dan Heng murmurou, os olhos fixos na transmissão. - Ela não é apenas uma entidade comum. Larimar... ela é conhecida pelos Corações de Pedra.

Eu senti minha respiração ficar presa na garganta enquanto o ambiente ao nosso redor se tornava pesado. Havia algo profundamente errado com essa situação. Se até os líderes da CPI estavam reagindo assim, o que ela poderia ser?

Larimar ou Lágrima do Vazio, como se autodenominou virou-se graciosamente para encarar os presentes. A tensão na sala era palpável. Eu podia ver as expressões fechadas e, em alguns casos, até mesmo o medo nos rostos dos Corações de Pedra.

- Que recepção calorosa... - Ela disse, sua voz ecoando com um timbre quase musical, mas ao mesmo tempo, assustadoramente vazio. - É bom ver que vocês ainda se lembram de mim, mesmo depois de tanto tempo...

- Como você chegou aqui? - Aventurine exigiu, ainda de pé, seu rosto contraído em uma expressão de raiva. - Você não deveria existir mais nessa realidade. O acordo...

- Ah, o acordo... - Larimar riu, um som que soou como vidro quebrando. - Sim, sim. Éramos apenas onze naquela época, não é? Dez Corações de Pedra e eu, a indesejada. A Lágrima que se recusava a ser parte da perfeição inquebrável.

Houve um silêncio mortal na sala, e eu vi Jade apertar os punhos ao lado de Topaz. Até mesmo a agente de nível iniciante que nos guiou estava paralisada, os olhos arregalados de incredulidade.

- O que está acontecendo? - Eu murmurei para Dan Heng, desesperado por uma explicação. - Por que eles estão reagindo assim?

- Parece que Larimar... era um dos Corações de Pedra. - Ele disse, a voz baixa e cheia de tensão. - Ou pelo menos era considerada parte deles, de alguma forma. Mas ela não devia estar aqui. Se o que Aventurine disse for verdade, então...

- Então estamos diante de algo que deveria estar banido... - Sete de Março completou, o rosto pálido.

Na transmissão, Larimar ergueu uma mão, as pedras flutuantes ao redor dela pulsando com luz intensa.

- Mas estou aqui agora. E é hora de ajustarmos as contas, não acham? - Ela disse, um sorriso predatório se formando em seus lábios. - Vamos discutir como vamos redefinir esse universo e todos os seus espelhos fragmentados.

- Isso é um ultraje! - Um dos representantes da CPI gritou, levantando-se abruptamente. - Você não tem direito de interferir.

Antes que ele pudesse terminar, um estalo alto ressoou, e a transmissão foi cortada. As telas ao nosso redor ficaram escuras, deixando-nos sozinhos no corredor, o silêncio pesado como chumbo.

Eu me virei para Dan Heng e Sete de Março, meu coração disparado.

-O que vamos fazer agora?” pergunte

O Garoto do Expresso Astral ( Honkai Starrail )Onde histórias criam vida. Descubra agora