Capítulo 13:
Após o acidente, Charlie e Clara continuaram a caminhar pela estrada, as pernas pesadas e o coração ainda acelerado. A adrenalina começava a se dissipar, deixando uma sensação de cansaço e alívio. Embora soubessem que estavam finalmente livres dos cobradores, o impacto do que havia acontecido ainda pairava sobre eles.
Clara caminhava em silêncio ao lado de Charlie, os pensamentos perdidos na tragédia que havia acabado de se desenrolar. As imagens do carro capotando e dos corpos caídos nos destroços não saíam de sua mente. Ela se sentia aliviada por estar viva, mas uma sombra de culpa se instalava em seu peito, embora soubesse que não havia outra escolha. Por mais que os homens fossem perigosos, ela não desejava a morte de ninguém.
"Charlie..." murmurou ela, quebrando o silêncio. "Você acha que fizemos o certo?"
Ele parou de andar e olhou para ela, a expressão séria, mas com uma suavidade no olhar. "Não foi uma escolha que fizemos. Foi uma situação que nos forçou a agir para sobreviver," disse ele calmamente. "Eles estavam determinados a nos machucar, e isso os levou ao destino que escolheram para si mesmos."
Clara assentiu, mas seu rosto ainda mostrava hesitação. "Eu sei, mas... ainda assim, é difícil aceitar. Sinto que algo em mim mudou esta noite."
"Todos nós mudamos diante do perigo," respondeu Charlie, sem tirar os olhos dela. "Mas o que define quem somos não é o que enfrentamos, e sim o que escolhemos ser depois."
Eles continuaram caminhando por mais alguns minutos até avistarem luzes no horizonte. Um vilarejo aparecia à frente, com poucas casas espalhadas e uma pequena igreja no centro. Charlie reconheceu o lugar; era uma comunidade rural onde havia celebrado missas alguns anos antes.
“Vamos até lá,” sugeriu ele, apontando para as luzes. “Podemos descansar e, quem sabe, encontrar alguém que possa nos ajudar.”
Enquanto seguiam em direção ao vilarejo, Clara sentiu uma nova inquietação crescer dentro dela. Por mais que estivessem longe do perigo físico, havia outra ameaça que pairava no ar: a tensão emocional que se formara entre ela e Charlie. Desde que se conheceram, havia uma conexão inegável, mas o que era um flerte, uma provocação sutil, agora parecia algo mais complexo, mais profundo.
Ao chegarem ao vilarejo, a primeira parada foi a igreja. Ela estava aberta, mas vazia, com os bancos escurecidos pela pouca luz que entrava pelas janelas. Charlie se adiantou e acendeu algumas velas, iluminando o altar. “Espere aqui, vou procurar o pároco. Ele talvez possa nos oferecer abrigo por esta noite,” disse ele.
Clara assentiu e o observou sair. Sentou-se em um dos bancos, o corpo finalmente cedendo ao cansaço. Olhou ao redor, o silêncio da igreja proporcionando um contraste estranho com o caos que havia experimentado poucas horas antes. Sentia-se pequena naquele lugar sagrado, como se algo nela fosse inadequado para estar ali.
Enquanto aguardava, seus pensamentos voltaram a Charlie. Havia algo de irônico na situação; um padre e uma mulher como ela, tão diferentes em seus mundos e valores, unidos por circunstâncias extremas. Ele havia arriscado a própria vida para protegê-la, mesmo quando não havia obrigação alguma de fazê-lo. A devoção que ele demonstrava não era apenas a Deus, mas também às pessoas, e essa nobreza o tornava especial aos seus olhos.
Pouco tempo depois, Charlie voltou, trazendo boas notícias. “O padre local nos ofereceu um quarto no convento próximo. É simples, mas confortável. Podemos descansar lá até decidirmos o que fazer.”
Clara levantou-se e seguiu com ele, o caminho iluminado apenas pelas poucas luzes acesas ao redor do vilarejo. O convento era uma construção modesta, com paredes de pedra cobertas por heras e um jardim bem cuidado na entrada. Uma freira os recebeu e os guiou até o quarto onde poderiam descansar.
“Obrigada,” disse Clara à freira, que apenas sorriu com gentileza e se retirou.
Charlie ajudou Clara a se acomodar e se preparava para sair do quarto quando ela o chamou. “Charlie... você pode ficar só mais um momento?”
Ele parou na porta e virou-se para ela, que estava sentada na cama. “Claro. O que foi?”
“Eu... só queria dizer obrigada,” murmurou ela, os olhos fixos no chão. “Por tudo. Por ter me ajudado, por ter me protegido. Não sei o que teria acontecido comigo se você não estivesse lá.”
Charlie caminhou até ela e sentou-se ao seu lado. “Você não precisa me agradecer,” disse ele, a voz baixa. “Eu fiz o que achava certo. É o que qualquer pessoa de fé deveria fazer.”
“Mas não é só isso,” respondeu ela, finalmente olhando para ele. “Você se arriscou por mim, alguém que nem ao menos conhecia bem. E mesmo quando eu tentei afastá-lo, você não desistiu. Por quê?”
Charlie hesitou, procurando as palavras certas. “Talvez porque... em você, vi alguém que precisava de ajuda, alguém que merecia uma chance de redenção. Todos nós temos nossos erros e pecados, Clara. Mas isso não significa que não merecemos ser salvos.”
Clara sentiu uma lágrima solitária escorrer pelo rosto. As palavras dele a atingiam profundamente, tocando em feridas que ela tentava ignorar. “E se eu não conseguir me redimir?” sussurrou ela. “E se não houver salvação para alguém como eu?”
Charlie a olhou com seriedade, mas com uma ternura que não conseguia esconder. “Não existe um pecado tão grande que Deus não possa perdoar,” disse ele suavemente. “E você não está sozinha nessa jornada.”
Por um momento, o silêncio entre eles foi preenchido por uma compreensão mútua. Charlie, sentindo que era hora de deixá-la descansar, levantou-se. “Você precisa dormir. Amanhã veremos quais serão os próximos passos.”
Clara assentiu, observando enquanto ele saía e fechava a porta suavemente. Sozinha no quarto, ela finalmente permitiu que as lágrimas fluíssem livremente. Não sabia o que o futuro reservava, mas havia algo naquele vilarejo, naquela igreja, e nas palavras de Charlie que plantava uma pequena semente de esperança em seu coração.
Enquanto isso, do lado de fora, Charlie caminhava pelo jardim do convento, os pensamentos pesados. Sabia que sua ligação com Clara havia ultrapassado os limites de um simples dever pastoral. Havia algo mais profundo crescendo dentro dele, algo que ele tentava reprimir a todo custo. Mas a luta entre a fé e o desejo tornava-se cada vez mais intensa.
Charlie suspirou, levantando os olhos para o céu noturno. Ele precisava de orientação, de respostas para um conflito que não era capaz de resolver sozinho. A única certeza que tinha era que, mesmo sem saber como, precisava estar ao lado de Clara. Para protegê-la. Para ajudá-la. E, talvez, para descobrir quem ele realmente era.
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Entre o Céu e o Inferno| FATHER CHARLIE
RomancePadre Charlie vive uma vida devota, dedicada à fé e ao serviço de sua paróquia, até que conhece Clara, uma mulher sedutora e envolvente que desperta nele sentimentos proibidos. Enquanto luta para reprimir o desejo, ele descobre que Clara está envolv...