O Preço do Silêncio

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Capítulo 30:

Após deixar o quarto de Charlie, Clara caminhou pelos corredores silenciosos da igreja, seu coração batendo rápido. Cada passo ecoava pelas paredes de pedra, como se o próprio edifício estivesse testemunhando a intensidade do que acabara de acontecer. Os sentimentos que ela carregava estavam à flor da pele: raiva, frustração, e, acima de tudo, uma paixão contida que ameaçava romper qualquer barreira que ainda restava.

Ela saiu da igreja e sentiu o ar fresco da noite em seu rosto. Parou por um momento na escadaria, olhando para o céu escuro, repleto de estrelas. As palavras de Charlie ainda ecoavam em sua mente: a batalha entre o que ele era e o que desejava ser. Clara sabia que essa luta não era apenas dele; era deles. E se ela estivesse sendo honesta consigo mesma, não tinha certeza de quanto tempo mais poderia suportar viver entre duas realidades – uma em que ele era apenas o padre Charlie, e outra em que ele era o homem que a desejava tanto quanto ela o desejava.

Enquanto isso, Charlie permanecia no quarto, ainda de pé onde ela o havia deixado. O beijo que compartilharam parecia ter quebrado algo dentro dele, algo que ele não sabia se poderia consertar. A devoção que ele sempre teve por sua fé estava agora em conflito direto com a devoção que sentia por Clara, e quanto mais ele tentava se convencer de que poderia ignorar esses sentimentos, mais eles se intensificavam.

Depois de se vestir, ele caminhou até a janela e olhou para fora, vendo Clara se afastar da igreja. Sentiu uma dor aguda no peito, como se estivesse perdendo uma parte de si a cada passo que ela dava. Ele sabia que precisava encontrar uma maneira de conciliar sua vocação com os sentimentos que nutria por ela – mas como? As palavras do bispo ainda estavam frescas em sua mente, lembrando-o do dever que assumira ao se tornar padre. Ele se perguntou se realmente tinha a força para seguir em frente com seu chamado, ou se estava destinado a cair diante dessa tentação.

Nos dias que se seguiram, Charlie manteve a distância de Clara. Ele a via de longe, nos mercados e nas ruas, mas nunca se aproximava. Nas missas, evitava olhar diretamente para ela, mas ainda assim sentia a presença dela em todos os cantos da igreja. As orações noturnas se tornaram momentos de tortura emocional, pois ele não conseguia manter sua mente afastada das memórias do toque dela, da sensação dos lábios dela contra os seus.

Para Clara, o silêncio de Charlie era uma resposta por si só. Cada vez que ela o via, sentia uma mistura de esperança e decepção. Esperança de que ele quebrasse o próprio silêncio e viesse até ela, e decepção por perceber que ele parecia cada vez mais distante, mais preso às suas obrigações religiosas. Ainda assim, algo dentro dela não permitia que desistisse completamente. Ela sabia que a batalha dele não era fácil, mas não tinha certeza de quanto tempo mais conseguiria esperar por uma decisão.

Em uma dessas noites silenciosas, enquanto Clara andava pelo mercado, encontrou-se cara a cara com Ethan. Ele estava com aquele sorriso confiante, o mesmo que sempre usava quando tentava impressioná-la. "Clara, pensei que estivesse evitando todo mundo. Faz tempo que não a vejo."

Ela suspirou, não tinha vontade de se envolver em uma conversa prolongada com ele, mas também não queria ser rude. "Tenho estado ocupada, Ethan. Só isso."

Ethan estreitou os olhos, o sorriso ligeiramente desvanecendo. "O que está acontecendo, Clara? Ainda está pensando no padre? Achei que tivesse superado isso." Ele falou em um tom despreocupado, mas havia uma nota de irritação em sua voz.

"Isso não é da sua conta, Ethan," ela respondeu com firmeza, virando-se para sair. No entanto, ele segurou seu braço suavemente, impedindo-a de ir.

"Clara, eu não quero vê-la desperdiçando sua vida esperando por alguém que nunca vai te dar o que você merece. Eu estou aqui. Estou disposto a oferecer tudo a você," ele insistiu, olhando nos olhos dela. "Por que não me dá uma chance de mostrar que posso ser mais do que uma solução para suas dívidas?"

Ela puxou o braço com cuidado, libertando-se do toque dele. "Não é uma questão de quem pode me dar mais, Ethan. Nunca foi sobre isso. É sobre o que eu sinto, e, francamente, eu ainda não sei o que isso significa."

Ethan pareceu insatisfeito, mas se afastou, permitindo que Clara continuasse seu caminho. Enquanto ela se afastava, sabia que, de alguma forma, a conversa com Ethan tinha cristalizado algo em sua mente. Não importava o quanto ele insistisse ou o que oferecesse, o que ela realmente queria era ouvir Charlie admitir o que sentia por ela.

Naquela noite, enquanto Clara estava em casa, sentada em frente à lareira, um pensamento a consumia: ela precisava de uma resposta, de uma vez por todas. Não podia mais viver na incerteza, esperando que Charlie encontrasse uma forma de conciliar sua fé com os sentimentos por ela. Ela estava disposta a lutar por ele, mas não podia lutar sozinha.

Decidida, ela pegou o telefone e discou o número da igreja. A voz de Charlie atendeu do outro lado, soando cansada, mas surpreendida ao ouvir a voz dela.

"Charlie," ela disse, sua voz firme. "Eu preciso falar com você. Amanhã, durante a noite. Na igreja."

"Clara, eu não sei se isso é uma boa ideia…" ele começou a dizer, mas ela o interrompeu.

"Você me deve uma resposta. Eu estarei lá, e espero que você também esteja."

Ela desligou antes que ele pudesse responder, e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que tinha o controle da situação. No dia seguinte, quando a noite caiu, Clara caminhou até a igreja, determinada a resolver essa questão de uma vez por todas. Ao entrar, encontrou o salão principal vazio e sombrio, iluminado apenas por algumas velas.

Subiu os degraus que levavam aos aposentos de Charlie. Quando chegou à porta do quarto dele, bateu levemente, e a voz dele, do outro lado, permitiu sua entrada.

Charlie estava sentado à mesa, folheando uma bíblia, mas ao vê-la, fechou o livro. "Você veio," ele disse, sem saber se estava mais aliviado ou preocupado.

Clara cruzou os braços e encarou-o. "Sim, eu vim. E quero saber, Charlie. O que vai ser? Vai continuar me afastando ou vai finalmente admitir o que sente?"

Charlie se sentiu surpreso e nervoso por estar recebendo um ultimato e ter que decidir todo seu futuro em alguns segundos. Mas ele sabia o que ele queria, na verdade ele sempre sou, mas nunca teve a coragem para admitir. Ele queria a Clara era ela quem ele queria para sempre.

Charlie levanta de sua mesa e caminha até Clara parando somente a alguns centímetros de distância. "Eu quero você, Eu amo você desde o momento em que te vi, só não tinha coragem de admitir isso porque fui criado desde sempre para ser um padre, para ser puro e honesto. Mas se ELE se Jesus Cristo já se crucificou por mim porque em tenho que me crucificar também. E se eu não dissesse o que sinto por você eu estaria me crucificando."

E com simples e curtas palavras Clara disse: "Isso era tudo o que eu precisava ouvir, agora lide com isso sozinho porque eu não irei mais atrás de você. Nunca mais." E com essas palavras confusas deixando Charlie completamente desnorteado, Clara apenas se virou e saiu do quarto.

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Ué gata agora até eu tô confusa


Entre o Céu e o Inferno| FATHER CHARLIEOnde histórias criam vida. Descubra agora