Reencontros e Novos Caminhos

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Capítulo 21:

Era como se o tempo tivesse parado desde a conversa na igreja. Os dias se arrastavam, e a sensação de vazio que se instalara em mim era difícil de dissipar. Eu esperava que a distância me ajudasse a esquecer, que ao me afastar de Charlie, o coração voltasse ao normal, sem a dor constante de uma rejeição que nunca deveria ter existido. Mas cada esquina da cidade, cada rua que caminhava, trazia uma lembrança dele.

Decidi que era hora de mudar as coisas. Não podia continuar vivendo assim, esperando que a ferida cicatrizasse por si só. Uma velha amiga, Beatriz, estava na cidade para visitar a família e me convidou para um café. Aceitei o convite, precisando desesperadamente de uma distração.

Beatriz e eu tínhamos estudado juntas no colégio, mas nossas vidas seguiram rumos bem diferentes. Ela se mudou para uma cidade maior, onde se formou em Direito e agora trabalhava como advogada. Quando nos reencontramos, senti uma mistura de nostalgia e alívio ao ver que ela ainda era a mesma pessoa alegre e determinada, sempre disposta a falar sem rodeios.

"Você não parece bem, Clara," disse Beatriz logo após nos sentarmos. "Algo aconteceu?"

Suspirei e olhei para a xícara de café em minhas mãos, sem saber por onde começar. "É complicado, Bia. Tem a ver com... uma pessoa. Alguém que não posso ter."

Ela ergueu uma sobrancelha, com aquele olhar curioso que eu conhecia tão bem. "Ah, claro que é complicado. Sempre é, não é?" Beatriz deu uma risada suave, depois continuou. "Então, quem é esse infeliz que não te valoriza?"

Relutei por um momento, mas então as palavras saíram de mim quase sem esforço. Contei-lhe sobre Charlie, sobre a tensão que existia entre nós, os momentos que passamos juntos e, finalmente, a briga na igreja. Beatriz me ouviu em silêncio, mas podia ver em seus olhos que ela estava formulando uma opinião.

"Clara, me parece que você está lidando com alguém que não sabe o que quer, ou pelo menos, não tem coragem de admitir o que quer. E olha, se ele não consegue decidir, talvez seja melhor você decidir por ele. Você precisa seguir em frente." Ela segurou minha mão com firmeza. "Há uma vida inteira esperando por você lá fora. E você não pode ficar presa a um homem que não consegue te escolher."

As palavras dela me tocaram. Eu sabia que Beatriz tinha razão, mas era difícil aceitar que, depois de tanto tempo, eu tinha que realmente deixar Charlie para trás. Mesmo assim, prometi a mim mesma que tentaria.

No entanto, o destino pareceu brincar comigo. Naquela mesma tarde, enquanto eu caminhava para casa, me deparei com uma cena que me fez parar. Havia um grupo de pessoas ao redor de um carro estacionado, onde dois homens discutiam de forma acalorada. Um deles, de aparência robusta e com uma expressão de raiva, parecia familiar. Ele me viu e, por um momento, nossos olhares se cruzaram.

"Clara, é você?" disse ele, a surpresa em sua voz sendo rapidamente substituída por um tom mais sombrio.

Levei alguns segundos para reconhecer quem ele era. Marcos, um velho conhecido dos tempos em que frequentava bares e festas. Na época, ele sempre foi envolvido em negócios suspeitos, um tipo perigoso e que trazia problemas para onde quer que fosse. Aparentemente, isso não havia mudado.

"Sim, sou eu. Marcos? O que você está fazendo aqui?" perguntei, tentando disfarçar o desconforto em minha voz.

Ele se aproximou com um sorriso que não combinava com a frieza em seus olhos. "Ah, só resolvendo alguns assuntos. Mas e você, Clara? Faz tempo que não nos vemos. Ouvi dizer que você anda passando por uns apertos."

Havia algo ameaçador no jeito como ele falou, e isso me deixou inquieta. "Não sei do que está falando," respondi, tentando manter a voz firme.

Ele riu de forma sarcástica. "Claro, claro. Mas me diga, se precisar de ajuda, estou por perto. Só não vá se meter com as pessoas erradas."

Eu me afastei, apressando o passo para sair dali o quanto antes. Mesmo depois de me afastar, a presença de Marcos ainda pairava em minha mente. Eu tinha quase certeza de que ele estava envolvido em algo perigoso, e que, de alguma forma, minha dívida poderia ter chegado aos ouvidos dele.

Nos dias seguintes, fiz o possível para evitar qualquer contato que pudesse me levar a problemas. Mas a realidade das dívidas não desaparecia. Os cobradores continuavam me pressionando, e o encontro com Marcos não ajudou a acalmar meus nervos. Não tinha certeza se ele estava realmente interessado em me ajudar ou se tinha outros planos em mente. Tudo que eu sabia é que precisava encontrar uma saída para essa situação antes que as coisas piorassem.

Foi então que uma ideia surgiu. Havia uma peça de joia, um colar antigo de família, guardado há muitos anos. Era algo de valor, que poderia ajudar a pagar uma parte considerável do que eu devia. No entanto, a decisão de vendê-lo não era fácil, pois tinha um significado sentimental. Eu sabia, porém, que se não tomasse alguma atitude, a situação só pioraria.

Na manhã seguinte, levei o colar a um conhecido antiquário na cidade. Enquanto o avaliador examinava a peça, senti o peso de todas as decisões que havia tomado até ali recaindo sobre mim. Se eu realmente vendesse aquela joia, seria um ponto sem retorno. Um símbolo de que estava disposta a fazer qualquer coisa para me libertar do passado – e talvez até de Charlie.

Quando finalmente me ofereceram uma quantia razoável pelo colar, aceitei o pagamento, sentindo uma mistura de alívio e tristeza. Talvez Beatriz estivesse certa. Talvez fosse a hora de virar a página, de parar de esperar por alguém que não tinha coragem de me amar de verdade.

Naquela noite, voltei para casa mais leve, mas ainda incerta sobre o que o futuro traria. Decidi que, por enquanto, tudo que podia fazer era continuar caminhando, um passo de cada vez, esperando que um dia, as feridas finalmente cicatrizassem e eu pudesse, de fato, seguir em frente.

Mas, no fundo, sabia que essa história com Charlie ainda não havia terminado. Ele estava mais enraizado em mim do que eu gostaria de admitir, e por mais que tentasse me afastar, sentia que nossas vidas ainda estavam entrelaçadas de formas que nenhum de nós podia controlar.

Ainda havia algo por vir.

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É gente 2 dos cobradores morreram mas quem disse que não haviam mais deles.

Enfim tô ansiosa pelo próximo capítulo.

Entre o Céu e o Inferno| FATHER CHARLIEOnde histórias criam vida. Descubra agora