Um Futuro Incerto

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Capítulo 42:

As semanas que se seguiram foram uma verdadeira prova de fogo para Clara e Charlie. A decisão de Charlie de deixar o sacerdócio não só abalou a pequena comunidade, mas também trouxe à tona uma série de ajustes que ele precisaria fazer na sua vida cotidiana. Agora, como um homem comum, Charlie enfrentava a realidade de ter que construir uma nova identidade para si mesmo. Ele já não era o Padre Charlie; era apenas Charlie, um homem em busca de um futuro ao lado da mulher que amava.

Clara o apoiava em cada passo, mas havia momentos em que ela se perguntava se ele realmente estava preparado para essa mudança. A fé de Charlie ainda era uma parte essencial de quem ele era, mas ele já não tinha o papel oficial de guia espiritual. Encontrar um novo propósito se tornava uma luta diária. A sensação de vazio deixada pela ausência das rotinas da igreja, dos conselhos espirituais e das confissões dos fiéis parecia assombrá-lo.

Numa tarde fria de outono, Clara decidiu que eles precisavam de um tempo longe de tudo. “Vamos fazer uma viagem,” sugeriu ela, enquanto os dois estavam sentados na pequena sala do apartamento que Charlie havia alugado depois de deixar a paróquia. Era um espaço simples, mas acolhedor. O apartamento ficava no segundo andar de um prédio antigo, com paredes de tijolos expostos e janelas que permitiam que o sol da tarde banhasse o ambiente com uma luz dourada.

Charlie olhou para ela com uma expressão de curiosidade. “Uma viagem? Para onde?”

“Para um lugar tranquilo, onde possamos nos reconectar e esquecer de toda essa pressão. Apenas nós dois,” respondeu Clara, com um brilho de entusiasmo nos olhos. “Acho que seria bom para você… e para nós.”

Ele ponderou por um momento, e então assentiu. “Você tem razão. Acho que uma mudança de ares pode nos fazer bem.”

Eles decidiram viajar para uma pequena cabana nas montanhas, um lugar que Clara conhecia desde a infância. Era afastado o suficiente para oferecer a paz que Charlie precisava, mas com uma vista deslumbrante que prometia renovar suas energias. A viagem levou algumas horas de carro, e durante todo o trajeto, o silêncio entre os dois era confortável. Clara dirigia enquanto Charlie olhava a paisagem passando pela janela. Às vezes, ela pegava a mão dele, apertando-a gentilmente, como se quisesse lembrá-lo de que estava ali, sempre ao lado dele.

Quando chegaram à cabana, foram recebidos pelo ar fresco e revigorante das montanhas. A cabana era rústica, mas acolhedora, com uma lareira que Clara logo acendeu para aquecer o ambiente. Enquanto o fogo crepitava, Charlie se aproximou de uma estante de livros velhos que havia ali. Pegou um volume de poesias e começou a folhear, mas sua mente parecia estar distante.

Clara se aproximou e o abraçou por trás, envolvendo-o em seus braços. “Você está bem?”

Ele suspirou e fechou o livro. “Estou. Apenas pensando em como tudo mudou tão rápido. Às vezes, sinto que ainda estou tentando alcançar tudo o que aconteceu.”

“É natural, Charlie. Você passou a vida inteira seguindo um caminho, e agora está aprendendo a trilhar outro,” disse Clara, deslizando as mãos pelo peito dele. “Mas você não está sozinho.”

Ele se virou para ela, segurando-a pelos ombros e olhando-a nos olhos. “Eu sei. E sou grato por ter você ao meu lado. Mas, às vezes, me pergunto se realmente estou pronto para essa nova vida.”

Clara o puxou para mais perto, os rostos quase se tocando. “Você é mais forte do que pensa. E essa é a sua chance de descobrir quem você realmente é, além de ser um padre. Você pode ser quem quiser.”

Charlie sentiu uma onda de emoção e puxou Clara para um abraço apertado. Ficaram assim por alguns minutos, apenas sentindo o calor do outro. Naquela noite, sentaram-se juntos diante da lareira e jantaram uma refeição simples que Clara havia preparado. Conversaram por horas, compartilhando histórias do passado e sonhos para o futuro. Pela primeira vez em semanas, Charlie se sentiu verdadeiramente à vontade.

No dia seguinte, decidiram fazer uma trilha pelas montanhas. O caminho era íngreme, mas a vista lá de cima prometia recompensar o esforço. Enquanto subiam, Charlie começou a se abrir mais sobre seus sentimentos. “Às vezes, sinto uma culpa enorme por ter deixado para trás o que jurei dedicar minha vida. Mas também sei que seguir em frente era o que eu precisava. Só não quero que as pessoas pensem que foi uma decisão fácil.”

“Quem realmente se importa com você entenderá isso,” disse Clara, com firmeza. “E aqueles que não entenderem… bom, talvez nunca fossem entender, não importa o que você fizesse.”

Quando chegaram ao topo da trilha, o horizonte se abriu diante deles, revelando um mar de montanhas e vales. Charlie olhou para aquela vastidão e respirou fundo, sentindo-se pequeno diante da imensidão do mundo, mas também sentindo uma nova esperança crescendo dentro de si. Clara o observava com um sorriso tranquilo, vendo nos olhos dele algo que parecia ser uma aceitação gradual de sua nova realidade.

Ali, no topo do mundo, Charlie segurou a mão de Clara e a puxou para perto, seus lábios se encontrando em um beijo suave. Não havia palavras naquele momento, apenas a certeza de que estavam juntos nessa jornada, enfrentando os desafios e as dúvidas. E juntos, encontrariam uma maneira de fazer essa nova vida dar certo.

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Entre o Céu e o Inferno| FATHER CHARLIEOnde histórias criam vida. Descubra agora