No Limite da Fé e do Desejo

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Capítulo 27:

Era uma noite escura e sem estrelas. A cidade parecia envolta em uma quietude tensa, como se o próprio ar estivesse esperando por algo grandioso e terrível para acontecer. Clara caminhava pelas ruas desertas, seu coração batendo forte no peito. O encontro com Ethan naquela tarde havia deixado sua mente em turbilhão. Por mais que tentasse se convencer de que o futuro seguro e promissor que ele oferecia era o certo, algo dentro dela clamava pelo impossível – por Charlie.

Ela sabia onde ele estaria. Todas as noites, depois de suas orações, Charlie permanecia na igreja, um ritual que ele seguia com devoção inabalável. Clara tinha plena consciência de que estava caminhando para o centro do conflito de sua própria alma, mas precisava ver Charlie uma última vez, precisava ouvir dele que não havia esperança para o que sentiam.

Ao chegar à igreja, o pesado portal de madeira estava entreaberto, e a luz bruxuleante das velas lançava sombras oscilantes nas paredes de pedra. O som de passos ecoava pelo corredor, e Clara seguiu o som até o altar. Charlie estava ajoelhado diante do crucifixo, os olhos fechados, murmurando palavras que ela não conseguia discernir. Ele parecia tão distante, como se estivesse em outra dimensão, lutando contra algo invisível.

“Charlie,” ela chamou, a voz carregada de urgência.

Ele se virou lentamente, o rosto marcado pelo cansaço e pela dor interna. “Clara… você não deveria estar aqui.”

“Eu não aguento mais,” ela disse, dando alguns passos para mais perto. “Eu não posso mais viver com essa dúvida, com esse sentimento que nos consome. Eu preciso que você me diga, uma vez por todas, se há alguma esperança para nós.”

Charlie se levantou, o conflito interno refletido em seus olhos. “Clara, eu já lhe disse… eu estou tentando encontrar um caminho, mas… há promessas que fiz que não posso simplesmente abandonar. Se eu escolher você, estarei quebrando tudo o que sou.”

Ela se aproximou ainda mais, os olhos faiscando de determinação. “Então, me responda com sinceridade, Charlie: o que é mais importante para você? A sua fé, ou o que sente por mim?”

Ele não respondeu de imediato. A tensão no ar era palpável, e o silêncio que se seguiu parecia durar uma eternidade. Finalmente, Charlie balançou a cabeça, a voz quebrada quando falou. “Clara, eu te amo… mas eu sou um homem de Deus. Não posso simplesmente jogar fora tudo pelo que me dediquei por tantos anos.”

“Então, você escolhe fugir,” Clara disse, a voz impregnada de tristeza e desapontamento. “Escolhe viver uma vida de mentiras, escondendo o que sente, em vez de enfrentar o que está bem diante de você.”

“Isso não é fugir,” ele respondeu, um pouco mais firme. “É escolher algo maior do que eu.”

“Algo maior que você?” Clara riu, um riso amargo. “E o amor? Não é maior que tudo? Você acha que Deus nos faria sentir algo tão forte apenas para nos punir por isso?”

Antes que Charlie pudesse responder, a porta da igreja se abriu com um estrondo, e Ethan surgiu. Havia uma determinação fria em seu olhar, e a tensão no ar ficou ainda mais densa. “O que está acontecendo aqui?” ele perguntou, a voz baixa e controlada. “Clara, por que você está aqui a essa hora?”

Charlie e Clara trocaram um olhar, e ela deu um passo para trás, percebendo que havia ultrapassado uma linha tênue. “Ethan, isso não é da sua conta,” ela começou a dizer, mas ele a interrompeu.

“É claro que é da minha conta,” ele insistiu, os olhos se voltando para Charlie com uma intensidade ameaçadora. “Ela é minha noiva agora.”

Clara sentiu o chão se abrir sob seus pés. “O quê?”

Entre o Céu e o Inferno| FATHER CHARLIEOnde histórias criam vida. Descubra agora