O Perigo a Porta

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Capítulo 11:

Nos dias seguintes, Charlie procurou Clara com frequência para saber se havia mais notícias ou ameaças, mas ela parecia cada vez mais distante e evasiva. Até que, em uma tarde sombria, ela apareceu na paróquia novamente, mas desta vez acompanhada por hematomas visíveis no braço e um corte leve no lábio.

Ao vê-la, a preocupação de Charlie se transformou em um misto de raiva e impotência. “Clara, quem fez isso com você?” perguntou, sentindo o sangue ferver em suas veias.

“Os homens das dívidas,” respondeu ela, a voz trêmula. “Eles vieram me lembrar que o prazo está se esgotando.”

Charlie sentiu um ímpeto irresistível de fazer justiça com as próprias mãos, mas sabia que isso só pioraria as coisas. “Precisamos ir à polícia,” sugeriu ele, mas Clara balançou a cabeça enfaticamente.

“Não adianta. Essas pessoas sabem como escapar da lei,” disse ela, com os olhos brilhando de frustração. “E quanto mais eu resistir, mais eles vão me pressionar.”

O padre se sentiu encurralado, dividido entre o desejo de proteger Clara e a incapacidade de lidar com um mundo tão distante de sua realidade clerical. “Então, o que podemos fazer?” perguntou, a voz baixa e carregada de dor.

Clara suspirou e olhou para ele com uma intensidade que ele conhecia bem. “Eu vou conseguir o dinheiro, de alguma forma. Preciso resolver isso sozinha.”

Charlie sacudiu a cabeça. “Não vou deixar você enfrentar isso sozinha,” declarou. “Eu vou encontrar uma maneira de ajudá-la. Talvez possamos conseguir algum apoio da comunidade ou...”

Antes que ele pudesse continuar, o som de pneus derrapando do lado de fora interrompeu suas palavras. Um carro preto parou bruscamente em frente à paróquia, e dois homens desceram com expressões sombrias. Charlie sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

“Padre, afaste-se,” disse um dos homens, com um tom de voz ameaçador. “Essa é uma questão entre nós e a senhorita.”

Charlie se colocou entre Clara e os homens, o olhar fixo. “Vocês não vão levá-la,” afirmou, com uma firmeza que surpreendeu até ele mesmo.

Os homens trocaram olhares e um deles deu um passo à frente, com um sorriso frio. “Padre, isso não é assunto seu. Não queremos problemas, apenas o que é nosso.”

Charlie sentiu a presença de Clara atrás dele e soube que não poderia recuar. Ele precisava agir, mas não sabia como se livraria da situação.

Os homens começaram a cercar Charlie e Clara, mas então um som alto, como um sino ecoando da torre da igreja, fez os agressores hesitarem por um momento. Foi o suficiente para que Charlie tomasse uma decisão. Ele puxou Clara pela mão e os dois correram para dentro da paróquia, trancando a porta pesada de madeira atrás deles.

Com a respiração ofegante, ele olhou para ela. “Precisamos de ajuda. Vou chamar alguém da cidade,” disse, mas Clara segurou sua mão com força.

“Eles vão esperar do lado de fora,” murmurou. “Nós estamos encurralados.”

Charlie olhou em volta, tentando pensar em uma solução. Havia uma saída pelos fundos que levava aos campos atrás da igreja. “Vamos por aqui,” disse ele, guiando-a apressadamente até a porta traseira.

Eles conseguiram escapar para a noite, se esgueirando pela escuridão até encontrarem abrigo em uma casa abandonada perto do rio. Ali, finalmente, puderam parar para recuperar o fôlego. Clara olhou para ele com gratidão e tristeza. “Você não precisava ter se envolvido tanto, Charlie. Mas... obrigada.”

Ele a encarou com um olhar profundo. “Eu me envolvi porque... eu não conseguiria viver comigo mesmo se algo acontecesse a você. Minha fé me ensina a amar e proteger. E você... é parte disso.”

Naquele momento, enquanto o silêncio caía ao redor deles, Charlie percebeu que, embora a situação de Clara com os credores ainda não estivesse completamente resolvida, ele havia encontrado algo mais importante: a verdade sobre os sentimentos que vinha lutando para negar. Talvez o verdadeiro teste de sua fé não fosse apenas resistir à tentação, mas aprender a amar com sacrifício, mesmo quando isso significava enfrentar o lado mais sombrio do mundo.

Entre o Céu e o Inferno| FATHER CHARLIEOnde histórias criam vida. Descubra agora