Mudança de Papéis

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Capítulo 31:

Depois da conversa na igreja, Charlie finalmente se deu conta de que não podia mais continuar ignorando o que sentia. Cada oração que fazia parecia vazia sem o pensamento de Clara ao fundo, cada sermão proferido soava falso quando ele próprio não conseguia seguir os votos que um dia jurou com tanto fervor. Ele precisava dela, e estava disposto a enfrentar tudo para provar isso. Mas havia uma questão que ele não previu: Clara não estava mais disposta a aceitar tão facilmente suas investidas.

Nos dias seguintes, Charlie fez de tudo para se aproximar de Clara. Ele a procurava nos lugares onde sabia que a encontraria: no mercado, na pequena padaria local, e até no salão onde ela costumava arrumar os cabelos. A cada vez que a encontrava, tentava se desculpar, explicar o quanto havia sido difícil para ele admitir seus sentimentos. Ele estava disposto a se humilhar, se preciso fosse. Mas, em todas as ocasiões, ela permanecia firme.

"Então agora você resolveu me querer, padre?" ela ironizava, sua voz soando com uma leve provocação. "Depois de me fazer correr atrás de você por tanto tempo, de me deixar sofrer e me afastar tantas vezes? Agora que eu decidi seguir em frente, você acha que pode simplesmente aparecer e eu vou cair nos seus braços?"

Charlie tentava manter o controle, mas as palavras dela sempre o acertavam com força. "Clara, eu fui um tolo," ele admitiu em uma tarde, após encontrá-la na entrada da igreja. "Eu estava confuso, perdido entre meus votos e o que eu sentia por você. Mas agora eu sei o que quero."

Ela ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços, desafiando-o com o olhar. "E o que você quer, padre? Quer desafiar a Deus? Romper seus votos por minha causa? Eu não sou uma mulher fácil, Charlie. Eu não vou me entregar a você só porque você decidiu que agora está pronto."

"Não é isso, Clara," ele insistiu, dando um passo à frente, se aproximando. "Eu estou disposto a lutar por você, a mostrar que posso ser o homem que você merece. Mesmo que isso signifique desafiar tudo o que eu acreditava. Eu não sou apenas o padre Charlie – sou um homem. Um homem que a deseja."

Ela riu, mas não havia alegria em seu riso, apenas um toque de ironia. "Então lute, padre. Se você acha que pode me conquistar, mostre o que tem a oferecer. Mas não espere que eu vá facilitar para você. Não agora."

Nos dias que se seguiram, Charlie manteve a promessa. Ele começou a aparecer em eventos locais onde sabia que Clara estaria, aproximando-se dela de formas sutis, mas carregadas de intenção. Se ela estava no mercado, ele se oferecia para carregar as sacolas. Se ela estava em um evento comunitário, ele se aproximava e conversava com ela como se fossem velhos amigos, ignorando os olhares curiosos dos outros.

Em uma tarde, ele a surpreendeu em uma caminhada nos arredores da cidade. Clara estava caminhando pelo parque, e Charlie apareceu de repente, caminhando ao lado dela, seus passos se ajustando ao ritmo dos dela. "É uma tarde bonita, não acha?" ele disse, com uma leveza na voz que não condizia com a tensão que carregava no peito.

Clara o olhou de soslaio, não desacelerando o passo. "Você não se cansa, padre? Me seguir por toda a parte... parece que agora você não me deixa em paz."

"Eu disse que lutaria por você," ele respondeu, segurando seu olhar com uma intensidade que a fez estremecer. "Eu não vou desistir, Clara."

"Mesmo que eu nunca vá ceder? Mesmo que eu sempre o provoque, sem nunca me entregar?" ela desafiou, parando de repente, ficando a poucos centímetros dele, perto o suficiente para que ele pudesse sentir o perfume dela.

"Mesmo assim," ele sussurrou, sua voz grave, os olhos fixos nos dela. "Você me ensinou a desejar mais do que eu pensei que poderia. Eu vou provar que estou à altura de você."

Clara não se afastou, mas também não se moveu para reduzir a distância entre eles. Ela permaneceu ali, firme, deixando que a tensão aumentasse. "Então continue tentando, padre. Mas saiba que, agora, você terá que lutar mais do que nunca."

Charlie se afastou com um sorriso no rosto, um sorriso que Clara nunca havia visto nele antes – um sorriso de alguém que estava determinado a não desistir. Para ele, isso era apenas o começo de sua jornada para conquistá-la. E por mais que ela o desafiasse, ele estava pronto para enfrentar qualquer obstáculo que Clara colocasse em seu caminho.

Naquela noite, enquanto Clara estava em seu quarto, refletindo sobre o dia, ela não conseguia parar de pensar em Charlie. Ele não era mais o homem que a afastava, que a rejeitava em nome de sua vocação. Ele estava mudando, estava se tornando alguém disposto a tudo para ter ela em sua vida. Ela sentiu uma pontada de satisfação por vê-lo agora do outro lado, correndo atrás dela, como ela havia feito antes.

No entanto, havia uma parte dela que ainda resistia, uma parte que queria ver até onde ele iria, até onde ele estava disposto a se provar. Ela sabia que, por mais que o provocasse, havia algo muito verdadeiro em seus sentimentos, algo que não poderia ser ignorado para sempre. Mas, por ora, deixaria que ele continuasse a lutar.


Entre o Céu e o Inferno| FATHER CHARLIEOnde histórias criam vida. Descubra agora