---Capítulo 39:
A notícia da visita do bispo chegou a Charlie como um sopro gélido em plena primavera. Ele havia passado os últimos dias em uma constante luta interna, mas não esperava que a situação fosse se agravar tão rapidamente. Naquela manhã, a chegada do bispo na igreja de sua pequena cidade trouxe consigo um ar pesado de julgamento.
Quando o bispo entrou em seu escritório, a expressão séria em seu rosto deixou claro que não havia tempo para formalidades. Ele se sentou à frente de Charlie, olhando diretamente em seus olhos, como se estivesse tentando ler sua alma.
"Padre Charlie," começou o bispo, com um tom grave. "Recebi diversas reclamações de fiéis nas últimas semanas. Dizem que você tem estado próximo demais de uma mulher. Centenas de reclamações, na verdade. Pessoas da comunidade estão preocupadas, questionando sua conduta como sacerdote."
Charlie sentiu o peso das palavras do bispo caírem sobre seus ombros. Ele sabia que, em algum momento, teria de enfrentar as consequências por permitir que seus sentimentos por Clara se tornassem evidentes. No entanto, ouvir o bispo verbalizar as suspeitas que muitos já tinham só tornava a situação mais real e inevitável.
"Senhor, eu..." Charlie começou a falar, mas o bispo o interrompeu com um gesto firme.
"Você sabe quais são suas obrigações como sacerdote. Fez um juramento, um compromisso sagrado com Deus e com a Igreja. Precisa decidir, Charlie," disse o bispo, a voz séria e penetrante. "Ou você se afasta dessa mulher e continua a servir como padre, ou então renuncia aos seus votos e abandona o sacerdócio. Não há meio-termo."
O ar parecia ter fugido do ambiente. Charlie sentiu o peso de cada uma daquelas palavras, como se carregasse o mundo em seus ombros. Tudo que ele conhecia, sua vida inteira dedicada à fé e à igreja, estava sendo colocado em xeque naquele momento. Havia apenas duas opções, e ambas eram dolorosas.
Ele permaneceu em silêncio por um longo momento, e o bispo o observava com uma expressão que misturava desapontamento e piedade. "Pense bem, filho," acrescentou o bispo. "Seus votos são eternos, mas se escolher deixá-los, essa decisão também será definitiva."
Depois que o bispo se retirou, Charlie ficou sozinho no escritório, envolto por uma tempestade de emoções. Por anos, ele vivera de acordo com os princípios e deveres de sua vocação. Agora, tudo aquilo estava sendo desafiado por algo que jamais previra: o amor que sentia por Clara.
---
Charlie tomou a decisão naquela mesma noite. Ele sabia que não poderia continuar a mentir para si mesmo nem para as pessoas ao seu redor. Os sentimentos que nutria por Clara não desapareceriam, e tentar ignorá-los apenas traria mais sofrimento para ambos. Na manhã seguinte, procurou o bispo e, com uma serenidade dolorosa, declarou sua decisão.
"Eu vou renunciar aos meus votos," disse Charlie, com a voz firme, mas os olhos carregados de emoções. "Já não posso mais fingir que meu coração está voltado apenas para a fé. Sinto muito, mas escolhi seguir outro caminho."
O bispo o ouviu em silêncio, acenando com um gesto solene. "É uma escolha difícil, Charlie," respondeu ele, "mas se acredita que está fazendo a coisa certa, siga seu caminho com honra."
Com a decisão tomada, o processo para oficializar sua saída do sacerdócio foi rápido e eficiente, mas o peso de suas ações permaneceu em seu coração. Abandonar a vida de padre era mais do que apenas deixar um emprego; era deixar para trás uma parte de si mesmo. Ele havia se dedicado por tanto tempo ao sacerdócio que, agora, o mundo parecia desconhecido e incerto.
No entanto, a sensação de liberdade que acompanhava essa incerteza também lhe dava uma nova esperança. Pela primeira vez em anos, Charlie sentia que estava sendo fiel ao que realmente sentia, mesmo que isso significasse renunciar a tudo que conhecia. E havia apenas uma pessoa com quem ele queria compartilhar essa nova etapa.
---
Naquela mesma noite, Charlie ligou para Clara. A voz dela ao telefone carregava uma mistura de surpresa e curiosidade. "Charlie?" ela respondeu. "Não esperava que você me ligasse."
"Clara, preciso te ver. Venha jantar comigo hoje à noite," ele disse, com a voz calma, mas firme. "Tem algo que preciso te contar."
Mais tarde, no restaurante, Clara chegou vestida elegantemente, com um vestido azul escuro que contrastava com o brilho de seus olhos. Quando ela avistou Charlie, notou algo diferente nele. Talvez fosse o modo como ele a olhava, com uma intensidade que não se via antes.
Eles se sentaram, e o jantar começou com uma conversa casual, quase como se nenhum dos dois quisesse abordar o verdadeiro motivo de estarem ali. Mas Charlie sabia que não podia adiar por muito tempo.
Quando os pratos foram retirados, ele olhou nos olhos dela e tomou coragem para falar. "Clara, eu abandonei o sacerdócio," disse ele, com uma calma que surpreendeu até a si mesmo. "Renunciei aos meus votos, e fiz isso por você."
Clara ficou paralisada por um instante, sem saber o que dizer. Ela havia sonhado com aquele momento, mas ao mesmo tempo, não sabia se estava pronta para aceitar o que aquilo significava. "Charlie, você... fez isso por mim?" ela murmurou, sua voz oscilando entre a surpresa e a emoção.
"Sim," respondeu ele. "Você me fez ver que eu não podia continuar vivendo uma vida dividida. Eu tinha que escolher. E escolhi você."
O silêncio entre os dois era palpável, cheio de significados não ditos, mas, ao mesmo tempo, clareava as intenções de Charlie. Ele havia dado um passo decisivo, e agora, a vida que se desenrolava diante dele era uma página em branco.
---
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre o Céu e o Inferno| FATHER CHARLIE
RomancePadre Charlie vive uma vida devota, dedicada à fé e ao serviço de sua paróquia, até que conhece Clara, uma mulher sedutora e envolvente que desperta nele sentimentos proibidos. Enquanto luta para reprimir o desejo, ele descobre que Clara está envolv...