A Tentação no Altar

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Capítulo 15:

O domingo chegou com a igreja cheia, como de costume. Os fiéis enchiam os bancos, com rostos reverentes voltados para o altar. O padre Charlie se preparava para iniciar a missa, como fazia toda semana, com uma voz firme, mas serena, que transmitia paz e conforto para aqueles que o ouviam. Ele havia planejado um sermão sobre o perdão, um tema recorrente e, naquele momento, mais necessário do que nunca, tanto para ele quanto para Clara.

Logo após o início da cerimônia, porém, Charlie percebeu algo fora do comum. Clara entrou pela porta principal, caminhando lentamente pelo corredor central, capturando a atenção de todos ao redor. Ela estava diferente, vestida com roupas provocativas: uma saia justa que deixava pouco para a imaginação, uma blusa decotada de tecido delicado, e lábios pintados de um vermelho vivo que chamava atenção sob a luz suave dos vitrais. Seus saltos faziam um leve eco no chão de pedra enquanto ela avançava, e os olhos curiosos dos presentes seguiam cada passo.

Ela se sentou em um dos bancos do meio, o corpo relaxado, mas os olhos fixos no altar, onde Charlie tentava manter a compostura. Sentia o calor subir pelo rosto, como se o sangue estivesse a ferver sob a pele. Sabia que todos notavam a presença dela e, mais ainda, a maneira como ela parecia desafiadora, quase desrespeitosa, naquele ambiente sagrado. Mesmo assim, ele lutava para continuar a missa sem tropeçar nas palavras, evitando olhar diretamente para Clara, embora sentisse o peso de seu olhar sobre ele.

Durante o sermão, a situação se tornava mais difícil. Clara se mexia no banco, cruzando e descruzando as pernas de maneira sugestiva, jogando os cabelos para trás e deixando que seus olhares demorassem um pouco mais sobre Charlie. A cada provocação sutil, ele sentia o próprio corpo reagir de uma forma que o fazia se envergonhar. Era como se Clara estivesse o testando, medindo sua resistência e observando o quanto ele poderia suportar.

Quando finalmente a missa terminou, os fiéis começaram a se dispersar lentamente. Alguns trocaram cumprimentos com o padre antes de partir, e Charlie manteve a postura, mas por dentro, sentia-se em desordem. Quando o último paroquiano saiu, ele percebeu que Clara ainda estava lá, sentada calmamente em um dos bancos da frente, como se esperasse por ele.

“Clara,” disse ele, aproximando-se com cautela. “O que você está fazendo?”

Ela se levantou lentamente, caminhando em sua direção com um sorriso malicioso nos lábios. “O que foi, padre? Parece nervoso,” respondeu ela, a voz carregada de provocação.

“Isso... não foi apropriado,” ele sussurrou, olhando ao redor para se certificar de que estavam realmente sozinhos. “Você sabe que este é um lugar sagrado.”

Clara riu suavemente, parando bem na frente dele. “E quem disse que eu não respeito este lugar? Eu só... queria estar aqui para ouvir suas palavras. Afinal, você prega sobre o perdão, sobre o amor... por que não posso vir ouvir, mesmo sendo quem eu sou?”

Charlie tentou se afastar, mas Clara se moveu mais rápido. Antes que ele pudesse reagir, ela o puxou pelo colarinho da batina e, em um movimento ágil, capturou os lábios dele com os seus. O choque da ação fez com que ele hesitasse por um segundo, mas o desejo reprimido, aquele sentimento que ele tentava reprimir há tanto tempo, emergiu à superfície com força. Por um instante, ele correspondeu ao beijo, sentindo o gosto doce e proibido do batom vermelho que agora manchava seus lábios.

Mas o momento de fraqueza foi breve. Charlie rapidamente recobrou a consciência e se afastou, os olhos arregalados e a respiração ofegante. “Isso não está certo, Clara!” exclamou, o tom severo. “Não podemos... eu não posso.”

Clara sorriu levemente, passando os dedos pelos próprios lábios, ainda sentindo o calor do breve encontro. “Você pode, sim. A questão é... se vai escolher fazer isso.” Ela o olhou com intensidade, os olhos escuros refletindo uma mistura de desafio e desejo. “Não finja que não sente nada. Não depois disso.”

Ele deu um passo para trás, lutando para recuperar o controle de suas emoções. “Eu sou um padre. Fiz votos. Preciso respeitar isso.”

“E eu sou uma mulher,” replicou Clara, sem perder a firmeza na voz. “Cometo meus pecados, sim, mas isso não muda o fato de que eu sou real... que meus sentimentos são reais.” Ela o fitava com uma franqueza que o desarmava. “Você não é feito só de votos, Charlie. É um homem também, e sabe disso.”

O conflito interno que ele sentia era evidente. As palavras dela o atingiam com força, revelando uma verdade que ele não queria admitir. “Você não entende...” murmurou ele, desviando o olhar. “Meu dever é com Deus, com os fiéis... eu não posso ceder aos meus desejos.”

Clara se aproximou novamente, mas dessa vez não para provocá-lo. Sua expressão suavizou-se, e sua voz saiu quase como um sussurro. “Então, por que você está lutando tanto?” perguntou ela. “Se não há nada, por que o seu coração parece estar tão dividido?”

Ele não tinha uma resposta. Sentia-se despedaçado entre os sentimentos que surgiam incontroláveis e a obrigação de manter a pureza de seu chamado religioso. Charlie se virou para o altar, como se esperasse que de lá viesse alguma orientação divina. “Eu preciso que você vá,” disse ele, finalmente. “Eu preciso de tempo... para entender isso.”

Clara o observou por alguns segundos, avaliando o homem à sua frente, aquele que ela sabia estar em conflito entre sua fé e os sentimentos que surgiam por ela. Sem dizer mais nada, ela se afastou e caminhou até a porta da igreja, deixando-o sozinho no santuário. Ao sair, fechou a porta suavemente atrás de si, mas o som ecoou como um trovão aos ouvidos de Charlie.

Agora, no vazio da igreja, ele caiu de joelhos diante do altar. Sentia o peso do pecado iminente em cada fibra de seu ser. Era como se todo o seu ser clamasse por redenção, ao mesmo tempo em que o desejo por Clara o puxava para longe da luz. Enquanto as palavras de uma oração vinham aos seus lábios, o rosto dela permanecia gravado em sua mente, e ele sabia que, apesar de sua resistência, o pacto de silêncio que tinham feito estava irrevogavelmente quebrado.

Entre o Céu e o Inferno| FATHER CHARLIEOnde histórias criam vida. Descubra agora