18 - Farda

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— Não devia beber tanto — Helena diz, com aquele tom de quem sempre quer ter razão, enquanto eu levo o copo de chope à boca

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— Não devia beber tanto — Helena diz, com aquele tom de quem sempre quer ter razão, enquanto eu levo o copo de chope à boca.

— A alcoólatra aqui é você — rebato, e ela revira os olhos, claramente irritada.

— Eu tenho consciência disso. E você? — ela retruca, estreitando os olhos em minha direção.

Estávamos presos naquele maldito bar havia horas, a música era terrível, e o ambiente pior ainda. Eu já estava exausto, tudo o que queria era um pouco de paz e, quem sabe, uma cama para descansar. Vasculhamos a cidade o dia todo, e agora, além do cansaço, ainda tinha que aturar Helena, com aquele vestido curto azul, me atormentando com sua superioridade moral.

Ela olhava ao redor com desconfiança, talvez à procura de alguma pista, mas eu já estava no meu segundo copo de chope. A verdade é que não iríamos encontrar nada ali, nada além de dor de cabeça. Estava cada vez mais claro para mim que essa investigação era uma perda de tempo. Maria Luiza já deveria estar longe, se é que ainda estava viva.

— Isso aqui é um buraco, Helena. Não vamos encontrar nada. — Bato o copo com força na mesa, já sem paciência para continuar.

Ela me olha, cruzando os braços com aquele ar que me faz querer revirar os olhos. A frustração é evidente em seu rosto, mas, ao contrário de mim, ela ainda parece ter esperanças.

— Não temos outra escolha — ela diz com firmeza, sem desviar o olhar. — Se ela esteve aqui, alguém sabe de algo. Só precisamos da pessoa certa.

Suspiro, passando a mão pelo rosto, e olho em volta. O lugar estava lotado de figuras suspeitas, cada uma mais sombria que a outra. Era difícil imaginar que alguém ali abriria a boca para ajudar. Aquele era o tipo de ambiente onde segredos permanecem enterrados — ou vendidos ao maior lance.

— Vamos torcer para que essa pessoa apareça logo, porque eu já perdi a paciência — digo, recostando-me na cadeira, o gosto amargo da cerveja ainda na boca, esperando que a noite termine logo.

— Você não é um poço de paciência, pelo jeito — Helena diz, e eu me viro, tentando segurar o riso.

— Disse a investigadora que quebrou o nariz do assistente depois de deixar um suspeito fugir — retruco, tomando mais um gole do chope. Ela me lança um olhar afiado.

— Melhor isso do que subir o morro e torturar traficante, não acha? — Helena rebate com aquele tom ácido, sabendo exatamente como me provocar.

Ela conhecia meus métodos, e embora fossem eficazes, eram, no mínimo, questionáveis. 

Helena sempre jogava isso na minha cara, como se quisesse me lembrar de que, no fim das contas, éramos mais parecidos do que gostaríamos de admitir. 

Era uma dança constante entre nós, um jogo de provocações e moralidade. O problema é que, apesar das alfinetadas, eu sabia que ela estava certa, e ela sabia que eu sabia.

Destinos Cruzados | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora