24 - Meu Joaquim

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Caio desliza o documento pela minha mesa com um gesto quase automático, e o encaro com olhos semicerrados, tentando decifrar suas intenções

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Caio desliza o documento pela minha mesa com um gesto quase automático, e o encaro com olhos semicerrados, tentando decifrar suas intenções. Ele evita meu olhar e enfia as mãos nos bolsos, soltando um suspiro como se carregasse o peso do mundo.

— Sinto muito — diz ele, em voz baixa.

Reviro os olhos e deixo o envelope entre os dedos, batucando no papel de maneira impaciente. Caio sabe o quanto isso me afeta, e ele é totalmente ciente do que significa trazer algo assim para mim.

— Era nosso filho? — pergunto, tentando não deixar minha raiva transparecer, mas é impossível esconder a acidez no tom.

Ele confirma com um leve aceno de cabeça, os olhos ainda fixos no chão. Respiro fundo, lutando contra o impulso de explodir.

— Da próxima vez que fizer essa merda, eu juro que te mato — digo, a voz baixa, mas carregada de ameaça.

Caio parece aceitar a bronca em silêncio, apenas concordando com outro aceno. Sem mais uma palavra, ele se vira e sai, deixando a porta entreaberta e me encarregando de lidar com o peso do que acabou de deixar na minha mesa.

Carlos, que havia acompanhado a cena de perto, se aproxima lentamente, com um olhar curioso. Ele se senta na beirada da mesa, lançando-me um olhar de soslaio antes de puxar o envelope da minha mão.

— O que é isso? — pergunta, enquanto abre o lacre e começa a folhear o conteúdo.

— A análise do legista sobre o corpo do Joaquim — explico, tentando manter a voz firme apesar da tensão.

Carlos lê as primeiras linhas e aperta os lábios, absorvendo a informação com um semblante pesado. Ele ergue os olhos e confirma o inevitável

— Então era ele mesmo...

O ar parece ficar mais pesado na sala, e eu me permito soltar um longo suspiro de alívio, misturado com uma ponta de amargura.

— Ainda bem... — murmuro, sabendo que essa confirmação traz alívio, mas não elimina o horror do que aconteceu.

Carlos assente, mas continua com o olhar fixo no documento, como se algo ainda estivesse incomodando-o.

— O que foi? — pergunto, percebendo sua hesitação.

Ele coloca o relatório sobre a mesa e desliza os dedos pela beirada do papel, perdido em pensamentos.

— Nada...  — diz ele, com uma expressão de desgosto.

Nesse momento, Eliza entra na sala, segurando uma nova pasta de documentos e lançando um olhar cauteloso entre mim e Carlos, percebendo o clima sombrio.

— Eliza, como está o processo de identificação do esperma encontrado? — pergunto, tentando focar no que importa.

Ela solta um suspiro frustrado antes de responder.

Destinos Cruzados | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora