Enquanto Rafaela me dá um abraço apertado em seu pai, ela parece frágil e os olhos marejados.
Nascimento, a abraça com um cuidado, como se ele pudesse deixa-la a salvo de qualquer dor do mundo. Ele baixa a cabeça e deixa um beijo no topo da cabeça dela.
Observar os dois juntos faz com que eu me sinta uma pessoa horrível, presa entre sentimentos opostos.
Uma chama se acende dentro de mim, algo pequeno e incômodo, uma pequena esperança que eu preferia não sentir.
A dor, qual já me acostumei, é quase uma velha conhecida. Ela está comigo há tanto tempo que não saberia mais viver sem ela, como se fosse uma cicatriz invisível.
Mas agora, a ideia de ser mãe de Rafaela, de ter uma filha que está ali, viva e bem, tão próxima e ao mesmo tempo tão distante, é um turbilhão.
Imaginar que ela possa ser minha... o desespero de nunca ter estado em sua vida toma conta de mim.
Penso nos momentos que perdi: não a segurei em meus braços quando nasceu, não estive lá para suas primeiras palavras, para os primeiros passos, para o primeiro dia de aula, para o primeiro amor, para quando ela virou mocinha.
Eu não fiz parte de nada disso.
Olho para Roberto, o pai que, até onde sei, esteve presente para Rafaela. A ideia de arrancar isso dele me deixa dilacerada, porque mesmo que ela seja minha filha, ele é o pai que ela conhece.
Minha mente está em uma confusão constante desde segunda-feira, e a cada noite, o pensamento de afogar na bebida me parece tentador.
Sinto as mãos de Susi passarem em minhas costas. Ela nunca acreditou nessa história, e me diz abertamente que isso não passa de mais uma manipulação de Caio, uma tentativa desesperada de me ter novamente.
A enfermeira aparece, sua voz firme, mas calma, chamando nossos nomes.
— Caio Castro, Helena Franco, Roberto e Rafaela Nascimento — anuncia. Troco um breve olhar com Roberto, que parece tão incerto quanto eu, e seguimos os quatro até a enfermeira.
Atravessamos as portas duplas e entramos em uma sala branca e silenciosa, quase fria. A enfermeira se dirige a Rafaela com um tom suave.
— Rafaela Nascimento, pode se sentar aqui — instrui, enquanto Rafa solta um suspiro profundo, visivelmente apreensiva.
— Vai doer? — pergunta Rafaela, franzindo o cenho.
— Não, querida, é indolor — responde a enfermeira, sorrindo. — Só vou passar esse cotonete na parte interna da sua bochecha. Tudo bem? — Rafaela acena, relaxando um pouco.
Um a um, nos sentamos para o procedimento, e a enfermeira colhe as amostras de cada um de nós, guardando-as em recipientes devidamente etiquetados. Quando termina, nos encara com um sorriso encorajador.
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Destinos Cruzados | Capitão Nascimento
FanficNa caótica e perigosa cidade do Rio de Janeiro, dois mundos colidem quando uma investigadora da Polícia Federal Helena é designada para liderar uma força-tarefa ao lado do Capitão Roberto Nascimento, do BOPE, para encontrar Maria Luiza Chagas, uma...