03 - Mais uma vez

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Doze horas antes da audiência de paternidade

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Doze horas antes da audiência de paternidade

— Pai... — ouço a voz suave de Rafaela, e levanto o olhar.

Ela está encostada na porta do quarto, os olhos curiosos e uma mecha de cabelo empurrada para trás da orelha.

— Oi, ratinha — respondo, fechando o álbum de fotos que estava em minhas mãos.

Rafaela caminha até mim e se senta ao meu lado na cama, pegando o álbum que eu segurava. Eram fotos do meu casamento com Rosane, momentos congelados em uma felicidade que parecia inquebrável.

— A mamãe estava tão linda aqui — comenta, passando os dedos pelo vestido de Rosane na foto.

O sorriso dela na imagem era radiante, uma lembrança de um dos melhores dias da minha vida.

Rosane sempre foi uma mulher incrível, generosa e paciente, suportando mais do que eu jamais deveria ter permitido.

— Ela já estava grávida nessa época? — a voz de Rafaela preenche o quarto, trazendo um calor familiar.

— Não, ela engravidou um ano depois — explico, puxando outro álbum, um que guardava as memórias de Rosane durante a gravidez. — Olha aqui, era um barrigão! — digo, com um sorriso enquanto mostro uma foto.

Rafaela sorri de volta, os olhos brilhando de curiosidade e afeto. Ela folheia as páginas lentamente, apreciando cada detalhe.

— Você não estava lá quando eu nasci? — Rafaela pergunta, a voz baixa enquanto observa uma foto de sua mãe a segurando nos braços pela primeira vez.

Suspiro, lembrando da mistura de emoções daquele dia.

— Não, meu amor. Eu estava em uma operação — explico, a culpa voltando por um instante.

Ela acena levemente, compreendendo, os olhos ainda fixos nas imagens. Aponto para outra foto, um pouco desgastada pelo tempo.

— Mas cheguei logo depois... aqui. — Mostro a imagem em que apareço do outro lado do vidro da maternidade, ainda com a farda preta.

Meu olhar estava fixo nela, uma expressão de alívio e amor estampada em meu rosto. Rafaela sorri, os dedos passando pela foto como se tentasse alcançar aquele momento.

— Pai... como o bebê da Helena morreu? — A pergunta de Rafaela me pega de surpresa. Encaro seu rosto, buscando as palavras certas.

— Você não é filha dela, Rafa — respondo, mas ela revira os olhos com frustração.

— Você não respondeu minha pergunta — insiste, a voz firme. Solto um suspiro pesado, sentindo o peso daquela lembrança.

— Helena disse que foi uma infecção — murmuro, e Rafaela apenas acena, absorvendo a resposta. — Filha, a sua mãe... ela não fez nada disso... — Tento explicar, mas ela me interrompe.

Destinos Cruzados | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora