Capítulo 26

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Christopher Uckermann

Eu não sei o que eu devo ter parecido para ela. Um animal faminto, ou um brutamonte sem nenhum escrúpulo. Talvez as duas coisas, claro que na visão deturpada que ela tem sobre mim. Mas a grande verdade é que eu estava realmente muito faminto, eu diria que estava quase salivando de desejo. E ela parecia tão feroz, tão esfomeada por meu destempero de homem das cavernas. No entanto, eu me deixei levar por minha necessidade tempestuosa.

Sou um Mestre, conheço a natureza feminina, não deveria ter me deixado levar por meu desejo. Eu sabia que se a tocasse, ela corresponderia a qualquer ordem que eu desse. Tocá-la, era minha arma secreta para acalmá-la, eu sei disso. Seu corpo e mente responde naturalmente aos meus lábios, meus dedos, minha respiração, minha voz... é instintivo.

Hipnotizante.

Basta apenas um comando do meu corpo para ela ficar quieta. Contudo, eu abusei deste controle, o usei para fazê-la se entregar, isso deveria partir dela, não do meu desejo.

Ela tinha que vir para mim, sem meu comando.

Só que me esqueci, naquele momento eu esqueci, de que se tratava da Dulce. A mulher que tirou o chão que piso, as paredes que me sustentam. Ela me cegou.

Eu tinha que esperar, tinha de deixá-la dizer as palavras.

Eu me enganei, pela primeira vez me enganei com meu julgamento. Talvez tenha me envolvido demais, mas como não me envolver? Esses últimos dias, o espaço que havia entre nós, foi se diminuindo, algo bem confortável se emoldurou ao nosso redor. Eu pensei que ela estava avançando lentamente, pensei que ela já estava entendendo as regras do jogo, e assim, seguindo para próxima fase.

No entanto, ela não estava. Ela continua a mesma mulher boca-suja, tempestuosa, inconsequente e teimosa. Mesmo sabendo as regras, não mede as consequências, arriscando-se a perder tudo o que já tinha conquistado.

Mas, eu já sabia disso. Só não quis aceitar. Ela é um vaso quebrado em pequenos fragmentos, e mesmo que cole seus cacos, as rachaduras permanecerão lembrando o quão danificada está. Essa é a verdade.

Ela nunca irá mudar. Nunca irá me respeitar, e nunca irá aceitar o que sou e quem eu sou.

E sabendo disso é chegada a hora de desistir. Deixá-la ir.

Não posso ficar com uma pessoa que não respeita meu modo de vida, minhas escolhas. Sequer se dar ao trabalho de escutar, e comparar as duas versões. Ela julga e condena.

Por isso, assim que saí do seu quarto, e a vi chorando, gritando consigo mesma, e me xingando de todos os nomes feios que pudessem existir na face da terra, eu entendi, que não tinha como termos qualquer envolvimento. A Dulce me odiava, mesmo tentando não odiar, ela não me via como um homem, ela me via como um monstro, o monstro que comprou sua dívida e que para quitá-la ela teria que se submeter, e isso para ela, é a morte, não tinha como continuar com isso, o jogo acabou, e sinceramente eu não sei quem saiu ganhador. Então, resolvi juntar todas as minhas coisas e voltar para meu apartamento, não fazia mais sentido ficar aqui. Só vim para casa de praia por ela, então, como não existe mais "ela", o melhor a fazer era partir de vez. E agora estou a esperando para nosso último café da manhã. Eu poderia perfeitamente mandar o Castro vir em meu lugar, mas por questão de caráter, estou aqui, para entregar seus pertences e a rescisão do contrato.

É, Castro tinha razão, teria sido melhor eu tê-la deixado em paz.

Estou mexendo a colher dentro da xícara do café quando a porta se abre. Ela entra. E pela primeira vez a vejo como uma submissa. Está de cílios abaixados, mãos para trás, anda lentamente. Se ela sabia como se comportar, por que não fez antes? Ela vem em minha direção, mesmo vendo que hoje os nossos lugares estão longe um do outro, ela sequer olha para a cadeira que foi puxada para que se sente.

JOGO DA SUBMISSÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora