Capítulo 4

43 6 0
                                    

Dulce Maria

Foi um longo caminho da maldita mansão até meu esconderijo, o tal do Martins acatou as ordens do seu "senhor" aquele cretino espancador de mulheres. Mesmo eu gritando, xingando-o, chutando o banco e ameaçando passar para o banco da frente e puxar o freio de mão, o cachorrinho do tal Sr. U fez o que lhe foi mandado. E assim que chegamos, fiquei até com medo quando o carrão todo preto, com vidros escuros, que provavelmente é blindado, parou em frente à casa onde me escondo, os vizinhos não são muito confiáveis, moramos em uma espécie de vila, e para meu alívio nossa casa é a primeira, a fachada fica de frente para rua principal.

Meus pensamentos gritam para o Martins não descer e fazer o que eu imaginava que faria.

Abrir a porta para eu descer.

Ele o faz. E quase pulo do veículo direto para dentro de casa.

Já estou com a mão na maçaneta quando Martins limpou a garganta e eu me viro para saber o que ele quer me dizer.

— O patrão é um homem honrado, ele pode ser exigente, arrogante, mas é um ótimo patrão e muito bom para seus funcionários... — Ele se virou e seguiu para entrar no automóvel, no entanto, antes, voltou a me encarar. — Aconselho que dá próxima vez que for falar mal de uma pessoa na frente de alguém, tente conhecê-la primeiro, não julgue alguém por suas crenças, ou seguimentos, as pessoas são o que são, não podemos mudar ninguém, mas podemos mudar a nós mesmos, ser tolerante é o mínimo que podemos ser, pense nisso.

Filho da mãe!

Tal patrão, tal motorista.

Penso em responder à altura, mas o senhor alto e magro entrou no carro e assumiu o volante, mal pisco meus olhos e ele já estava dando a volta no quarteirão para seguir seu caminho.

Sem pensar em mais nada, entro em casa e jogo minha bolsa no pequeno sofá de dois lugares, onde há propositalmente uma manta vermelha o cobrindo para encobrir um rasgão no tecido. Livro-me dos sapatos altos e ao tirá-lo sinto um imenso alívio.

Puta merda! Eu sabia que você faria um estrago enorme nos meus dedos. — Pego meu pé esquerdo e o massageio. — merda! — Uma bolha enorme surgiu entre um dedão e o outro dedo, nem chinelos eu poderia calçar por alguns dias.

Entro no pequeno banheiro e dispo minha roupa enquanto abro o registro do chuveiro.

— Oh, merda! — solto um grito quando deixo meu pé fodido debaixo da água gelada. Arde como o fogo do inferno. — Por que eu me deixei levar pelo sentimentalismo? Era só ter dito não, e nada disso teria acontecido. Não teria conhecido aquele ser insuportável e arrogante do caralho, aquele... aquele depravado.

Se alguém me perguntar quando eu comecei a odiar os homens que acham que podem submeter mulheres. Que se acham no direito de levantar a voz, ou até mesmo a mão para uma mulher. Homens que se aproveitam da vulnerabilidade feminina em prol de suas próprias vontades e desejos? Eu não diria, tenho medo até de lembrar.

Podem me chamar de boba, ingênua, ou até mesmo infantil, mas eu sei o que vi e o que passei, foram noites e noites com pesadelos horríveis e o medo do escuro até hoje ainda me aterroriza. Hoje eu sei que "ele" não pode me machucar, talvez até já esteja morto, assim espero, mas para uma criança de oito anos que assistiu toda aquela violência, ela nunca mais será normal, e eu não fui uma criança normal.

O meu exemplo de homem foi meu pai, por isso luto por ele. Papai é o único homem que vale a pena acreditar, os demais, é preciso ter cuidado, é preciso observar, geralmente eles se escondem em sorrisos cativantes, voz macia e gestos amáveis.

JOGO DA SUBMISSÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora